Capítulo 2

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Tudo o que Mary conseguiu fazer a caminho da casa dos Medeleys foi rezar. Especificamente por duas coisas:

• Que Richard aparecesse e pudesse conversar e dançar com ela.

• Que Oliver tivesse comido algo estragado pela manhã e desenvolvesse uma dor de barriga que o impedisse de ir à festa.

Esse último pensamento lhe fez esboçar um sorriso diabólico.

— O que você está planejando? – Emma perguntou com medo na voz.

— Nada. Na verdade, você interrompeu a minha reza — ela alisou a saia do vestido. — E por que você está perguntando isso? Eu não fiz nada.

— Porque eu conheço muito bem essa sua expressão e ela definitivamente não significa coisa boa. Muito menos... – ela parou de falar abruptamente. – Espera, você falou "reza"?

— Foi isso mesmo que você ouviu. Isso serve para lhe mostrar que eu sou uma dama muito respeitável e religiosa, já que até nas carruagens eu estou rezando.

— Ora, por favor, Mary. Você sabe que eu conheço cada parte de sua mente e tenho certeza absoluta que, se você está rezando, é para que loucuras aconteçam. O que é dessa vez?

Muito bem, Mary não podia mentir para sua irmã gêmea nem se quisesse. Afinal, elas nunca se largaram desde que nasceram, o que faz com que uma saiba tudo – cada mínimo detalhe! – sobre a outra. Isso muitas vezes era gratificante, pois elas sempre tinham com quem conversar, mas também podia ser irritante em outros momentos. Como aquele.

— Tudo bem, eu estava rezando para que Richard dançasse comigo. — Emma ergueu uma sobrancelha, esperando que ela continuasse. — Tudo bem! E que Oliver tivesse uma dor de barriga. Se ele for, talvez tenha algum jeito de fazê-lo comer um doce estragado e...

Emma a encarou incrédula por um momento para então dar uma risada surpresa. Ela se ajeitou no banco da carruagem e se inclinou para frente, como se estivesse prestes a revelar um segredo. Mary não entendeu muito bem o gesto, já que estavam apenas as duas dentro do veículo.

— Diga-me, já que estamos sozinhas aqui. Você está com algum plano na cabeça, não é?

Mary revirou os olhos, mas acabou sorrindo. É, realmente era impossível esconder qualquer coisa de Emma. De qualquer modo, ela sempre tentava deixar seu lado mais perverso e diabólico para si mesma e fazer com que sua irmã pura e – um pouquinho – inocente não partilhasse dos mesmos pensamentos. Ela não queria ser aquela que levaria Emma para um encontro com o Anjo Mau.

— Estou pensando ainda, não tenho nada concreto...

— Conte logo, eu sei que você já deve ter tudo planejado — disparou ela.

Sem conseguir se controlar, ela bufou. Sua fama ainda não tinha chegado aos círculos mais nobres da sociedade, mas claramente sua família e amigos próximos – o que incluía uma seleção de pessoas ricas e importantes – sabiam que Mary não era uma dama inglesa muito comum. Para falar a verdade, nem dama direito ela era. Só conseguira ganhar importância suficiente para participar das temporadas londrinas junto com os aristocratas porque seu cunhado, o marquês de Bradford, conseguira utilizar sua influência para que elas conseguissem debutar e ser respeitadas pela nobreza. Pelo menos na teoria.

— Ora, eu não tenho tudo planejado ainda. Na realidade, pretendo me manter distante de Oliver esta noite.

— Distante? E como você conseguirá se vingar à distância?

— Minha cara irmã, para um plano dar certo, é preciso muita paciência, observação e planejamento. Não se deve agir por impulso simplesmente.

Enlouquecendo Um Cavalheiro {hiatus}Onde histórias criam vida. Descubra agora