Capítulo XII

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O telefone tocou e meu coração disparou ao ver o nome no visor do celular. Como você se acostuma com uma multimilionária te ligando?

"Thea Heldrys, a que devo o prazer?"

"Ella, vamos começar." Sua voz estava rouca e, em meio às palavras, a tosse seca e os grunhidos mostravam que algo estava errado.

"Sim, mas... Está tudo bem?"

"Não, meu ex-marido esteve aqui." A respiração dela estava pesada.

"Ele levou minha filha, e eu preciso de uma ambulância."

"Thea..."

Eu me levantei e, antes que pudesse continuar, ela desligou. Peguei as chaves e meu casaco.

"O que houve?" Elliot perguntou enquanto Zara tirava os fones de ouvido.

"Eu não sei. Ela disse que levaram a filha dela e pediu que eu ligasse para emergência. Vou chamar no caminho. Volto em breve, mantenha o celular ligado."

Saí logo em seguida. Assim que abri o portão de acesso na entrada do condomínio, percebi a van branca parada do outro lado da rua. Por um momento, pensei que talvez fosse Dan, mas depois de como deixamos as coisas em Istambul, ele não vai me procurar tão cedo. Subi na moto e chamei a ambulância, indiquei o endereço, arranquei e passei direto em todos os sinais vermelhos.

Quando cheguei, os portões estavam abertos e eu podia ouvir a ambulância se aproximando. Deixei a moto no gramado e corri até a porta, que também estava aberta. Thea estava sentada na sala, com as pernas cruzadas e o celular ao seu lado no sofá. Tinha um corte sobre os olhos e seu zigomático direito estava quase exposto devido a um ferimento aberto na bochecha. Com um par de sapatos faltando, tinha sangue por toda a sua blusa branca, que parecia ser de seda. Seus olhos estavam vermelhos. Como ela ainda estava consciente? Me ajoelhei à sua frente e toquei sua mão levemente.

"Meu Deus, Thea?" Eu chamei, mas ela não respondia.

"A ambulância já está na entrada, o que houve?"

Os paramédicos entraram, e percebi que eles se olhavam, provavelmente tão chocados quanto eu. Expliquei a situação, mas eles demoraram a conseguir colocá-la na maca devido às contusões. Precisavam ser cautelosos ao movê-la.

Quando saíram, me certifiquei de arrumar uma mala com roupas e outras coisas que ela precisaria. A casa era mesmo enorme. Quando subi as escadas, encontrei o outro par de sapato. No corredor, havia sangue no chão e na parede.

Depois de procurar em vários quartos, encontrei o dela, que estava impecável. Abri as gavetas e escolhi algumas peças casuais e confortáveis. No banheiro, peguei o necessário e fui para o hospital.

Como eles acabaram de voltar de Paris, ainda não havia empregados contratados, o que era bom, pois haveria muitos corpos se houvesse uma dúzia de pessoas para cuidar desse lugar.

Quando cheguei, todos do lado de fora especulavam sobre o que teria acontecido. Não demorou muito até alguém sair espalhando que Thea Heldrys foi agredida.

Assim que cheguei, perguntei por ela, e então chamaram o médico responsável.

"Você é da família?"

"Ela é minha tia."

Menti, obviamente. Se dissesse que não era da família, não me deixariam vê-la, e no momento ela não tem mais ninguém.

"Os paramédicos disseram que você estava no local. Pode me dizer o que houve?"

"Ela me ligou e disse que precisava de uma ambulância. Quando cheguei lá, a encontrei sentada no sofá. Ela não me disse mais nada."

"Por que ela ligou para você e não diretamente para a emergência?"

"Acredito que era para evitar o envolvimento da mídia. Pode me dizer como ela está? Posso vê-la?"

"Ela teve duas costelas quebradas e contusões no pescoço, devido ao que parece ser estrangulamento. Não vai falar por alguns dias. Vou dar um momento para que possa vê-la, mas preciso chamar a polícia. É protocolo."

Concordei e o segui até o quarto. Quando entrei, ele saiu e fechou a porta.

Ouvi a porta se fechar e fiz um esforço para abrir os olhos. A claridade demorou a se ajustar. Aos poucos, as dores começaram a aparecer. Minha garganta queimava como brasa, minha barriga e meus braços doíam, mas a dificuldade de respirar era o que mais me incomodava. Doía muito, mas me deixava com raiva. Ele tirou de mim a coisa mais normal de todas.

"Oi." Minha voz desapareceu. Mesmo sussurrar exigia muito esforço.

"Não tente falar. O médico disse que..."

"Eles vão me explicar tudo isso depois. Não temos tempo." Mesmo com a sensação de que minha garganta iria explodir, continuei.

"Preste muita atenção. Eu não tenho a quem recorrer. Não posso ir até a polícia sem envolver a mídia, e se ele souber disso pela TV, não sei do que será capaz. Então, vou ser direta: traga minha filha de volta, e eu farei o que estiver ao alcance do meu dinheiro para te ajudar a encontrar seus pais. Faça o que tiver que fazer, mas me traga ele. Eu quero que ele pague pelo que me fez e pelo que fez à minha filha."

Usei todo o fôlego que possuía. As lágrimas desciam pelo meu rosto. Já não podia mais aguentar a dor. Pedi a ela que me desse seu celular e então dei a ela a senha necessária para ter acesso a uma conta pessoal com mais de cinco milhões de dólares. Escrevi alguns nomes e números de pessoas que me deviam suas vidas.

Com isso, me deitei novamente e, como uma criança, me debati na cama. Ella se levantou e chamou as enfermeiras. A última coisa que me lembro de ver foram seus olhos.

Eu conhecia aquele olhar muito bem. Com toda a dor, ainda pude descansar. Eu sabia que ela não iria parar.

P.O.V. Ella Lynch

O caminho do hospital até o apartamento pareceu mais longo, mesmo estando em alta velocidade. Eu nunca tive uma figura feminina que eu pudesse usar como exemplo, mas se pudesse escolher, com certeza seria Thea. Quando cheguei, contei a Zara e Elliot tudo o que tinha acontecido. Ficaram boquiabertos e preocupados.

"Parece que não temos escolha. Com todo o dinheiro e influência daquela mulher, vamos conseguir encontrar as respostas para tudo isso mais cedo do que pensávamos." Zara disse, arrumando as malas.

"Eu já entrei em contato com as pessoas na lista que ela me deu. Você não vai acreditar para onde vamos."

"Passageiros do voo direto para Istambul, última chamada, portão oito."

Quem É Ella Lynch?Onde histórias criam vida. Descubra agora