𝐊𝐀𝐓𝐀𝐎𝐌𝐎𝐈, xu minghao

𝒊𝒊𝒊. aki

Y U K M I N G
Setembro de 2016 – Outono

Esses sentimentos estão indo

e voltando.

A IDEIA DE INICIAR ALGO NOVO É ASSUSTADORA.

Nunca pensei assim, pelo menos, não até alguns anos atrás.

Kim Mingyu sempre esteve por perto e isso me causava uma segurança inexplicável, mas, quando nossos caminhos se separaram, me tornei uma garotinha medrosa. Nasceu em meu interior o medo de ser esquecida, de nunca me tornar a novidade na vida de alguém.

Os Wei sempre tiveram uma ótima relação com os Kim, o que fez com que Mingyu e eu crescêssemos juntos. Desde que me lembro, sempre dissemos um ao outro 'eu te amo', porém, em algum momento, esse amor que sentia por ele se tornou diferente. Enquanto Mingyu me amava como uma irmãzinha, eu já não o via mais assim.

Sem perceber, me apaixonei pela única pessoa que nunca me amaria da mesma forma.

Esportes nunca foram meu ponto forte.

Durante a primeira aula de educação física do semestre, foi-se dito que aqueles sem interesse nas atividades deveriam se retirar. Obviamente, não pensei duas vezes antes de sair do ginásio e começar a explorar cada pedacinho daquela enorme instituição.

Enquanto passeava pelo corredor no terceiro andar do prédio principal, ouvi vozes levemente alteradas. Na placa ao lado da porta se lia "sala de música" em uma caligrafia bonita.

— Por que nunca me apoia em nada, Minghao? — uma voz feminina indagou, parecendo bastante chateada. — Parece até que não quer que eu encontre o cara certo.

— Talvez eu não queira mesmo. — outra voz, dessa vez masculina, exclamou gravemente.

— Ótimo. Talvez eu também não precise mais dessa amizade tóxica.

Ao fim da frase, uma garota portadora de belos fios em um tom caramelo saiu da sala. Em seus braços, vários papéis eram quase amassados pela força com a qual os segurava, seus olhos esverdeados pareciam a ponto de transbordarem lágrimas e seus fios se esvoaçavam conforme dava passos pesados até sumir pelo longo corredor.

— Como posso te apoiar quando o cara certo está bem aqui, mas você não parece perceber? — lentamente, assim como veio, a indagação também se foi.

Silenciosamente, adentrei o cômodo. Bem ao fundo, próximo a janela, um garoto de cabelos castanhos se encontrava em frente ao piano. Parecia não ter a intenção de tocá-lo já que observava o céu distraidamente.

A passos leves, caminhei até ele.

— Posso?

Quase caindo por girar rápido demais, o menino arregalou os olhos ao me ver.

— Pode o quê?

— Sentar.

Assentindo com a cabeça, o – ainda – desconhecido foi para o lado, deixando um espaço livre para mim.

Calmamente, dedilhei algumas teclas do piano, tentando lembrar as notas da única música que sabia tocar.

— Sou Wei Yuk Ming, estou no primeiro ano. Desculpe, ouvi a discussão.

— Sem problemas. É culpa nossa por fazer isso em um lugar público. Sou Xu Ming Hao, segundo ano.

Assenti, não sabendo o que dizer em seguida.

— Não deveria estar na aula, senhorita Wei? — seu tom de voz soou diferente, mais brincalhão, eu diria.

— É educação física. — essa simples frase bastou para que suas dúvidas fossem sanadas.

Continuamos em silêncio por alguns minutos, apenas apreciando o momento de reflexão.

— Não ter seu amor correspondido é uma droga, não é? — indaguei.

Minghao me encarou, conseguia ver o questionamento silencioso em seu olhar, mas ele não o tornou audível.

— É. Talvez seja a maior das drogas.

Pensei em suas palavras por um momento.

— Talvez. — concordei. — Nossos sentimentos não são correspondidos e, quanto mais forte sentimos, mais sofremos e nos entristecemos.

Segundos depois, o Xu gargalhou.

— Acho que talvez é o nosso para sempre. — sorriu divertido.