Capitulo 4

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Meu tio (o marido de Lola) está prestes a chegar, e espero que ele não seja tão estranho quanto a tia Lola. Quero dizer, ela é legal, mas carrega consigo tanta... Tanta angústia!

Como uma típica manhã de sábado, tomei meu café-da-manhã e fui me arrumar. Coloquei um vestido verde e fiz uma trança em meu cabelo ruivo, comecei a ler Moby Dick, mas fui interrompida quando a campainha tocou. Era meu tio Guillermo, o sentimento de vergonha tomou meu corpo, mas corri pra sala e sentei-me no sofá.

-Amélia!

Guillermo usava calças escuras, luvas de lã, um blazer azul e um chapéu grande, quero dizer, MUITO grande. Não sabia que existiam chapéus assim.

-Olá, tio.

-Como você tá crescida!-ele riu- Da ultima vez que te vi, era tão pequenina! Continua muito bonita, ouviu?

Ele colocou a mão na minha cabeça e sacudiu.

-Ora senhor, muito obrigada!

Ele se virou e se sentou no sofá, olhando pra tia Lola.

-Coloque um café para mim, agora.

-Sim, claro.

Ela saiu em disparada. Assim que tio Guillermo chegou, tia Lola passou de estranha independente para estranha submissa. Ela definitivamente não era assim. Algo muito estranho estava acontecendo.

Acordei na madrugada de domingo, ouvi barulhos no quarto ao lado. Me levantei e fui ver, a porta estava entreaberta, a luz acesa. Tio Guillermo gritava com tia Lola.

-Não devia ter contado para ela, ouviu?

-Perdão, querido!

-Eu te mato!-ele suspirou, começou a sussurrar- Eu te mato em um segundo, Lola. Você é minha, sempre será!

-Guillermo, acalme-se!

-Como?-a voz dele engrossou, continuou gritando- O que irá contar na próxima vez? Contará o que te fiz? Ora, sua... sua...

Pude ouvir o barulho de sua mão estapeando o rosto de minha tia. E os passos apressados dela, e a porta rangendo, e pude ver, com clareza, a expressão no rosto de tia Lola ao me ver. Era tristeza, medo, todos os piores sentimentos juntos.... Eu estava horrorizada, o que poderia fazer?

Ela, calmamente, fechou a porta, pegou minha mão e me levou até a sala.

-Amy, fale algo!

-O seu rosto está vermelho!

-Escute, não fale nada com sua mãe...

-Ele precisa ser preso!

-Não é tão simples.

-Por que quer continuar com ele depois do que te disse? Depois de te bater?

Ela começou a chorar

-Oh, tia...

- Não quero continuar com este homem, não mesmo!

-Denuncie-o!

-Ele é mais perigoso do que parece, Amy. Há muitas coisas envolvidas nisso, coisas que não poderei te contar...-ela pegou um lenço e enxugou as lágrimas- Mas só digo algo, não fale com seus pais, eu resolverei isto, sozinha.

-Tia!-logo percebi que também estava chorando, soluçando- Ele te ameaçou de morte! É um péssimo homem, um péssimo...

-Calada!- seus olhos estavam vermelhos, sua voz engrossara-Vá para seu quarto, agora!

Eu corri, corri o mais rápido que pude. Tranquei a porta do quarto, deitei na cama e me cobri com todos os edredões que achei. Não sei do que mais sentia medo, de meu tio perigoso, de minha tia temperamental, ou do que está por vir.

The soul of the witchOnde histórias criam vida. Descubra agora