𝒊𝒊. haru

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Y U K    M I N G
Março de 2017 - Primavera


Mesmo que você esteja perto de mim,

parece tão distante.


FAZ EXATAMENTE UMA SEMANA desde o início do segundo semestre letivo. As aulas continuam desinteressantes, o clima permanece frio e eu ainda estou presa em um amor impossível. Nada parece diferente, mas meus colegas de classe estão ainda mais eufóricos e insuportáveis.

Depois de seis meses, todos já possuem seus próprios grupinhos e não me incluo em nenhum deles. Não é que eles sejam maldosos e tenham me deixado de fora. O problema é que são pessoas rasas, simples e transparentes; somos diferentes demais e apenas não me encaixo.

Usualmente, durante os intervalos do almoço, vou a sala de música no terceiro andar. O lugar sempre está vazio e silencioso, o que traz paz a mente e ao coração. Porém, diferente do normal, quando virei o corredor do segundo andar em direção as escadas, ele me chamou.

— Onde vai, Yuk? — seu sorriso fez meu coração palpitar.

— Almoçar.

— Sozinha? — após receber um aceno como resposta, Mingyu me encarou profundamente. — Venha almoçar comigo. É na sala do conselho, mas pelo menos terá companhia.

Não consegui respondê-lo. Yen Ling, a vice-presidente do conselho estudantil, o chamou no começo do corredor, dizendo que precisavam ir à diretoria resolver algo sobre a cerimônia de abertura do novo semestre.

— Sinto muito, Minggie. — afagou meus cabelos como uma forma de se desculpar. — Amanhã nós vamos almoçar juntos, ouviu?

Quando os dois já haviam desaparecido no fim do corredor, comecei a subir as escadas.

— Não devia fazer promessas que não pode cumprir, idiota. — murmurei.

Kim Mingyu veio para a China quando tinha seis anos. Na época, eu estava com quatro anos e quando meus pais me contaram que nossos vizinhos eram de outro país, achei aquilo fantástico. Mesmo que Mingyu não soubesse muito de mandarim, nos tornamos amigos e a comunicação foi melhorando. Sempre fizemos tudo juntos e ele sempre cuidou de mim; pelo menos, até mudar de escola.

O Kim era mais velho e por isso entrou no ensino médio antes. A escola ficava no caminho oposto e foi assim que nos distanciamos. Eu raramente o via nos fins de semana, e quando isso acontecia, ele estava com seus novos amigos. Apenas alguns metros nos separam agora, mas sinto como se fossem milhas. Mingyu tem uma vida sem mim enquanto continuo presa ao amor não correspondido que sinto por ele.







Assim que cheguei ao meu destino, empurrei a porta.

No canto esquerdo haviam algumas carteiras empilhadas, mais a frente, os instrumentos utilizados nas práticas do clube de música, perfeitamente organizados e limpos. A minha direita havia o quadro negro com alguns avisos e lembretes do professor orientador e, bem ao canto, perto das janelas de vidro, um deslumbrante piano negro de cauda, que reluzia na luz do sol.

Respirei fundo. Até mesmo o ar naquele lugar parecia mais puro.

Você vem sempre aqui? — sorri levemente ao ouvi-lo.

Bem ao centro, escorado no batente da janela aberta, se encontrava Xu Minghao. Os cabelos castanhos brilhavam pelo contato com os raios solares, os olhos negros me encaravam gentis e o suéter de inverno verde escuro lhe caia muito bem. Nunca confessaria em voz alta, mas era acolhedor saber que alguém esperava por mim todos os dias.

— Isso parece uma cantada. — a passos lentos, aproximei-me dele.

— Talvez seja. — ele sorriu calorosamente.

— Não devia ficar com seus amigos?

— Eles podem sobreviver sem mim por alguns minutos. — apoiada no parapeito da janela, observei o jardim dos fundos, onde algumas pessoas aproveitavam o sol para se aquecerem. — O que aconteceu?

— Encontrei Mingyu no segundo andar. Ele me chamou para almoçar.

— E...? - incentivou.

— Yen Ling apareceu e os dois foram para a diretoria. -— suspirei.

Minghao não disse nada. Ele não precisava. Sabíamos o que sentiam um pelo outro, ainda que eles não se dessem conta disso.

— Por que as coisas não podem dar certo para nós? — questionei, girando nos calcanhares para encará-lo.

— Talvez estejamos fadados a viver um amor impossível; talvez seja um castigo pelos pecados que cometemos em nossas vidas passadas. — aproximou-se, ficando com sua boca a centímetros da minha. — A lista de possibilidades é enorme, mas não conseguimos responder de forma concreta, provavelmente, nunca conseguiremos.

Senti os polegares de Minghao acariciarem minhas bochechas, nossas respirações se misturando e os narizes se tocando. Ele selou nossos lábios, aprofundando o beijo em seguida.

Na visão de todos, somos o casal perfeito. Porém, nosso amor nunca foi real, afinal, somos apenas substitutos para outras pessoas.

𝐊𝐀𝐓𝐀𝐎𝐌𝐎𝐈, xu minghaoOnde histórias criam vida. Descubra agora