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O terraço era realmente incrível!

Era possível ver a imensidão do mar por cima dos poucos prédios à frente, assim como o Pão de Açúcar e o Cristo Redentor. O lugar também era iluminado com luzes redondas, pequenas, de tom amarelado e contava com alguns sofás de couro, daqueles que são mais caros do que você pode pagar.

Um casal sentado em um dos sofás pareceu se incomodar com a minha presença e voltaram para a festa que acontecia nos andares inferiores. Antes de saírem, notei que a garota ajeitava a saia e decidi não sentar, sabe-se lá o que acontecia ali.

Aproximei-me do parapeito, fiquei observando o Cristo Redentor iluminado e me perguntando o porquê de nunca ter ido lá. Talvez por questões financeiras... Pontos turísticos geralmente são caros; ou talvez por falta de tempo, é bem difícil arrumar tempo vago quando você estuda praticamente em período integral e ainda precisa fazer alguns bicos para sobreviver.

— Incrível, não é mesmo? — A voz pouco familiar atrás de mim fez com que eu virasse para olhar e, ao notar quem era, voltei a olhar para frente. — A vista lá de cima é maravilhosa também — ele falou, apontando para o enorme homem de braços abertos e claramente tentando puxar assunto.

— Tenho certeza que sim — respondi o mais fria possível.

Não que eu fosse mal educada,  não era. Mas o cara deveria estar lá em baixo, dançando ou beijando minha melhor amiga e não ali em cima tentando puxar assunto com alguém que nem deveria ter saído de casa.

— Nunca esteve lá?

— Não, não tenho tempo — dei de ombros.

— Podíamos ir, qualquer dia desses — ele comentou, deixando o convite no ar. — Festas assim não te agradam?

Assim? — questionei retoricamente. — Não precisa ser rico para gostar de festa de rico.

— Não foi o que eu quis dizer — ele se antecipou, antes que minhas palavras se tornassem mais ríspidas do que já estavam sendo. — Notei que você veio pra cá sozinha, imaginei que talvez não estivesse se sentindo confortável lá em baixo.

Encarei aqueles olhos de gavião e algo dentro de mim gritava para sair de perto do garoto o mais rápido possível. O clima estava propício demais para que algo acontecesse e eu pretendia evitar.

— Melhor voltar para a festa, minha amiga deve estar louca atrás de você.

— Breno também estava te procurando — ele falou, sem se preocupar em responder o que eu havia dito.

— Dentro da boca da ruiva? — ri sarcasticamente. — Não precisa ser nenhum gênio para ver que eu não caberia lá.

— Caras como o Breno não costumam ficar com apenas uma garota em uma festa — ele deu de ombros e eu não contive a vontade de revirar os olhos. — Assim como caras como eu, não costumam ficar com garotas como a sua amiga por muito tempo.

— Garotas como a minha amiga? — Aquilo me pareceu extremamente ofensivo. Quem esse garoto acha que é?

— É, você sabe... Atiradas — ele falava como se aquilo fosse muito natural, como se estivesse apenas conversando com alguém sobre o tempo, sem se preocupar se suas palavras poderiam, ou não, ofender.

— Nossa! — exclamei. — Você é muito babaca!

Arthur me olhava como se não estivesse entendendo minha reação, como se, de fato, ele não estivesse falando nada demais. Não deixei que ele falasse nada e segui bombardeando o garoto de desaforos apropriados para almofadinhas como ele.

Enquanto eu falava e xingava sem parar, ele apenas me observava sorrindo. Aquele maldito sorriso que nem deveria estar ali. Sem aviso, sem permissão, o garoto me beijou, pegando-me de surpresa e fazendo com que eu não tivesse nenhuma reação, se não, beijá-lo também.

Enquanto nos beijávamos, minha mente entrava em curto. Parte de mim queria parar e bater naquele garoto abusado, lembrando constantemente que minha amiga estava interessada e que aquilo era errado de várias formas; mas a outra parte estava adorando aquele beijo e já imaginava outras situações com o rapaz.

O barulho da porta que dava acesso ao terraço fez com que nós dois nos separássemos, indo um para longe do outro, longe o suficiente para que, quem quer que fosse não notasse o que estava acontecendo segundos atrás.

— Achei vocês! — Letícia comentou sorrindo e se aproximou de onde estávamos. — O que estão fazendo aqui?

Eu estava em curto circuito. Era como se meu cérebro não estivesse funcionando para que pudesse formular uma resposta a uma pergunta tão simples.

— Vim tomar um ar e encontrei sua amiga aqui. — Arthur se antecipou. — Ela estava me contando que nunca foram ao Cristo.

— Ah! Nunca fomos mesmo — Letícia respondeu sorridente, se colocando entre nós, ficando de costas para mim e de frente para o garoto moreno. — Podíamos ir, o que você acha?

Tenho certeza que o convite da minha amiga não incluía outra pessoa, além dela e do garoto, e desconfiava que na mente dela já se formava um belo passeio romântico, com direito a pedido de namoro nos pés do Cristo Redentor.

Ele sorriu, como se aquilo realmente lhe agradasse e por um momento tive certeza de que, por cima do ombro dela, olhava para mim.

— Podemos sim.

Arthur voltou para a festa com a desculpa de que iria procurar pelo amigo, deixando eu e Letícia sozinhas com aquela vista maravilhosa e com todo o sentimento de culpa que somente uma de nós sentia.

— Ai, meu Deus! — ela exclamou, olhando para mim, no momento em que ele cruzou a porta. — É quase como um sonho! Eu achei que não estávamos na mesma vibe, você sabe, ele sumiu e me deixou dançando sozinha, mas então rolou essa coisa toda... Você sentiu né? Tinha um clima, não da pra negar!

Realmente, não dava para negar, só que o clima parecia não ser com quem deveria. Sorri em resposta, sem conseguir falar, cada vez mais me afundando em culpa por estar traindo a confiança da minha melhor amiga.

— Vamos voltar lá pra baixo — ela falou, segurando minha mão e me conduzindo até a porta —, talvez você ainda consiga fisgar o bonitão loiro e nós vamos ter vários encontros de casal!

Dez Vezes VocêOnde histórias criam vida. Descubra agora