Capítulo Quatro

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- O lançamento está agendado para daqui a dois meses.

Arregalei os meus olhos para Jodie, a minha editora, e endireitei-me na cadeira onde estava sentada. Ela sorriu para a minha reação e pousou as mãos na sua mesa, uma em cima da outra, na postura profissional de sempre. Quem olhasse entre nós as duas nunca adivinharia que Jodie tinha perto de quinze anos a mais que eu, pela forma como o seu cabelo loiro se mostrava forte como sempre e a sua pele carecia de qualquer ruga. Jodie era, de certa forma, como a mãe da minha carreira; tinha sido a primeira a responder-me, depois de eu ter passado meses a mandar o meu livro para infinitas editoras e eu agarrara-me a ela com todas as minhas forças.

Felizmente, tinha-me calhado uma editora muito flexível em relação ao estilo de livros que escolhia publicar. O seu mote era o talento, puro e simples, quer fosse na poesia, no teatro, nos ensaios ou no romance. Jodie tinha conseguido fazer-me sair da minha zona de conforto e era, por falta de outras palavras, a única pessoa que aturava fielmente todos os meus processos de brainstorming. Era graças a ela que eu tinha conseguido escrever vários géneros literários e não me limitar apenas ao romance; ela e Anna tinham sido os meus dois grandes anjos da guarda em relação à minha carreira. Eu limitava-me a escrever e ser bonita, como a Anna gostava de dizer, e Jodie tratava de todo o processo formal, enquanto Anna tratava da publicidade.

- Onde?

- Hm. Ótima pergunta, de facto. – cruzei os meus braços, olhando-a com desconfiança. Ela sorriu-me. – Tenta adivinhar.

Observei a minha editora e amiga atentamente, tentando encontrar algo na sua postura ou na sua expressão que servisse de pista. Normalmente ela não criava tanto mistério em volta de algo tão simples como o local do lançamento, portanto tinha que ser algo bom e possivelmente importante. Para ela me pedir para adivinhar, era porque sabia que eu ia gostar do sítio. Lentamente, as peças daquele pequeno puzzle começaram a juntar-se na minha cabeça e os meus olhos voltaram a arregalar-se, daquela vez de entusiasmo. Não pode ser era tudo o que passava pela minha cabeça. Eu não seria certamente conhecida o suficiente para aquele lugar.

- Não... A Lumiére?

- O que é que achas? – antes de eu sequer tentar pensar numa resposta, ela fez um gesto com as mãos e sorriu abertamente – Já estava na hora de concretizares mais um sonho, Liz.

- Eu adoro-te. – declarei, na voz mais séria que consegui e olhando-a diretamente nos seus olhos castanhos. Jodie piscou-me o olho como resposta. – Como conseguiste?

- Não vou relevar os meus talentos! – estava demasiado chocada para responder. – A única coisa que precisas de fazer é continuar a escrever o próximo livro, dar-me algumas páginas para eu o ler, e pedir à Anna que venha cá para tratarmos dos detalhes do lançamento.

- Não. Desculpa, vamos ter que rebobinar, Jo. Como?

- Eu posso, ou não, ter dado um exemplar não-oficial ao dono da livraria.

A livraria Lumiére era a mais antiga da cidade. Tinha começado como uma biblioteca de uma grande família aristocrata, uma coleção de livros de todos os tamanhos e feitios, de todas as alturas históricas. Há duzentos anos, no entanto, a pequena mansão onde a tal família vivia foi abandonada e mais tarde vendida a Bastian Lumi, que a transformara numa livraria. Os livros vendidos não eram aqueles da coleção – essa tinha sido transformada numa espécie de museu -, mas Lumi transformara algo recluso no maior negócio da cidade. Nos seguintes duzentos anos, Lumiére tinha sido palco do lançamento de alguns dos maiores livros de sempre; e tinha sido, todos o sabiam, um grande polo cultural durante o último século.

Caminhos Cruzados // harry stylesOnde histórias criam vida. Descubra agora