Capítulo 3

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Você está saindo da minha vidaE parece que vai demorarSe não souber voltarAo menos mande notíciaCê acha que eu sou loucaMas tudo vai se encaixar

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Você está saindo da minha vida
E parece que vai demorar
Se não souber voltar
Ao menos mande notícia
Cê acha que eu sou louca
Mas tudo vai se encaixar

Pitty - Na sua estante

Bia

Não posso mais adiar, eu esperei tanto tempo, mas precisa ser hoje. Aperto o papel com o número e ando a passos lentos até o telefone público, meus avós estão em casa, não posso falar com eles lá, só tem um telefone e fica na sala, do jeito que eles são, fingem não ouvir, mas vão ouvir tudo.

Eu tenho chorado tanto que nem sei quando foi o dia que não chorei, quando voltei pra casa ele tinha ido embora, nem sequer se despediu. Como pôde? Não ligou, passou dias e nada, eu me sentia abandonada e agora tudo piorou, o meu mundo parece estar ruindo aos meus pés, sinto vontade de morrer, sumir, não sei.

Uma chuva fina começa a cair sobre mim, ótimo, só assim as pessoas não ia vê minhas lágrimas, corro um pouco até o telefone, entro na cabine e pego o telefone do gancho, seguro-o com força, sem me mexer, encarando o aparelho vermelho diante de mim.

Dentro do meu bolso várias moedas para o caso de a conversa ser longa, a gente sempre passou horas conversando ao telefone, mesmo morando pertinho, os pais dele sempre foram exigentes e não deixavam ele sair a hora que bem entendesse.

— Edu, você é um idiota, como eu pude ser tão tola? — Os professores falaram tanto, bateram na tecla várias vezes e mesmo assim eu acreditei no que ele disse. Agora tem um bebê crescendo dentro de mim e não sei o que fazer, simplesmente não sei.

No mínimo serei morta e enterrada no quintal pelos meus avós. Claro que não fariam isso, eles me amam tanto, mas pensar na cara de decepção que eles vão fazer quando souberem, me deixa arrasada demais.

Desamaço o papel, já sei o número, decorei em poucos segundos, mas o levei comigo mesmo assim, penso que era o que me mantinha na realidade, por que estou fora dela depois que vi os dois riscos vermelhos no teste de farmácia que fiz há um mês.

Agora com quatro meses exatos eu me obriguei a vim até esse telefone, ligar pra ele e contar tudo, pra que juntos tomassemos uma decisão, afinal, o bebê é nosso.

— Meu Deus! Por que tem que ser tão difícil? — Soluço voltando a chorar de novo. Eu só queria meu amigo de volta. — Por que teve que me beijar?

Estragou tudo, e ainda foi embora, não pensou em mim um minuto sequer, correu atrás dos sonhos sem lembrar que ia me deixar aqui sozinha.

As lágrimas me assaltam mais uma vez, o desespero é grande demais, o medo me domina, a incerteza do amanhã me assombra tanto, que penso que vou enlouquecer a qualquer minuto.

Aperto o botões dos números sem pressa, meu coração já saltando em meu peito, respiro fundo e tento controlar meu nervosismo.

— Alô! — É a voz da dona Isabel, mãe do Edu.

— Oi dona Isabel é a Bia. — Digo com a voz trêmula.

— Bia! Como vai? — Ela parece estar bem feliz.

— Bem, er... O Edu ta ai? — Minhas mãos estão suadas e a cabine fechada parece querer me sufocar, a chuva aumentou um pouco.

— Sim, você teve sorte, acabou de chegar. — Diz sorrindo. — Só um instante. — Ouço passos, conversas, mas não dá pra ouvir bem o que dizem.

Parece haver mais gente na casa, pois vez ou outra consigo identificar risadas altas, acho que estão comemorando.

— Bia! — A voz dele está eufórica. — Oi, desculpa a demora.

— Ei... E aí? — Que bosta.

— Nem acredito que estamos nos falando, tem tanto tempo. — É, quatro meses pra ser mais exata, mas quem está contando, não é? Eu, eu estou contando. — Espera, eu vou em um minuto. — Edu diz pra alguém rindo.

— Edu...

— Bia, você não vai acreditar, aqui é o máximo, nossa, sinto que vou explodir de tanta alegria. — Encosto na cabine que já está com os vidros totalmente embaçados por conta da chuva. — Fui contratado pra jogar no time principal, acredita? Só tenho dezessete e sou o maior destaque.

Aí meu Deus. Ele vivia me dizendo sobre essas coisas de futebol, a importância de entrar em um time bom, o monte de baboseira sobre ficar rico e famoso.

— Que legal Edu, fico feliz por você... Eu queria... — Tento.

— Ah, tu não faz ideia, aposto que em menos de um ano você vai ouvir falar tanto de mim por aí. — A alegria na voz dele é palpável. — Bia, eu consegui, todos os meus sonhos estão se tornando reais, fiz tantos amigos aqui.

Claro que fez, ele sempre foi bom com as palavras, é óbvio que iria chegar longe jogando, era o melhor na escola, o destaque nos campeonatos. Continua falando sobre conhecer os jogadores famosos, que agora ele vai conhecer, no quanto a mãe e o pai estão orgulhosos por ele estar se tornando tudo o que eles queriam.

— Tava pensando em ir te vê nas férias, mas pelo visto não vai dá, conciliar o último ano da escola, treinos e jogos está muito difícil. — Não parece triste com isso. Como posso tirar isso dele? Sei que um filho pode acabar com tudo, não posso ser a pessoa que vai desviar ele de seu sonho. — Você precisa vir aqui um dia, tem tanto lugar bacana.

— Quem sabe um dia. — Seco as lágrimas e evito não soluçar. — Que bom Edu, você é o melhor, treine muito, você merece todo sucesso do mundo.

— Obrigada Bia, mas então, como estão as coisas aí? Como você está? — Amasso totalmente o papel e o deixo cair no chão.

— Melhor impossível. — Minto.

— Preciso desligar, o pessoal do Sub-17 está aqui em casa, nós vamos comemorar. — Não consigo evitar o soluço. — Bia... Aconteceu alguma coisa?

— Nada, tá tudo bem, estou tão feliz em falar com você, boa sorte Eduardo, a gente se fala outra hora, preciso ir também, adeus. — Desligo e saio da cabine direto pra chuva, as lágrimas me cegando.

Não posso tirar dele a felicidade, não posso, Edu não merece isso, sempre foi bom comigo. Contar me faria uma péssima amiga, darei um jeito.

Quando ouço a buzina já é tarde, o impacto me atinge com muita força e logo meu corpo é jogando longe, ao atingir o chão, sinto as pancadas enquanto meu corpo gira até que para.

— Oh meu Deus Roberto, você a matou! — Ouço um grito desesperado de uma mulher, sinto o gosto de sangue na boca, mas é só isso, nada mais.

— Vou chamar ajuda, não se mexa. — O homem diz, não consigo me mexer, uma sombra está sobre meu rosto, mas não consigo focalizar a visão.

— Tem um bebê... Um bebê... — É o que consigo tentar dizer, pois tudo apaga assim que perco os sentidos.

[DEGUSTAÇÃO] Amizade em JogoOnde histórias criam vida. Descubra agora