Capítulo 7

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A primeira coisa que ela sentiu foi o braço dormente sob seu corpo, o que não era muita novidade, já que sempre acordava na mesma posição. A segunda foi seu cabelo espalhado em todo o rosto, bloqueando a visão e grudando nos cantos da boca. Deus, ela deveria estar um desastre!

Então sentiu a terceira: olhos grudados atentamente nela.

Sua cabeça virou na direção da pessoa e, quando viu o homem sentado em uma cadeira pequena demais para seu porte, tomando uma xícara de chá e lendo um jornal, pulou de susto na cama. A tentativa fora se afastar dele involuntariamente, mas havia uma parede atrás de si e, por isso, sua cabeça bateu na pedra dura.

— Ai! — exclamou baixinho.

— Vejo que finalmente acordou, Srta. Hackman — ele nem ao menos tirou a atenção do papel em mãos. — Uma pena, pensei que teria sorte e você só acordaria semana que vem.

— Oliver, o que raios você está fazendo aqui?! Perdeu a noção? Alguém pode vê-lo e somente o fato de estar sozinho comigo no meu quarto causaria um escândalo! — ela olhou para baixo e arfou, puxando as cobertas até o queixo. — E eu ainda estou de camisola!

Ele finalmente desviou o olhar das notícias e a encarou, haviam manchas escuras ali, como se não houvesse dormido direito.

— Com certeza esse seu cabelo causaria um alvoroço maior do que nós juntos nesse quarto — ela quis retrucar à altura, mas ele continuou falando. — E, respondendo à sua pergunta, eu estou lhe monitorando para que não faça nenhuma besteira. Até agora meu trabalho estava bem tranquilo, mas creio que minha sorte se foi quando a senhorita abriu os olhos. Não poderia esperar pelo menos mais um dia?

Mais um dia? — repetiu, não entendendo o que ele havia falado. — Oliver, o que isso quer dizer? Por quanto tempo eu apaguei?

— Por um dia inteiro e mais... — ele checou o relógio de bolso. — nove horas.

Mary ficou perplexa, a boca aberta e a testa franzida. Como pudera dormir tanto? Agora a dor em sua barriga fazia bastante sentido, ela não havia comido nada nesse tempo todo! O ronco que o estômago soou foi alto o bastante para ela se sentir um pouco sem jeito. No entanto, não passou de um segundo com vergonha, pois logo que tomou consciência de sua situação, a fome pareceu triplicar. Ela levou as mãos até o centro do incômodo involuntariamente.

— Relaxe, você acordou por um breve momento ontem à noite e comeu uma tigela enorme de sopa de galinha. Depois apagou outra vez. Fiquei impressionado, na verdade, porque estava praticamente dormindo! Não falou com ninguém, nem se humilhou, como é o costume.

— E-eu... dormi por mais de um dia? — ela ainda não acreditava. — Como você sabe de tudo isso?

Ele deu de ombros, mordendo um biscoito açucarado.

—Já falei, fui incumbido de ser a sua babá...

— Eu não preciso de babá, muito menos se for você — grunhiu.

— E, aliás, alguém tinha que acompanhar o médico. — Ele a ignorou completamente.

— Médico? — será que ela tinha batido a cabeça forte demais? Não conseguia raciocinar quase nada. — Por favor, não me diga que ele já veio aqui.

— Sinto lhe informar que a resposta para sua pergunta é positiva. Por que essa preocupação toda?

— Eu não aguento ficar perto de médicos — a mão começou a tremer. — Por que chamaram um? Eu não preciso de nada disso, nem de babá nem de doutor algum!

— Mary, você desmaiou enquanto tocava piano. Isso não é normal.

— É claro que é! Isso fez parte da minha vida inteira. Eu tenho... essas crises de enxaqueca violentas, algumas fazem com que eu desmaie e entre em um sono profundo por horas. É normal para mim passar um pouco mal durante um período — seus olhos arderam. Ela odiava ter que se abrir daquele jeito. — Por que minhas irmãs deixaram o médico vir? Elas sabem que eu tenho pavor deles.

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⏰ Última atualização: Dec 04, 2019 ⏰

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Enlouquecendo Um Cavalheiro {hiatus}Onde histórias criam vida. Descubra agora