M I N G H A O
Dezembro 2016 - InvernoNão desvie o olhar quando nossos olhos
se encontram.
É IRÔNICO O QUANTO A ESTAÇÃO MAIS FRIA, pode ser também a mais acolhedora.
Com a chegada do inverno, o recesso escolar teve início na segunda semana de Dezembro. Como usual, o trabalho é posto em primeiro lugar e muitas famílias não estariam reunidas para nenhuma das comemorações.
Porém, diferente dos outros anos, desta vez eu não estaria sozinho.
— Minghao, estou entediada! — a exclamação da mais nova chegara mais cedo que nos outros dias.
Yuk Ming descobriu que tanto meus pais quanto os dela estariam ocupados durante todo o recesso de inverno e se auto convidou para passar três semanas em minha casa.
Longe de mim reclamar disso. É muito melhor a tendo por perto para espantar o silêncio mórbido.
— E o que você quer que eu faça? — questionei, sem desviar o olhar da TV na qual jogava Resident Evil pela terceira vez. Estávamos em meu quarto, Yuk lia um dos mangás que pegara na estante, enquanto me observava sentado no chão.
Alguns minutos de silêncio antecederam os braços finos que rodearam minha cintura e a respiração quente em meu pescoço.
— Vi Mingyu-oppa hoje. — sua voz saiu baixa e abafada por estar com o rosto pressionado entre minhas omoplatas. — Ele estava com uma garota bonita. No final, beijou-a e eu percebi se tratar da Yen Ling.
Ainda era difícil entender o que oppa significava, mas, no resumo feito pela própria usuária da palavra, parecia ser uma expressão coreana para se referir à garotos mais velhos e só ouvira Yuk Ming utilizar aquilo para se referir a Kim Mingyu.
— Não chore, Yukkie. — nunca soube como consolar ou aconselhar ninguém, muito menos garotas que sofriam por amores impossíveis.
— Não estou chorando. — o som se tornara mais audível por Yuk ter encostado apenas sua testa em minhas costas. — Só queria saber como é dar minhas primeiras vezes a pessoa que amo. Sempre imaginei que meu primeiro beijo seria com Mingyu, mas isso parece cada dia mais distante.
Pausei o jogo antes que perdesse todo progresso feito até então. Após colocar o console na mesa de centro, repleta de livros e revistas, respirei fundo.
— Yukkie, você nunca beijou ninguém? — tentei controlar o espanto em meu tom de voz.
A herdeira dos Wei não respondeu, mas pude sentir o movimento de sua cabeça ao concordar com meu questionamento.
O que se sucedeu em seguida é algo que não sei explicar e acho que nem a própria Wei sabe.
— Talvez eu não seja tão gentil quanto ele poderia ser. — sussurrei ao girar meu corpo, encostando minha testa a de Yuk, encarando seus olhos castanhos repletos de confusão. — Feche os olhos e imagine que eu sou Kim Mingyu.
Sem hesitar nenhum segundo, Yuk Ming o fez.
Aproximei nossos rostos lentamente. Os narizes se encostaram, a respiração quente se tornando uma enquanto os lábios finalmente se encontravam. Um pequeno choque elétrico passou por nossos corpos e, rodeando a cintura da menor, aprofundei o beijo.
Quando o ar se fez necessário, paramos. Yuk Ming permanecia com os olhos fechados, os braços em meu pescoço e a testa colada na minha.
— Me perdoe por roubar as primeiras vezes da sua adolescência. — murmurei ao encarar seus olhos castanhos.
— Você não precisa se desculpar. Não há ninguém melhor que você para isso. — sussurrou em resposta, exibindo um sorriso sincero antes de se aproximar para outro beijo.
O alaranjado característico dos fins de tarde era a única luz presente no ambiente.
Wei Yuk Ming arrumava suas coisas enquanto cantarolava uma música baixinho.
Era sempre assim. Ela vinha pela manhã e ia embora no fim de tarde. Em minha opinião, sua presença se parecia com as boas lembranças; vinham sem hora marcada e quando menos se esperava, haviam se esvaído.
— Haonnie. — o apelido novo e estranho que recebera da menor chamou minha atenção. — Podemos continuar?
— Continuar o quê?
— Isso. Imaginar que eu sou Yen Ling e você é Mingyu. — A menina se aproximou lentamente da mesa de centro, onde eu rabiscava uma folha de papel.
Encarei a Wei por algum tempo, até que ela tomou iniciativa e estendeu seu mindinho direito para mim.
— Você quer continuar com isso, mas age como uma garotinha da pré-escola na hora de fazer promessas. — ri de sua inocência, estendendo meu mindinho também, selando um acordo silencioso.
Porém, o que Wei Yuk Ming nunca descobriu é que na primeira vez que nos beijamos, eu não estava pensando em ninguém além dela.
Naquela tarde fria de Dezembro, nós fizemos um pacto. Um não se apaixonaria pelo outro e tudo chegaria ao fim quando um de nós conquistasse a pessoa amada. Teríamos tudo, menos os sentimentos.
Assim, faríamos nossos desejos se tornarem realidade, mesmo que não fossem com quem desejássemos.
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𝐊𝐀𝐓𝐀𝐎𝐌𝐎𝐈, xu minghao
Fanfic"they were just kids with broken hearts" Wei Yukming e Xu Minghao descobrem que corações partidos, além de doerem como o inferno, nunca são completamente curados.