8 - Panquecas

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A semana passa voando. Claro que meus afazeres continuam os mesmos. Acordar, cuidar da minha prima, deixar a casa arrumada, fazer o almoço, estudar no tempo livre, ir pra faculdade, voltar da faculdade e dormir.

Porém, agora tenho outro compromisso durante a semana : Encontrar Vitor no corredor.

Por conta da correria do dia a dia, temos pouco tempo para nos vermos. A solução que encontramos foram nossos encontros rápidos no corredor do prédio.

De manhã, vejo Vitor antes dele ir para faculdade. Na hora do almoço, nos encontramos no corredor assim que ele chega. Nos encontramos de tarde, quando estou indo para faculdade e ele indo para o trabalho. Não conseguimos fazer muito além de matar a saudade, é o que temos, e não posso reclamar.

Amanhã, sábado, vai ser o dia oficial do nosso segundo encontro, mas não quero ficar essa noite sem ver ele.

Decido esperar no ponto de encontro de sempre. Vejo Vitor subir as escadas devagar, provavelmente cansado dessa semana exaustiva. Ele me vê e um sorriso ilumina seu rosto.

— Oi. — Ele me dá um selinho rápido. — Não sabia que a gente ia se encontrar aqui hoje.

— Resolvi te fazer uma surpresa — digo. — Eu sei que você tá cansado, mas...

Vitor não me deixa terminar e me abraça com força. Sinto ele soltar todo o seu peso sobre mim. Ele está visivelmente cansado.

— Achei que o nosso encontro fosse amanhã — Vitor diz baixinho em meu ouvido.

— Vai ser amanhã — respondo. — Quer dormir comigo hoje?

— Não precisa perguntar duas vezes. Vou passar em casa pegar uma troca de roupa, quer vir?

— Claro.

Nosso abraço se desfaz, mas nossas mãos não se soltam. Ele usa a mão livre para destrancar a porta e nós entramos.

O apartamento do Vitor é exatamente igual ao meu, se fosse visto de um espelho. A estrutura é idêntica, porém inversa. Apesar da leve diferença, me sinto em casa.

Vitor me leva ao seu quarto, e assim como o resto do apartamento, o lugar clama por organização. Claro que ele tinha que ser bagunceiro. Afinal de contas, ninguém é perfeito.

— Não repara na bagunça — ele diz, com timidez.

— Relaxa, quando a gente tiver mais intimidade eu te critico, mas ainda não — respondo.

— Quer dizer que pra você eu ainda sou perfeito? — Vitor brinca.

— Se um dia alguém atingir a perfeição, tenho certeza de que esse alguém vai ser você.

Ele pega seu pijama, seu travesseiro e sua escova de dentes.

— Tudo bem pra sua tia eu dormir lá? — ele pergunta.

— Eu já falei de você pra ela, inclusive ela te acha lindo e já está shippando a gente. Ela tá doida pra te conhecer.

Ele sorri com a informação e saímos do seu apartamento. Abro a porta do meu silenciosamente e caminhamos de fininho até o meu quarto.

— Seu quarto é bem organizado — ele comenta.

— Nunca ouviu dizer que os opostos se atraem? — respondo.

— Você é a primeira pessoa que me faz acreditar nesse ditado. — Vitor sorri e me beija.

Nos revezamos no banheiro para trocar de roupa e escovar os dentes. Agradeço mentalmente por Vitor também ser um pouco tímido, porque não estou pronto para ficar sem roupa na frente dele.

Nos deitamos na minha cama e ficamos mais colados do que eu imaginava. Minha cama de solteiro estremece, como se pedisse socorro por ter que aguentar o peso de mais de uma pessoa.

— Eu posso dormir no chão — ele diz baixinho.

Coloco o dedo indicador em seus lábios como se dissesse " cale a boca" e encosto a cabeça em seu peito. Seu cheiro de Old Spice e sabonete me faz arrepiar enquanto ele passa a mão pelo meu cabelo.

Dormimos ali, sem conversar nem beijar, apenas aconchegados no calor um do outro. Eu tenho certeza de que nunca dormi tão bem em toda a minha vida.

💡

Como de costume em um sábado, acordo mais tarde do que deveria. A cama está vazia, o que faz meu corpo gelar por inteiro. Aonde o Vitor foi?

Levanto, vou direto para cozinha e encontro Vitor sentado na mesa com a minha prima e minha tia na cozinha, provavelmente fazendo alguma coisa gostosa que ela só faz quando temos visitas. Ela me vê primeiro.

— Bom dia bela adormecida — ela diz. — Fiz panquecas.

— Bom dia amor. — ELE NUNCA ME CHAMOU DE AMOR. SOCORRO. — Desculpa não te acordar, você tava tão capotado que eu fiquei com dó de acordar.

Dou um beijinho na Laurinha e vou até a cozinha fazer o mesmo com a minha tia. Pego um prato de panquecas para mim e me sento ao lado de Vitor, que também recebe um beijinho.

— E aí, os pombinhos vão sair hoje? — minha tia pergunta mesmo sabendo a resposta. Pedi ideias para ela de onde levar Vitor para o segundo encontro.

— Hoje é nosso segundo encontro oficial — Vitor responde. — Precisa ser mais incrível que uma caminhada romântica na praia.

Eu respondo com uma risada nervosa.

— Se precisarem de alguma coisa é só pedir — ela termina de fazer as panquecas e se senta na mesa com a gente.

Pego meu celular e tento ficar fora do campo de visão do Vitor para mandar uma mensagem para Karina.

Tudo certo pra hoje?

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