Me sinto mal de pedir ajuda da Karina para organizar o encontro. Sinto como se estivesse trapaceando. O Vitor organizou tudo sozinho, mas eu não tenho experiencia nenhuma com encontros. Melhor pedir uma ajudinha do que planejar um encontro ruim, não é?
Vitor foi até o seu apartamento trocar de roupa. Tento não acabar com as minhas unhas, mas é impossível não roê-las . Estou uma pilha de nervos.
Vamos de Uber até o parque da cidade, vamos fazer um picnic cujo cardápio foi planejado pela Karina, que vai encontrar a gente lá e discretamente me entregar a cesta enquanto eu discretamente dou o dinheiro para ela, já que foi ela mesma quem comprou tudo. Me sinto como um traficante de drogas e tenho medo do Vitor descobrir, mas agora não tem para onde fugir. Vai dar certo.
Repasso as etapas do plano mentalmente quando recebo uma mensagem do Vitor.
Oi amor, vamos ter que adiar nosso encontro, me desculpa : (
Eu pergunto o motivo, totalmente chateado com a situação, e ele me responde :
Meus pais ligaram agora pra avisar que estão vindo pra cá
Sinto um calafrio viajar por todo meu corpo.
Me desculpa mesmo, mais tarde a gente conversa. Te amo <3
Não sei se fico feliz porque essa foi a primeira vez que ele diz que me ama, ou fico preocupado. Ele nunca me disse nada sobre os pais além de que eles são fanáticos religiosos e bem preconceituosos. Eles não sabem que o Vitor é gay, nem que a gente está junto.
Eu respondo :
Eu te amo também, boa sorte <3
Aviso a Karina que o encontro foi cancelado e volto para o meu apartamento. Quero bater em sua porta, dar um abraço apertado para acalmá-lo, mas sei que ele quer ficar sozinho.
💡
O tempo passa muito devagar, Vitor me manda mais algumas mensagens dizendo que está tudo bem e que seus pais vão embora na segunda de tarde. Também me disse que está com saudades e que se sente muito mal por cancelar o segundo encontro. Por último, ele disse que me ama.
Meu desejo é atravessar o corredor, arrombar a porta do apartamento e gritar EU AMO O SEU FILHO E ACHO QUE ELE É O AMOR DA MINHA VIDA e beijá-lo na frente de seus pais, mas sei que isso não seria justo com o Vitor.
Sair do armário é uma experiencia particular e pessoal para cada um, não posso forçar a barra. Ele se assume no tempo dele, quando ele quiser.
Sinto um aperto no coração de saudade e de preocupação. Esse aperto me faz companhia durante todo o final de semana.
Na segunda, tento realizar minhas atividades diárias como se nada tivesse acontecido, mas é difícil pensar em outra coisa. Chego na faculdade já querendo ir embora, porque sei que quando chegar em casa os pais do Vitor não vão mais estar lá.
Nem minha aula favorita a semana consegue prender minha total atenção. De cinco em cinco minutos eu olho para o celular esperando receber uma mensagem dizendo "Eles foram embora" ou algo do tipo.
Saio da sala frustrado por não receber essa mensagem e sigo meu caminho até o refeitório, para me encontrar com a Karina. Quando a encontro na mesa em frente a cantina, vejo que ela não está sozinha.
Vitor está sentado ao lado dela, chorando. Quando me vê, ele tenta enxugar as lágrimas e me lança um sorriso triste. Caminho até a mesa e me sento ao seu lado. Dou um abraço forte e ele permite que o choro volte.
Não sei quanto tempo ficamos ali. Karina se levanta e nos da privacidade, provavelmente ela já sabe o que aconteceu.
Não pergunto nada . Deixo Vitor a vontade para falar quando estiver pronto, mas ele não diz nada. Ele se levanta, segura minha mão com força e seguimos todo o caminho até o prédio em silêncio.
Quando chegamos no corredor que separa nossos apartamentos, ele finalmente me conta o que aconteceu.
— Contei pros meus pais que sou gay e contei que estou apaixonado por você. Eles cuspiram homofobia e preconceito em mim, me xingaram e meu pai disse que nunca mais quer me ver. Minha mãe disse que não vai mais me ajudar a bancar o apartamento, então os dois foram embora.
Eu não sei o que dizer. Quando tento formar algum consolo, ele me interrompe.
— Não precisa falar nada. Não quero que fale, okay? Eu não vou virar hétero nem vou terminar com você. Eles fizeram a escolha deles e agora eu estou fazendo a minha.
Eu o abraço, com mais força do que nunca. Ele encosta a cabeça em meu ombro e volta a chorar.
Sabemos que não vai ser fácil. Sabemos que vamos enfrentar muitos problemas juntos e que esse é apenas um deles. Também sabemos que, o universo nos juntou da forma mais aleatória possível por algum motivo, e nós não vamos desistir dessa história de amor. Não vamos desistir sem lutar.
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Me Encontre no Corredor
RomanceEdmundo, um menino entediado com a vida, fica preso em seu prédio com seu vizinho Vitor durante um apagão. Com música, pizza, filtro solar e amigos, os garotos vão descobrir que as vezes o universo é criativo na hora de contar uma história de amor. ...