Capítulo V

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Eram quase oito da manhã quando acordei com o despertador do celular tocando. Encarei o teto pensando em absolutamente nada. Quarta-feira é o meu dia de folga. Zara costumava folgar toda sexta-feira, mas devido aos últimos acontecimentos, ela fez a troca para o mesmo dia que eu, assim poderia ficar de olho em mim, como ela mesma disse.

Saí do quarto e o cheiro de bacon com ovos agitou meu estômago faminto.

"Meu Deus, que cheiro divino é esse?" Perguntei quase salivando.

"Café da manhã, bebê. Pode se deliciar." Ela colocou os pratos no balcão e sentou-se ao meu lado.

"Ainda está bem feio."

O hematoma abaixo do meu olho esquerdo já deixou de ser aquele amarelo-esverdeado e agora estava mais escuro e menos dolorido. Ela tocou levemente, apertando os olhos.

"Não se preocupe, não está mais doendo." Sorri ao ver sua expressão de aflição.

"Olha, você precisa ligar para o detetive. Eu sei que você pensa que não pode confiar nele, mas..." Eu a interrompi batendo com a mão no balcão.

"Eu não penso nada, eu sei. Ele já confirmou isso." Meu pequeno surto de raiva fez com que ela me encarasse.

"Desculpe, é que estou cansada de ser a única que não sabe de nada. Por que você quer que eu ligue para ele?"

"Porque você precisa de escolta, precisa de proteção, o que vai acontecer quando não tiver a sorte de ser resgatada por um gostosão desconhecido?" Ela sorriu quando terminou a frase, provavelmente pensando o quão clichê aquilo soou.

"Pare de pensar besteira, há coisas mais importantes para a polícia se preocupar. Não podem ficar dia e noite à minha disposição, além do mais, ele disse que sempre estaria por perto."

"Ah, então tudo bem confiar num desconhecido, mas vamos duvidar de um detetive que foi sincero com você?" Seu tom de voz aumentou.

"Você não sabe quem ele é, não sabe o nome dele, de onde vem ou que relação tem com seus pais, e mesmo assim confia nele? Quem é você e o que fez com minha amiga?"

"Zara, ele salvou a minha vida! Me disse que o detetive iria esconder coisas de mim, ele já provou que posso confiar nele." Me senti mal defendendo um desconhecido, o que poderia ser perigoso.

"Olha, eu prometo que vou tomar cuidado, mas preciso dele porque ele sabe onde meus pais estão, ele sabe de tudo."

"Tudo bem." Ela ainda não sabe mentir. Eu a encarei em silêncio até que se entregasse.

"Ahh ok, tudo bem, eu vou acreditar em você, mas não significa que eu aprovo isso. Ainda acho que deveria manter o detetive na discagem rápida."

Terminamos de tomar café. Enquanto Zara estava no banho, fui lavar os pratos. Ela não estava errada. Embora eu estivesse com raiva do detetive, não podia negar que ele foi sincero, o que é muito melhor do que mentir para mim. Estava odiando toda essa situação.

Zara e eu passamos o dia fora. Almoçamos no restaurante na saída da cidade e aproveitamos as últimas horas da tarde na academia. Assim que escureceu, passamos no apartamento dela para pegar algumas coisas. O porteiro nos deixou entrar, nos cumprimentando quando passamos. Zara morava em um dos condomínios mais caros da cidade. Seu pai era sargento e fazia questão de pagar por todas as despesas que ela poderia ter. Era sua forma de compensar por não ser um pai presente. Se eu tivesse um apartamento como o dela, jamais sairia de casa, mas ela se negava a me deixar sozinha.

"Por que você não vende seu apartamento e vai morar comigo? É melhor do que ficar levando e trazendo suas coisas", falei em tom sarcástico.

"Talvez eu faça isso, já que agora você corre o risco de morrer por causa dos seus pais idiotas", ela apertou os olhos e depois me fitou.

Quem É Ella Lynch?Onde histórias criam vida. Descubra agora