Capítulo VII

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"Tsc, tsc, tsc, tsc", fiz em som de desaprovação.

"Se eu fosse você, nem pensaria nisso", continuei.

"Você realmente acha que vai ser fácil assim? Você nem sabe o que eles fizeram, Ella", o homem soltou a arma no chão e continuou sério.

"Não tenho ideia, e não me importo com isso. Só estou aqui para cobrar o que me devem. Estou em desvantagem, de certa forma. Você sabe quem eu sou, mas eu não sei seu nome", concluí.

"Não importa, você vai me matar sabendo ou não quem eu sou".

O som dos disparos ecoou pelo corredor vazio. A beleza dos tiros à queima-roupa é o som da bala acertando a pele como um chicote, o pó da pólvora visível no ar. Ao contrário do que dizem, a vingança é sim saborosa.

"Ella!!", ouvi Dan gritar enquanto se aproximava.

"Ella, você está bem? Eu ouvi..." Ele parou quando viu o corpo no chão.

"O que foi que você fez?!", ele gritou, correndo para checar se o homem ainda tinha pulso.

"Ele está morto", eu disse.

"Sua idiota, ele era nossa única pista, era tudo que tínhamos", ele insistia em fazer massagem cardíaca no homem.

"Ele não ia nos dar nada", continuei.

"Não é você quem decide isso! Marco estava certo, não deveria ter deixado você fazer isso sozinha. Você não é confiável, e agora estragou tudo."

Ele parou, com as mãos fechadas em punho. Sua raiva era aparente. Então, ele desferiu um soco de direita que me acertou e quase me derrubou. Senti uma leve tontura.

"Você está fora. Não te quero mais aqui", ele se aproximou e continuou.

"E da próxima vez que nos virmos, corre. Porque eu vou por uma bala nessa sua cara de sonsa."

Ele me encarou por alguns segundos. Não soube dizer se era raiva ou decepção nos olhos dele, talvez fosse ambos. Nossos caminhos se separam aqui, então pegou a arma e deu as costas.

"O que ele te disse?", ele perguntou antes de desaparecer.

"Nada", eu respondi.

TRÊS MESES ANTES

"Eu achei que estava muito mal, mas pelo jeito não", eu disse apertando levemente o ombro dele.

"Foi você que começou a fazer piadinhas desnecessárias em momentos inoportunos. Agora não adianta reclamar", Marco respondeu fazendo careta pela dor no ombro baleado. Revirei os olhos e mudei de assunto.

"O que fizeram com ele? Ele disse alguma coisa?", perguntei.

"Dan vai mantê-lo em algum lugar até que ele diga algo. Sebastian vai cuidar de tudo.

"Bom, já que não temos o que fazer, vou para o esconderijo comer e dormir decentemente. Me liga se precisarem de algo", peguei minhas coisas e saí.

Pensei em usar os próximos dias para ir ver Zara, mas como fomos facilmente encontrados no hotel, não achei que fosse uma boa ideia. Então voltei para o meu quarto, depois de um banho fui direto para a cama. Mesmo sendo fim de tarde, não demorei para pegar no sono.

"Imagina minha surpresa ao, por curiosidade, procurar nos registros e descobrir que Ella Lynch estava agora residindo em Istambul. Diga sim para o meu convite. Jante comigo.

Harvey."

Li a mensagem assim que acordei e por alguns segundos me senti estranha, pois não tenho estado em contato com meu lado feminino já há muito tempo e agora eu precisaria. Merda.

Eu queria dizer sim, mas não tenho vestidos, nem maquiagem. Não me lembro quando foi a última vez que cortei o cabelo. Não posso simplesmente aparecer de regata e jeans.

"Ella, o que é que você fez conosco?" Eu murmurei me encarando no espelho. Eram sete e quinze da noite quando saí de casa, fui direto para o shopping. Primeiro, comprei dois vestidos e alguns saltos. Comprei os primeiros que vi e gostei, pois demoraria horas para escolher. Quase gargalhei lembrando que isso era uma das poucas coisas que não mudaram em mim. Cortei o cabelo, fiz as unhas e uma maquiagem leve. Duas horas depois, eu respondi.

