Capítulo 6

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Enfim, depois de tanto erro passado Tantas retaliações, tanto perigo Eis que ressurge noutro o velho amigo Nunca perdido, sempre reencontrado

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Enfim, depois de tanto erro passado
Tantas retaliações, tanto perigo
Eis que ressurge noutro o velho amigo
Nunca perdido, sempre reencontrado.

Vinicius de Moraes

Eduardo

Estou ansioso como nunca estive antes, tipo, nunca mais voltei, nem sequer lembro quando foi a última vez que falei com Bia, nem sei mais nada da vida dela.

Segundo as informações que meu assessor encontrou, ela ainda morava na mesma cidade, é professora em uma escola e só, nada mais. Ela queria ser médica, não entendo por que não seguiu a carreira dos sonhos, deve ter sido influenciada pelos avós, ou percebeu que a fobia por sangue era maior que tudo, já que caia dura todas as vezes.

Tudo está igual, as ruas, a escola, as casas, exatamente do mesmo jeito, o tempo parece não ter passado, consigo vê com clareza a mim mesmo andando de bicicleta por ali, nunca mais voltei, sequer pensei, deixei tudo pra trás, até mesmo a garota que eu amei.

Paramos em frente a casa do avô de Beatriz e fico dentro do carro encarando a construção, não lembrava de ser algo tão pobre, antes era um refúgio, meu lugar favorito na terra. A grama está bem aparada, há algumas flores, daqui consigo ver a casa da árvore, aquilo não aguenta uma pessoa, é um perigo.

Sorrio, como ficávamos dentro daquela coisa? É pequeno e arriscado. Não acredito que transei com a Beatriz ali, uma vergonha pra mim, pois sei que a primeira vez pra nós dois foi boa apenas pra mim. Minha sorte foi ela não ter ficado grávida.

Era tão idiota, por isso tive um filho tão cedo, agi feito um animal no cio durante boa parte do tempo, logo que o sucesso veio eu aproveitei todas as mulheres que se ofereciam pra mim.

— É aqui chefe? — Ricardo pergunta, sentado no banco da frente ao lado do motorista.

— Sim. — Apanho o boné e coloco os óculos escuros, não há ninguém na rua, mas não posso correr o risco de ser identificado. — Fiquem aqui. — Abro a porta do carro e desço.

Sequer olho na direção da casa onde cresci, não fazia sentido, não sentia falta dela, ser pobre era péssimo.

Os degraus de madeira rangem, eu posso oferecer uma boa quantia pela ajuda de Beatriz, assim ela pode dar um lar digno para os avós, varandinha ainda tem o mesmo conjunto de cadeiras, onde eu e Bia estudávamos, ela me dava aula, eu fingia não saber a matéria, só pra ficar com ela.

Bato na porta de madeira, pois sei que a campainha nunca funcionou, eu e Beatriz quebramos no primeiro dia de instalada. Tocava várias músicas, então a gente apertava sem parar, até que a coisa quebrou. Sorrio com a lembrança.

A porta abre e o avô de Beatriz aparece, bem mais velho, parece cansado e aflito, olha pra mim e não me reconhece, claro, mudei muito. Já faz tanto tempo, mas achava que ele me reconheceria de imediato.

— O que quer? — Pergunta com certa ignorância. Tiro o boné e o óculos, ele me avalia. — Edu? Meu Deus! É você mesmo? — Sorrio abertamente quando ele me puxa para um abraço, batendo nas minhas costas com certa força. — Graças a Deus! Estava a ponto de ligar para polícia. — Conta em desespero evidente.

— Polícia, porque? — Ele se afasta e vejo o desespero em seu olhar.

— O marido da Bia, esteve aqui e a arrastou de volta pra casa. — Certo, travei, como assim? Casada! Não pode, quer dizer, pode, ela... — Aquele maldito, tenho certeza de que vai machucar minha pequena, estava drogado.

— Machucar? Ele machuca ela? — Não posso permitir, a raiva já começa a ferver dentro das minhas veias. — Onde eles moram? Onde fica a casa deles? — Seguro o braço dele com um pouco de violência, sem perceber, solto logo que percebo sua cara assustada.

— Eles saíram daqui a pouco tempo, tenho medo que possa acontecer o pior. — Me diz exatamente onde fica a casa. — Melhor eu ir com você.

— Não, fique aqui, eu vou trazer ela. — Insisto, ele está velho, não quero ser responsável por um possível infarte.

Corro para o carro antes que ele dê uma de teimoso. Vou orientando o caminho para Magno, até que chegamos a uma casa simples, igual a do avô de Beatriz. Desço rápido, Ricardo em meu encalço. A porta está aberta, entro sem bater.

Assim que adentro na sala de estar ouço barulho de coisas caindo, móveis sendo arrastados. Vou até lá, meu coração falha uma batida ao vê um corpo desfalecido ao chão, o homem está numa espécie de surto, sequer tinha percebido minha presença.

— Segure ele. — Ordeno assim que tenta se aproximar dela. Ricardo o segura com muita facilidade. 

— Quem é você? Me solta! — Sim, completamente drogado, olhos enfurecidos e pupilas dilatadas. Acerto um soco, repito até que ele perde a consciência. Maldito.

Ricardo solta o corpo, que cai com um baque surdo, minha vontade é de matar, acabar com a vida dele, mas não posso arriscar minha carreira com um verme como ele.

Me aproximo do corpo de Beatriz, ela não é mais a menina que me lembro, é uma mulher feita, consigo ver os machucados no abdômen, que a blusa erguida expõe.

— Ei. — Afasto o cabelo curto de seu rosto ela choraminga, percebo o medo, seu rosto mudou um pouco, mas parece ser a mesma garota que deixei pra trás. — Você vai ficar bem. — Digo para tranquiliza-la, pois meu coração dói demais em vê-la assim. Ergo seu corpo magro com facilidade, tomando cuidado para não machuca-la. — Ricardo, faça uma denuncia anônima, informe que a vítima está no hospital. — Ele pega o telefone e me segue para saída.

Ao chegar no hospital Ricardo me trás de volta a minha realidade, não posso estar envolvido nesse tipo de coisa, não agora.

— Eu levo ela chefe. — Praticamente arranca Beatriz dos meus braços e a leva para dentro, fico olhando, tentado a mandar tudo para casa do cacete.

— Magno, me leve até a casa do avô dela, preciso trazer ele até aqui, pra ficar com ela. — Precisa vê um rosto conhecido quando acordar. Como um cara pode fazer isso? Machucar uma mulher dessa forma? Por que ela permitiu?

Providenciei o advogado para ela, levei o avô até o hospital e disse a ele que estaria no hotel aguardando notícias. Só que esperar é um inferno, nunca fui bom em esperar por nada.

— Ele foi preso, vão tomar o depoimento dela assim que acordar, teve duas fraturas nas costelas, mas está bem. — Ricardo me conta ao telefone mil horas depois. — Vou dar um jeito de você vim vê-la, sem ser visto pelos funcionários do hospital.

— Fique com ela, não sai de perto. — Ordeno. — Quando a polícia chegar chame o advogado, ele já está aguardando.

— Sim chefe. — Desligo e jogo o telefone contra a parede, me arrependo em seguida, estou dominado pela raiva.

Por que ela foi se meter com um cara como aquele? Será que ela o ama tanto assim? E se ela gosta disso? Se for do tipo de mulher que apanha e gosta? Não posso acreditar nessa possibilidade. Não quero.

[DEGUSTAÇÃO] Amizade em JogoOnde histórias criam vida. Descubra agora