7. Arthur Kannenberg

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— Não dá pra ser um babaca sempre — falei, enquanto estacionava o carro de frente para o prédio principal da universidade.

— Mas é lógico que da! — Breno falou rindo. — Você vai casar um dia, eu sei que vai, e aí você vai poder ser o senhor certinho. Agora, meu amigo, é hora de aproveitar — ele falava como se aquilo fosse um mantra, algo que devesse ser passado geração por geração. — Existe um mar de possibilidades — gesticulava, mostrando as garotas a nossa volta — pra quê perder tempo com uma só?

Era um ponto.

Eu realmente teria tempo para me apaixonar e, quem sabe, casar com alguém, mas o problema era que meu coração parecia não estar contente com essa ideia. Simplesmente não conseguia parar de pensar na garota morena, meu corpo se manifestava toda vez que Luísa invadia meus pensamentos e eu posso jurar que, quando ela sorria, meu coração errava as batidas.

— É complicado — resmunguei.

— Complicado é você dispensar a Letícia com a desculpa de que "acha que está apaixonado por outra"! — ele falou, fazendo aspas com os dedos e dando ênfase na palavra "acha".

— Fui sincero — dei de ombros.

— Foi um otário — Breno empurrou a porta principal do prédio e entramos. — A propósito, quando você cair em si e pedir desculpas para ela, pergunte sobre a Luísa — franzi a testa e ele continuou: — mandei uma mensagem mais cedo, ela visualizou e não respondeu. — Ele deu de ombros e nós seguimos andando pelos os corredores da faculdade.

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As duas horas seguidas de Direito Constitucional passou mais rápido do que o normal, talvez porque eu não estava, de fato, prestando atenção. Era como se meu corpo estivesse no automático enquanto minha mente pensava nela, sem conseguir fugir do seu sorriso e dos seus olhos castanhos.

Confesso que dispensar Letícia não fora uma tarefa fácil; a loira era incrível, o tipo de garota que todo cara quer. Além de ser extremamente bonita, tinha um corpo maravilhoso e era boa de papo, seria perfeita se não fosse pela amiga.

Luísa não era mais bonita e, se fosse comparar as qualidades físicas das duas, Letícia ganharia sem fazer esforço, mas a garota morena tinha alguma coisa que mexia comigo de tal maneira que, nem se eu quisesse conseguiria ficar longe.

O problema é que nada parecia estar ao meu favor.

Primeiro porque a garota não iria decepcionar a melhor amiga. Garotas têm essa coisa de "o que é meu, é meu". Segundo porque Breno parecia interessado, não tanto quanto eu, mas estava querendo alguma coisa. A diferença é que, nós garotos, não ligamos muito pra essa coisa de "eu vi primeiro", então o problema com o Breno seria resolvido facilmente, assim que o foco dele mudasse.

— E então? — Breno sussurrou. — Quem é a garota?

— Que garota? — perguntei, voltando a realidade e olhando em volta, vendo todos da sala saindo.

— Que fez você dispensar a Letícia e que está te fazendo viajar na batatinha — ele riu, enquanto eu guardava o caderno da mochila e lhe seguia para fora da sala.

— Você não conhece — menti.

— Então você é esperto, porque se eu conhecesse, certamente já teria pegado — Breno gargalhou e eu revirei os olhos.

Ele sempre foi tão convencido assim?

— Talvez sim, talvez não — respondi, dando e ombros. — Você vai embora comigo?

— Por quê? Vai encontrar a sua musa inspiradora?

— Não — menti mais uma vez. — Vou encontrar meu pai para almoçar e você sabe como ele consegue ser bem chato às vezes.

— Sei bem! E por mais que eu goste muito de você, vou te deixar sozinho nessa missão — ele falou brincando, me dando um tapinha nas costas, como se estivesse me incentivando a não faltar ao compromisso.

Me despedi, vendo-o ir em direção a um grupo de colegas que estavam conversando próximos a entrada do campus e segui até onde havia estacionado o carro.

A parte de almoçar com meu pai era verdade, de fato eu iria encontrá-lo mais tarde para conversar sobre algo que ele julgava muito importante, mas antes realmente queria conversar com Luísa.

Os quase trinta minutos de distância entre um campus e outro era tempo suficiente para que minha mente lembrasse da noite anterior.

Vê-la beijando Breno foi bem desconfortável, ainda mais vendo a situação como um todo: a garota estava de roupa íntima, dentro da piscina e com as mãos dele sabe se lá onde. Cena da qual eu não queria pensar ou lembrar, não queria que minha mente desse brecha para a minha imaginação. Por sorte — ou não — se algo, de fato, tivesse rolado Breno já estaria se gabando.

Estacionei o carro em uma vaga um pouco afastada da entrada principal e entrei no prédio, me encaminhando até um enorme balcão, que deveria ser de informações, mas não era muito utilizado por ali.

Amélia, a mulher de seus quase quarenta anos estava sentada atrás do balcão, folheando uma revista de fofoca, com seus óculos meia lua quase na ponta do nariz, atônita a tudo a sua volta. Pigarreei para chamar sua atenção e a mesma me olhou, em um primeiro momento com um semblante irritado por ser incomodada, mas ao ver de quem se tratava, sorriu.

— Arthur, querido! — ela levantou, inclinou o corpo e me abraçou debruçando-se sobre o balcão. — Quanto tempo não vejo você!

— Bastante tempo — sorri de volta. — Desde quando você e meu pai terminaram! — brinquei.

— Não ressuscite os mortos, Arthur! — ela riu. — A propósito, como ele está?

— Bem, o mesmo cara de sempre.

— O mesmo idiota de sempre, você quis dizer — ela sorriu; não um sorriso que faz os olhos brilharem, mas ainda assim um sorriso. — O que te trás aqui?

Meu pai e Amélia tiveram um longo e conturbado relacionamento há cerca de um ano e não terminaram amigavelmente... Aparentemente, ele não conseguia manter o pau dentro das calças e Amélia teve a infelicidade de presenciar isso.

— Estou procurando uma pessoa e talvez você possa me ajudar. 

Dez Vezes VocêOnde histórias criam vida. Descubra agora