"Sim."

"Quase esqueci o quão deslumbrante você é", Harvey disse ao me ver. Senti minhas bochechas queimando. Eu estava usando um vestido azul, sem alças, fechado no pescoço, mas com um decote em "v", comprido, mas que mostrava as pernas. Um salto preto aberto, cabelo solto e uma bolsa pequena, e um trinta e oito na coxa direita.

"Obrigada", respondi sem jeito.

Harvey estava de calça social cinza, que vestia seu corpo perfeitamente, uma camisa social e um suéter que mostrava bem sua musculatura. Manteve as mãos nos bolsos até que me aproximei. Que bela visão. Ele beijou meu rosto e puxou a cadeira, ajeitando-a enquanto eu me sentava.

"Gostei do corte de cabelo, faz tempo que o cortou assim?", ele perguntou sorrindo. Aquele sorriso.

"Não, eu decidi que deveria mudar há pouco tempo", respondi. "O que faz em Istambul?", continuei.

"De qualquer forma, você está sempre linda, Ella", ele continuou.

Ele não parecia estar se esforçando demais para me elogiar, foi sincero. Coincidência ou não, era estranho vê-lo ali. Era estranho estar em um encontro com ele, mas não podia negar que, apesar de tudo, ele me atraía.

"Estou de férias, então resolvi vir visitar minha mãe", ele concluiu.

"Jamais imaginaria, mas é bom ver um rosto conhecido", ele disse de forma desajeitada. Isso era o mais perto de um elogio que eu poderia fazer? Meu Deus, Ella. Credo.

A noite foi agradável, mas ainda não pude deixar de me sentir desconfiada. Por várias vezes tentei trazer à tona o assunto do meu caso ou qualquer coisa relacionada, mas ele deixou claro que era um jantar pessoal e não de negócios.

Fiz uma reserva num hotel no centro, caso ele tentasse ser um cavalheiro e quisesse me levar para casa. Não sei se posso confiar nele. Que bom que pensei nisso antes.

"Foi maravilhoso vê-la, senhorita Lynch. Obrigado por ter aceitado", ele disse se levantando da mesa.

"Vou levá-la para casa, se me permitir", ele me fitou esperando uma resposta.

"Eu adoraria", respondi e me levantei.

Ele estava dirigindo um Lexus branco, confortável e novo.

"É um belo carro, é novo eu imagino", perguntei em meio às risadas.

"Sim, finalmente consegui comprá-lo. Que bom que gostou", ele pegou minha mão e a beijou.

"Por que estava olhando meu cadastro?", perguntei curiosa.

"Porque nunca mais tive notícias suas, então de vez em quando eu procuro, apenas para ver se tem se movimentado. Se está bem. Ainda respirando. É bom ver que Istambul lhe fez bem", ele sorriu ao terminar.

"Não sabia que tinha causado tão boa impressão", eu disse encarando a bolsa minúscula no meu colo.

"Acredito que chegamos, senhorita", ele disse sorrindo.

Saiu do carro e abriu a porta para que eu descesse.

"Obrigada pela companhia, pelo jantar, pelo carinho. Confesso que faz tempo que ninguém me trata tão bem", eu disse envergonhada.

"Não tem que me agradecer, foi adorável. É uma pena que não saibam te tratar como merece", ele disse me fitando.

O frio desceu pela minha espinha quando nos encaramos. Imaginei esse homem na minha cama. Isso me fez lembrar de que sexo era outra coisa que eu não fazia há muito tempo.

"Se não me impedir, vou beijá-la, Senhorita Lynch", ele disse se aproximando.

Bom, eu não o impedi.

Quem É Ella Lynch?Onde histórias criam vida. Descubra agora