Capítulo 1

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Mary Hackman nunca pensou que se apaixonaria tão cedo.

Na verdade, ela achara que jamais (jamais mesmo!) deixaria seu coração derreter-se por um homem que conhecera apenas uma única vez. Quer dizer, apaixonar-se por alguém já era algo totalmente constrangedor, mas à primeira vista e aos 14 anos de idade? Era uma humilhação sem igual.

No entanto, a garota sabia que não haveria volta. Durante seis longos anos, ela amadurecera, estreiara na sociedade londrina com sua irmã gêmea e se tornara uma dama decente — ou quase isso. Mas o que não havia mudado era seu amor pelo conde de Holt e futuro duque de Warminster, Richard Holland.

Ele era perfeito.

Alto, com cabelos negros presos na base da nuca, olhos cinzentos e maxilar forte, ele roubara seu coração. Rápido como um raio, forte como um coice de cavalo. Fora brutal, mas acontecera.

Só havia um minúsculo problema: ele não correspondia ao seu amor.

Mary não era boba. Ela — e todo mundo que os conhecia — sabia que o rapaz se empenhava em fugir dela e ignorá-la por anos. Apenas quando o Universo estava a seu favor e resolvia ser solidário havia conversa entre os dois. Mas sempre ocorria um imprevisto e Richard ia embora. Sempre.

Porém, depois de alguns anos recusando as pouquíssimas propostas de outros homens e sendo constantemente recusada pelo único que importava, ela decidira que daquela vez seria diferente. Mary iria fazer de tudo para conquistar o futuro duque. Qualquer coisa. Afinal, era a decisão mais racional possível. E ela considerava a racionalidade um dos seus maiores atributos.

— Meu Deus, isso está horrível! — exclamou Emma ao olhar o bordado da irmã.

— Você sabe que eu não tenho jeito para essas coisas. Não entendo porque temos que aprender a bordar, já que ninguém vai querer um pedaço desse pano ridículo — balançou no ar a sua obra de arte.

— Mas é claro que o seu não está bom, você não estava prestando atenção em nenhum detalhe — acusou a irmã. — Isso é uma beterraba ou um rabanete?

— Para a sua informação, é uma tulipa — disse ela, não muito convincente. — E eu estava sim prestando atenção.

As outras três garotas no recinto se entreolharam.

— Mary, admita logo que você estava pensando no futuro duque de Warminster esse tempo todo — disparou Lucy, a dama de companhia de Elizabeth.

As quatro meninas estavam na sala das mulheres situada na antiga estalagem da tia das gêmeas, Katherine Arden, que agora pertencia a Elise Northwood — a marquesa de Bradford. O local transformara-se em um refúgio a mulheres em perigo e um porto seguro para famílias descansarem durante viagens longas. Mas lá passara a ser também um dos lugares preferidos das garotas para conversarem. Pena que era longe demais de Londres e de suas respectivas casas, senão elas com certeza iriam todos os dias para lá.

— Até você, Lucy? Não há ninguém aqui para me defender dessa calúnia?

Elizabeth abaixou o livro que estava lendo e revirou os olhos azuis.

— Todas nós já estamos cansadas de ouvir sobre esse tal de Richard. É sempre a mesma coisa. Ai meu Deus, vocês notaram o jeito que ele coça a orelha? — fez uma imitação da voz de Mary. — Ah, como o futuro duque é charmoso. Olhe! Ele acabou de cuspir limonada na roupa, que homem agradável!

Todas elas — exceto Mary, é claro — caíram na gargalhada. Isso só serviu para que as outras a seguissem zombando com imitações fajutas de sua voz. Ela não falava assim, falava?

Enlouquecendo Um Cavalheiro {hiatus}Onde histórias criam vida. Descubra agora