Minnie ✽ Cinco

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- Mãe. A Jasmin deu em cima de um cara hoje. – Estava em meu quarto quando escuto Marjorie pelo telefone e levanto correndo para tirar o aparelho da mão dela. – EI!

- Oi mãe. – Digo ofegante afastando Marjorie com a mão que ainda reclamava.

- Que cara é esse Jasmin? – Mamãe pergunta em um tom que eu, infelizmente, conhecia muito bem.

Ela só usava esse tom de voz antes de me dar um sermão gigantesco.

- É só um cara de uma livraria que a gente frequenta. – Explico desesperada pra ela não entender errado, mas fingindo tranquilidade. – Eu pedi umas informações de um livro e a Marjorie achou que a gente estava namorando. – Rio forçado. – Sabe como é né? Criança vê amor em tudo.

- EU NÃO SOU CRIANÇA! – Marjorie grita e eu jogo uma almofada em sua cara, saindo da sala pra ir até a varanda conversar com mais privacidade.

- Hmmmm. Sei. – Mamãe diz desconfiada e eu paraliso sem saber o que dizer. – Você toma cuidado com esses homens daí viu? Não está na hora de eu ter netos ainda.

- Sim senhora. – Digo com um riso nervoso doida pra mudar de assunto. – Mas eai? Quais são as novidades?

- Um novo aluno se matriculou na aula de piano hoje. – Ela começa calma e eu me sento numa das cadeiras virada para a vista da cidade.

- Decidiu dar aula de piano de vez?

- Acho que é o melhor mesmo, Minnie. – Rio ao escutar o apelido. – O que foi?

- Nada. – Respondo com um sorriso. – Só faz tempo que eu não escuto esse nome.

- Você vai ser minha Minnie pra sempre. – Ela diz e minha garganta começa a fechar. – A minha Minnie que disse querer casar com o Mickey quando tinha a idade da Marjorie, porque ele era divertido e você gosta de coisas divertidas.

Gargalhamos juntas e depois um silêncio confortável se instalou.

- Eu sinto sua falta, mãe. – Digo sentindo a lágrima escorrer lentamente pela minha bochecha.

- Oh minha filha. – Ela diz e eu consigo imaginar exatamente sua expressão. – Eu também sinto a sua meu bebê.

- Quem é bebê é a Marjorie. – Reclamo com a voz tremida.

- Vocês duas são meus bebês. – Ela fala e isso só aumenta minha vontade de sair correndo daquela cidade cheia de poluição e ir abraça-la sentindo o cheiro de grama molhada.

Ela fica quieta só me escutando chorar baixinho, já que não era uma coisa que acontecia muitas vezes.

Estar tão longe assim dói. Dói muito. Sinto falta de tudo.

Sinto falta das vezes que minha mão doía por ficar o dia todo tocando e ela sempre me esperava com uma vasilha com água quente e um chá de boldo porque é bom para o estômago. Sinto falta de quando eu passava mal e ela vinha com uma pasta ardente pra colocar no peito e massagear meus pés dizendo: "Eu vi naquele livro de medicina que seu tio comprou pra mim que tem que esfregar os pés assim.". Sinto falta dela perguntando como foi o dia na escola e falando pra eu não me preocupar com notas por que o que importava era a minha saúde e depois ficava sem saber o que dizer quando eu tirava nota baixa. Sinto falta de quando eu chegava em casa extremamente cansada e ela fazia o melhor sanduíche caseiro do mundo só pra eu não dormir sem comer.

Sinto falta da sua risada escandalosa.

Sinto falta da minha casa.

Levei um susto quando as mãozinhas de Marjorie envolveram meu pescoço.

APENAS PALAVRAS - KIM NAM JOONOnde histórias criam vida. Descubra agora