Prodígio ✽ Um

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- Lembre-se do mais importante. – Mamãe fala pela milésima vez no dia. - Sinta com a alma filha. – Ela diz tocando meu rosto.

- Pode deixar mamãe. – Falo pegando sua mão de meu rosto e a apertando com o intuito de tranquiliza-la.

Ela sorri e uma das pessoas que organizavam o concurso a chamou para ela se dirigir as cadeiras em frente ao palco.

- Tenha certeza de se divertir querida. – Ela diz, enquanto me abraçava e eu sorri mostrando todos os meus dentes numa careta a fazendo gargalhar.

Assim que sua sombra sumiu no corredor e só sobraram eu e meus pensamentos para me acalmar, minha postura se envergou e eu soltei todo o ar que estava prendendo.

Eveline Arnaud.

Esse é o nome de minha mãe. Os meus avós eram amantes da música clássica, mas não tinham o talento para tocar nada, então, investiram em sua única filha. Ela ganhou vários prêmios de piano na adolescência, mas por conta de um deslocamento na mão devido a uma queda, teve que parar de tocar.

Papai disse que ela entrou em uma depressão profunda por conta disso, mas quando eu nasci, a esperança veio até ela e eu me tornei o que sou hoje.

O prodígio do piano.

Por isso eu estou aqui. Na competição de música mais importante do mudo.

Meninos e meninas de todos os países se reuniram aqui com a esperança de ganhar uma vaga no Instituto Curtis de música, na Filadélfia. Nas semifinais do concurso, existiam representantes da Inglaterra, Alemanha, Coréia, Portugal, Estados Unidos e Brasil.

E EU ESTAVA CONCORRENDO A UMA VAGA NA FINAL!

Sem surtos Jasmin. Sem surtos. Repreendi-me mentalmente.

Encarei o palco a minha frente respirando fundo.

Eu seria a próxima.

Será que Bach também ficava nervoso antes das apresentações? Porque eu estou. Bem nervosa. Muito nervosa. Bastante nervosa. E se alguém perguntar como eu estou neste momento, eu diria... Deveras nervosa.

E se eu errar uma nota? Eu não trenei aquele acorde o suficiente. Porque meus dedos estão duros? Eu preciso aquecê-los mais. Onde está minha mãe? Ai meu Deus. E se o piano não estiver em boas condições? E se...

- Ei! – Chama uma voz grave ao meu lado. Quando me viro para encarar quem quer que fosse, me deparo com um garoto da minha idade, aproximadamente, com os olhos puxados e agraciado com duas covinhas fofas nas bochechas.

– Você não é aquela garota que toca piano, violino, violoncelo, culelê e bateria? Rio com a cara dele de admirado e concordo com a cabeça. - Jasmin, não é? O seu nome? – Concordo novamente. – Eu sou Kim Nam Joon. – Ele fala pausadamente e eu me inclino para frente tentando entender a pronuncia e repetindo comigo mesma depois. – Da Coréia.

Sorrio calorosamente e me viro para o palco novamente. Caleb Stein, da Alemanha, tocava um solo de violino magnificamente e ao invés de me sentir intimidada, como era de se esperar, eu simplesmente me concentrei na música a ponto de não prestar atenção em mais nada.

Meus dedos se moviam com as notas e meu coração batia no ritmo da música até que...

- Ele errou o compasso. – Falamos Nam Joon e eu em uníssono.

Nos encaramos por um segundo antes de voltar a prestar atenção na peça.

- É uma pena. Ele é um bom músico. – Comenta o garoto cruzando os braços.

APENAS PALAVRAS - KIM NAM JOONOnde histórias criam vida. Descubra agora