16. Letícia Brum

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Letícia você não pode sair gastando tanto assim — minha mãe repetia pela quinta vez aquela frase e a vontade de desligar o celular era grande. — Não sou rica, já gasto muito te mantendo no Rio de Janeiro, se continuar passando dos limites com o cartão de crédito, vou mandar cancelar!

— Sim mãe, eu entendi — respondi, revirando os olhos e voltando a olhar para a televisão.

Ficamos mais alguns minutos na linha, mamãe falava sobre como as coisas estavam na cidade onde morávamos e fazia algumas perguntas sobre como estavam as coisas por aqui. Antes de finalizar a chamada, lembrou mais uma vez sobre como a vida não era um morango com chantilly e como eu não podia gastar mais do que ela podia pagar.

Dizem que escolhemos em que família nascer, mas se isso for real, com certeza não entenderam minha escolha. Minha alma era de rica, meus gostos eram de rica, entretanto nasci pobre. Ok, ok, poderia ser pior, eu sei. Acontece que fazia parte de mim ser dramática e naquele momento estava sofrendo por ter que economizar.

Suspirei entediada e olhei o relógio digital na tela do celular.

Já fazia duas horas que Luísa havia saído e eu não fazia ideia de para onde poderia ter ido.

Não frequentávamos a casa de nenhuma das nossas colegas da faculdade, então descartei a opção de que ela poderia estar na casa de alguém... A não ser que estivesse com o namorado novo, se é que poderia chamar assim.

Nós costumávamos contar tudo uma para outra e ela não tinha dito nada sobre o garoto misterioso do outro dia, provavelmente por não ser nada sério ou por não querer me ouvir falando de como estava caidinha por alguém que poderia apenas estar usando-a. 

Abri meu Instagram e fiquei deslizando o dedo pela tela, olhando o feed do aplicativo e curtindo uma foto ou outra. Era tudo a mesma coisa de sempre: meninas da faculdade na beira da praia ou em casas lindas e chiques, meninos em festas, casais apaixonados, colegas da escola que ainda moravam no interior de São Paulo, fotos de família... Nada que fosse realmente chamar minha atenção.

Até que uma foto chamou.

Era um foto simples: um casal sentado em uma mesa de um restaurante qualquer dando um beijo (provavelmente ensaiado para o momento da foto). Eu conhecia a garota, era uma menina que fazia Enfermagem e tinha uma cadeira de Anatomia junto comigo, mas não foi ela e o namorado que fizeram meus olhos se arregalarem e sim o que tinha atrás deles.

Luísa estava na mesa de trás.

Era ela, disso eu não tinha dúvidas.

Do outro lado da mesa, com a mão sobre a dela e sorrindo estava Arthur Kannenberg!

Pisquei os olhos algumas vezes para ter certeza de que estava vendo certo. Aquilo não era possível, de jeito nenhum! Com o indicador e o polegar dei zoom na tela, só para constatar o que já havia visto: eram os dois ali, juntos!

Respirei fundo e contei até dez, deveria haver uma explicação para o que estava acontecendo. Será que Arthur havia chamado minha melhor amiga para sair, a fim de saber um pouco mais sobre mim e me reconquistar? 

Besteira!

Por que raios ele iria querer me reconquistar depois de me dar um pé na bunda, antes mesmo de ter me beijado?

Será que os dois estavam juntos?

Impossível!

A não ser que Luísa fosse a garota por quem ele estava apaixonado e por isso me dispensou.

Não, isso com certeza não. Nenhum garoto em sã consciência deixaria de ficar comigo para ficar com a Luísa.

Ok, ela tem suas qualidades. É bonita, é uma boa amiga, é inteligente e tem um sorriso bem bonitinho... mas acaba ai. 

Suspirei frustrada. Na minha mente mil motivos para aquele encontro estavam se passando, desde ele estar com ela para chegar até mim, até ela estar com ele para se vingar da nossa pequena discussão. Meu sentimentos já começavam a ficar distorcidos, me sentia traída, enganada!

Liguei para o Breno e contei o que tinha acabado de ver, passando para ele o nome da garota e deixando que visse com seus próprios olhos. Ele ficou tão chocado quanto eu e se prontificou a vir me buscar, pois sabia onde ficava aquele lugar.

Não demorou para que o loiro chegasse e nós dois fossemos até lá conferir, a fim de pegar no flagra os traidores, mas quando chegamos não havia ninguém.

— Já devem ter ido embora — ele comentou o óbvio e eu revirei os olhos em resposta.

— Nem notei — respondi sarcasticamente.

— Talvez ela tenha voltado para casa — ele sugeriu, dando partida no carro.

— Nós acabamos de sair de lá, imbecil.

— Nossa! Você ta estressada hein?! Qual é, não suportou o fato do bonitão te trocar pela melhor amiga?

Encarei Breno com o olhar cheio de raiva e ódio, capaz de mata-lo se quisesse, apenas com os olhos. Ele deu risada, parecendo se divertir com a situação, aumentando ainda mais o que eu estava sentindo.

— Você também deveria estar incomodado — comentei, querendo atingi-lo também. — Afinal, seu amigo roubou a sua garota.

— Ela não é minha garota — ele deu de ombros. — Eu só queria sexo, nada mais.

— Não sabia que Breno Müller era de desistir tão fácil assim —provoquei.

— Cala boca, Letícia — ele respondeu e eu sorri satisfeita. 

Sugeri a Breno que talvez os dois pudessem estar na casa do Arthur, mas Breno descartou a possibilidade, alegando que o garoto nunca levava uma menina para própria casa assim, sem festa ou comemoração que fosse pretexto para garota estar ali. Ainda assim ele dirigiu até o condomínio onde Arthur morava.

Breno estacionou o carro algumas casas abaixo, próximo o suficiente para que pudéssemos ver e longe o bastante para que Arthur não nos visse. Esperamos durante algum tempo até ver a movimentação na garagem.

Luísa e Arthur saíram da casa e entraram no carro, os dois pareciam dois pombinhos apaixonados e ver aquela cena me fazia querer vomitar.

— Parece que você se enganou — resmunguei, deixando o ódio notável no meu tom de voz. — Minha vontade é de ir lá agora mesmo e dar na cara dela.

— É vingança que você quer? — Breno questionou, parecendo também estar bem incomodado com a cena. Anuo em silêncio e ele sorri. Um sorriso traiçoeiro e cheio de maldade. — O que eu ganho se te ajudar?

Os olhos de Breno me fitavam de uma forma intensa, fazendo com que sentisse estar fazendo um pacto com o próprio diabo e não um acordo bobo entre duas pessoas com raiva e chateadas. Entretanto, mesmo achando que seria uma péssima ideia, parte de mim queria vingança e queria que Luísa sofresse e pagasse por arruinar meu relacionamento.

— O que você quer ganhar? — perguntei sem vacilar e sem deixar com que ele notasse o quanto estava insegura com aquilo.

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⏰ Última atualização: Jul 27, 2020 ⏰

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