— Você não vai mesmo me contar o que aconteceu? — questionei, olhando Letícia de rabo de olho.
Estávamos sentadas no sofá, com as pernas sobre a mesinha de centro, um pote de pipoca doce entre nós e um filme de comédia romântica na TV. Em outras palavras, estávamos curtindo um final de dia.
— Você sabe o que aconteceu, ele me dispensou.
— Eu quero saber o motivo — falei sem ter certeza se realmente queria.
Quero dizer, se ele tivesse dito algo sobre nós — se é que existe um nós — ela estaria bem brava comigo e provavelmente não estaríamos juntas agora.
Letícia suspirou, pegou o controle que estava sobre o sofá e deu pause no filme antes de virar-se no sofá e me olhar.
— Ele está interessado em outra — falou por fim. — É isso.
— Que chato. — Foi tudo o que consegui dizer.
— Chato?! É o fim do mundo! — Letícia se pôs de pé, colocando as mãos na cintura e me encarando. — Olha bem pra mim! Eu sou linda, modéstia parte, claro; sou uma ótima ouvinte e uma ótima amiga! Zero defeitos! Eu não sei o que ele pode ter visto em outra garota que não tenha visto em mim.
Não sei quantos segundos levou para que eu conseguisse formular uma resposta, se é que aquilo era uma pergunta. Parte de mim queria gritar para ela e dizer que eu também era linda, perfeita e etc. E que alguém como Arthur Kannenberg poderia sim se interessa por mim e não por ela; mas a outra parte, a parte sensata, sabia que dizer algo assim seria o mesmo que admitir que eu estava tão interessa quanto ela no garoto, e pior: ele estava correspondendo, aparentemente.
Respirei fundo antes de concordar.
— Você está coberta de razão, ele é um babaca que não te merece. — Péssima amiga! Minha consciência gritava. — O melhor mesmo é esquecer que ele existe e seguir em frente.
— Tá maluca?! — ela franziu a testa e sentou novamente. — Nós vamos é descobrir quem é essa piranha e acabar com o que estiver rolando entre os dois.
Engoli seco.
— Parece até uma psicopata falando assim — murmurei.
— Não exagera, não é como se eu quisesse matar a menina — ela deu de ombros e sorriu —, só quero deixar ela longe do meu bebê.
— E como você pretende fazer isso? — questionei, ignorando o apelido carinhoso que acabara de ouvir.
— Com a sua ajuda — ela sorriu. — E com a do Breno também.
Suspirei. Algo me dizia que isso não iria acabar bem para nenhum de nós quatro.
¨
Depois de uma quarta-feira de ressaca, a quinta-feira veio cheia de brilho e felicidade... Pelo menos deveria ser assim.
A verdade é que eu mal consegui dormir a noite, não conseguia parar de pensar no que Letícia iria aprontar e como reagiria quando soubesse quem era a possível concorrente. Lógico que eu estava sendo muito otimista, afinal, quais eram as reais chances de eu ser a tal garota pela qual ele estava interessado?
Acordei pior do que no dia anterior, porém, no horário.
Letícia, por outro lado, estava radiante! O sono da beleza que eu deveria ter tido foi tirado todinho por ela, parecia que estava vendo unicórnios voando, de tão sorridente que estava.
— Dormiu bem? — perguntei, enquanto servia uma xícara de café preto.
— Melhor impossível! — ela respondeu, sentando-se no banquinho e apoiando os braços sobre a bancada. — Passei a noite toda conversando com o Breno. Você acredita que ele não faz ideia de quem seja a tal garota?
Respirei aliviada.
— Isso é bom? Quero dizer, eles são amigos né? Deveria saber — dei de ombros e sentei de frente para ela.
— É maravilhoso! Minha teoria é que não existe garota nenhuma, se não, Breno saberia quem é.
Talvez porque ele também esteja interessado nela! Minha Consciência gritou.
— E mais! — ela continuou: — Breno concorda comigo, inclusive ele acha que Arthur só me dispensou porque tem medo de se envolver. — Ela abriu um sorriso triunfante.
Continuei tomando meu café e ouvindo enquanto ela detalhava a sua conversa com Breno, contando sobre como os dois tinham teorias sobre o assunto e frisando que eu deveria dar uma chance para o garoto loiro, que parecia tão legal.
Saímos do apartamento, descendo os três lances de escadas e nos encaminhando para a parada de ônibus mais próxima. O caminho até a faculdade não era tão longo, mas também não era curto o suficiente para que fossemos a pé, então esperamos por cerca de dez minutos até que nossa condução aparecesse.
¨
Ao chegar no campus, Letícia avisou que iria ao banheiro e eu resolvi que esperaria no saguão. Encostei-me no balcão de informações, ainda pensando sobre o que Letícia havia dito mais cedo e em como eu faria para que ela desistisse daquilo. Assustei-me ao sentir uma mão tocar minhas costas e virei rapidamente.
— Terra chamando! — A mulher da recepção falou rindo. — Não queria te assustar, mas chamei seu nome baixinho e você não respondeu, então...
— Tudo bem — falei, sorrindo sem jeito.
— Tenho um recado para você — ela sorria de orelha a orelha e, notando minha cara de interrogação, apontou o dedo para que eu olhasse.
Segui seu dedo, olhando para onde estava apontando e me deparei com Arthur, encostado no marco de uma porta, de braços cruzados e me olhando. Ele fez um sinal com a cabeça, apontando para dentro da sala e entrou, sumindo do meu campo de visão.
Fiquei parada, não sabia o que fazer.
O que ele estava fazendo ali? Isso era loucura! Parecia que estava se escondendo de alguém.
E como se a mulher pudesse ler meus pensamentos, ela apenas sussurro:
— Você vai precisar ir até lá para descobrir.
Concordei com um movimento de cabeça e sem dizer nada, caminhei para a sala da qual ele havia entrado, ignorando completamente os avisos que minha consciência estava dando e todo o bom senso que me restava.
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Dez Vezes Você
RomanceA regra número um não era não se apaixonar por ele e sim não se apaixonar pelo crush da melhor amiga. Luísa esperava nunca quebrar essa regra, afinal, quais as chances reais disso acontecer? Ela só não esperava que Arthur fosse capaz de desestabiliz...