Luísa
Acordei sentindo dor. Dulce entrou segundos depois, parecia que sabia que eu ia acordar. Tirei o braço da Melinda do meu pescoço devagar, não queria acordá-la, vi que foi dormir bem tarde.
— Trouxe o remédio. — sussurrou segurando o remédio e um copo d'água.
— Obrigada. Preciso ir ao banheiro.
— Vem te ajudo.
Mel se mexeu acordando.
— Pode dormir, meu amor. — sussurrei e dei um beijo carinhoso nela.
Mas fez questão de me ajudar, auxiliando Dulce. Notei sua energia pesada. Tomou café calada. Leu notícias no celular.
Esperei Dulce sair para abordar minha noiva chata.
— Amor, aconteceu alguma coisa? Está tudo bem?
— Sim.
— Sim o quê?
— Estou bem. Desculpa, acho que tô com sono. — respondeu se levantando.
— Melinda, senta aqui. Vamos conversar agora, depois você dorme.
Ela obedeceu e respirou pesadamente.
— O que houve? Você mudou depois que conversamos ontem, fala comigo, por favor.
— É sono, Luísa. Desculpa.
— Não é só sono, Mel. Por favor, confia em mim. Aconteceu alguma coisa?
Ela engoliu saliva e vi seus olhos marejados.
— Eu vi como você falou da Ângela, seu orgulho por isso e me senti mal.
— Se sentiu mal porque eu disse que a Ângela é minha maior referência? Por que isso agora, amor? Você sempre soube disso.
— Eu sei, mas fiquei pensando. Você não me admira como admira ela...
— Se você se arrependeu de ter me pedido em casamento é só falar, tá? — brincou para amenizar o clima desnecessário.
— Claro que não, Luísa. Também não sou isso. Olha o que você pensa de mim...
— E o que você pensa de mim, Melinda? Eu admiro a Ângela, a Fabí, a Viola Davis, a Carina Bragantino. São referências, espelhos. Por sua determinação e feitos.
— Você tem gostos diferentes dos meus, tem uma índole incontestável... nós não temos nada em comum. Você já parou para pensar nisso?
— Sim, eu parei. Chorei pra caramba tentando me convencer de que tudo isso que você falou era suficiente pra eu aprender a viver sem você. Pra eu arrancar o que eu sentia de dentro de mim porque você é egocêntrica, egoísta, de índole duvidosa, tudo isso. — Limpei meu rosto, pois eu já chorava.
Era inaceitável depois de tudo o que passei ouvir aquela dúvida dela.
— Eu...
— Eu te xinguei de tudo, Melinda, para me convencer de que eu seria mais feliz sem você. Mas não adiantou. Eu não consegui não só não arrancar o meu amor por você de dentro de mim como ele conseguiu o que eu achava impossível de acontecer: aumentar, consideravelmente.
— Você...
— Não diz nada. — Meneei a cabeça e tentei sair dali, mas não pude destravar a cadeira.
— Amor, espera... — pediu ajoelhando-se a minha frente. — Desculpa. Eu estou me sentindo um lixo. Queria ser referência pra você também.
— Você tem o sentimento mais nobre da minha parte, Melinda, não precisa dessa admiração. Somos de áreas diferentes. E eu a admiro de tantas outras formas. Precisa aceitar isso.
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Entrelaçadas
RomanceContinuação da história de Melinda e Luísa de Hope - A Menina Índigo ______ Depois de um relacionamento conturbado e quase trágico, Melinda e Luísa estão de volta para nos mostrar como estão suas vidas na bela Gran Canária.