Dez

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Melinda


Luísa insistiu para que eu começasse o curso logo. Ainda protestei, pois ela precisava de mim, mas acabou me convencendo que a Dulce faria o papel na parte da manhã e iniciei o curso. Ótima turma. Gostei de todos os professores. Já falei com todo mundo, me apresentei. Em pouco tempo eu era cumprimentada por todos. Era boa em marcar presença. Flertei com algumas pessoas também.

Gi me contou o que houve entre ela e Érica e a xinguei toda. Contou que Cristiano avisou em um grupo de WhatsApp que iria viajar para a Europa e ficou com medo.

— Gi, relaxa. Ele não vai sair daí. Ele levou uma surra para nunca mais esquecer. Por isso não pode sair de casa.

— Como assim, Mel? Eu ouvi falar que um cara bateu em alguém, mas não fui procurar saber de nada. Não me diz que você mandou fazer isso. De novo, Melinda?

— Mandei. Só que dessa vez eu não fui burra. Aquele maldito quase matou a Luísa. E não venha com julgamentos, não me arrependi e se mexer comigo de novo, mando matar ele.

— Cala essa boca, Melinda. Deixa de ser doida. Para de falar essas besteiras. Onde você está? Cadê Luísa?

— Luísa tá em casa. Estou saindo do curso. Já me enturmei aqui. Consegui reunião com alguns clientes.

— Que bom. Deixa de ser doida.

— E Érica?

— São Paulo. Acho que a perdi, Mel.

— Que exagero, Gi. Foi só a primeira separação de vocês. Nem parece lésbica.

— Queria ver se fosse você. Ah, é eu vi. Idiota. A Érica é seca, fria, nunca sei o que fazer.

— Como conseguiu namorar com ela.

— Na cara de pau. Só me arrisquei, você sabe.

— E o que você está fazendo aí? Desliga esse celular e vai atrás dela, Gi. Não te conheci assim, não. Vou dirigir agora. Depois nos falamos. Se cuida. Beijo.

Todo dia eu passava no Dom e levava um café para Luísa. No primeiro dia que fiz isso, ela me beijou igual uma criança ao ganhar um presente.

Cheguei em casa àquele dia e fui recebida por Dulce, que avisou que Luísa estava com cliente. Coloquei o copo de café sobre uma mesa e fui ao quarto. Quando saí, vi Dulce com uma bandeja com dois copos com água.

— Quem está aí, Dulce? Faz tempo? Quero falar com a Luísa...

— Dona Mercedes. Acabou de chegar.

Ouvir aquele nome foi como despertar minha fúria. A imagem dela acariciando a mão da Luísa voltou a minha mente e abri a porta subitamente. Furiosa.

Luísa sorria para a mulher. Mas ficou séria quando me viu e me fuzilou com os olhos. Disfarçou:

— Por favor, Dulce, entre!

Lancei um olhar decepcionado para ela e saí, me tranquei no quarto.

Que ódio!

Fui à varanda e fiquei esperando. Olhei várias vezes para a porta, mas ela não entrou. Eu queria chorar de ódio. Fiquei remoendo aquele sentimento horrível por trinta e cinco minutos e resolvi sair do quarto.

Vi Dulce fechar a porta depois que a mulher saiu. Luísa saía do escritório. Me encarou e meneou a cabeça.

— Que foi?

— É isso que você pergunta?

Fiquei calada. Ela parou para verificar uma notificação no celular.

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