3 - As Crônicas de Nárnia

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Peço a pizza enquanto dou uma arrumada rápida no apartamento, mesmo sabendo que talvez Vitor não veja a bagunça. Afinal de contas, ainda estamos no escuro.

Pedi uma pizza. Meia rúcula com tomate seco, meu sabor favorito, e meia pepperoni em homenagem a minha tia. Espero que Vitor goste.

Vou para o banheiro, iluminado com a luz do meu celular, e dou uma leve arrumada no meu cabelo. Merda, justo hoje não estou nos meus melhores dias no que se trata de aparência. Agradeço mentalmente por ainda estarmos no escuro.

Ouço alguém bater na porta. Talvez agora seja o assassino que veio me matar e me salvar de jantar com meu vizinho irritantemente gato.

Abro a porta e Vitor entra com um sorriso no rosto.

— Desculpa a demora, foi difícil encontrar as velas nesse escuro.

Eu pego o refrigerante da mão dele e coloco na bancada da cozinha.

— Pode colocar as velas ali. — Aponto para a mesinha de centro da sala.

Vitor começa a acendê-las com um fósforo. Me pergunto se eu sou a única pessoa no mundo que não tem um estoque de velas em casa para situações como essa.

— Eu amo cheiro de vela, tem cheiro de bolo de aniversário — comento.

— Caramba, eu achei que era só eu que pensava isso.

Rimos do meu comentário sem graça. Eu me sento no sofá e ele se senta do meu lado. Estou em pânico.

— Você pediu pizza do que? — Vitor pergunta.

— Pedi meu sabor favorito e um sabor genérico, não sei de qual você gosta.

— Eu amo pizza de pepperoni, muito genérico né?

— Deu sorte, pedi meia pepperoni e meia rúcula com tomate seco.

— Que horror, esse é seu sabor favorito? — Vitor ri. Ele está realmente rindo de mim?

— Enfim, você não precisa ligar pra mais ninguém pra avisar sobre o apagão? Ainda tenho bateria.

— Não precisa não, obrigado. Eu moro sozinho, não preciso avisar ninguém.

— Ah sim, tudo bem então. — Guardo o celular no bolso para economizar bateria.

— Agora que eu percebi, a gente vai dividir esse apartamento escuro e uma pizza, mas eu nem sei o seu nome! Desculpa não perguntar antes.

— Me chamo Edmundo — respondo, tímido. Não sou o maior fã do meu nome.

— Eu amo as Crônicas de Nárnia! Adorei seu nome.

— Eu acho que Pedro seria um nome bem melhor pra mim.

— O Pedro era superestimado, todos sabemos que a Lúcia era a melhor personagem.

Começo a me animar com o fato de que talvez ele tem um bom gosto para livros, mesmo que ele só tenha visto o filme.

Meu telefone toca. O entregador de pizza chegou.

— Deixa que eu busco, ele precisa me ver pra dar o desconto. — Vitor se levanta e pega sua carteira no bolso da calça.

Entrego minha parte do dinheiro e ele sai. Eu deveria economizar minha bateria, mas não consigo me conter. Envio uma mensagem para Karina.

Vou resumir. Teve um apagão no prédio e agora estou preso aqui no escuro com o meu vizinho gato, que a propósito se chama Vitor, a gente pediu pizza. Depois te conto detalhes, beijos, te amo.

Karina responde na mesma hora com várias mensagens surtando e me perguntando se eu tenho camisinha. Prefiro ignorar.

— Voltei! — Vitor abre a porta, animado.

— Uma pergunta, como o entregador te entregou a pizza? — pergunto, realmente curioso.

— Me passou pelo vão que tem debaixo do portão. Nunca achei que viveria uma situação dessa. — Ele ri e coloca a pizza em cima da mesa.

Com toda a certeza do mundo, eu também não.

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