Tocar em alguém é desnecessário. Para que você precisa tocar na pessoa enquanto conversa?! Para que dar tapinhas nas costas do outro no decorrer do diálogo?! Para que passar a mão no cabelo do outro enquanto conversa?! Para que pegar na mão do outro e fazer carinho nos dedos durante a prosa?! Por que falar tão rápido a ponto de cuspir no outro?! Porque dar três beijos no rosto, ao invés de só um?! Essas situações até hoje não gosto; mas no auge do TOC, era uma tortura para mim, a mesma coisa que me bater ou me prender.
Não gostava que ninguém me tocasse, de nenhuma forma, mesmo se fosse um abraço me incomodava. Sempre achei as pessoas mais sujas que eu. Só de saber que alguém que considero suja, havia me tocado, na mesma hora queria trocar a roupa, lavar as mãos, lavar o rosto se tivesse recebido um beijo ou até mesmo me banhar. Não só as pessoas, mas os animais eu considerava sujos; não pegava no colo meu cachorro [tenho arrependimento disso, eu amava minha dog tanto, mas o TOC me aprisionava]. Minha dog vinha me receber tão feliz quando eu chegava em casa; ela pulava, latia, queria me lamber, queria que eu a pegasse, mas eu xingava ela e mandava se afastar de mim, meu coração sofria, e eu acabava passando a mão na cabeça dela, mas após o carinho ia lavar as mãos pelo menos três vezes. Tinha medo de doenças de animais; achava que cachorros tinham bactérias tão letais quanto veneno de cobra, achava que a lambida podia dar alergia ou até uma infecção.
O TOC, faz você criar problemas onde não tem. Você cria medos, cria temores, cria circunstâncias inusitadas que te isolam e faz você sofrer. Você faz as repetições, as contagens, o isolamento, por medo de algo ruim acontecer com você ou com quem você ama. Seu psicológico cria consequências se você não fizer o que o TOC te obriga; e são consequências terríveis...tudo que você tem medo, seu psicológico diz que se não "fizer o TOC" vai acontecer com você ou quem você ama. É difícil citar os tipos de consequências, porque as pessoas tem medos diferentes; mas eu tinha muito medo de ser reprovada na escola, não queria repetir o ano de jeito nenhum, essa foi uma das consequências que me obrigava a fazer as repetições do TOC e a me isolar.
Quando alguém se sentava ao meu lado, torcia pra ela não se aproximar, até ajeitava minha roupa para não esbarrar em ninguém, porque se tocassem em mim, teria que tocar mais duas vezes, e o ciclo poderia ser sem fim, e me traria muito desespero. Também torcia para as pessoas não puxarem assunto comigo, pois toda conversa terminava com um abraço ou aperto de mão, e eu não queria tocar em ninguém.
Em reuniões, almoços ou festas de familiares, minha família era acostumada a beijar no rosto de cada um três beijinhos e dar um abraço. A família era muito unida e grande. Eu não gostava de dar beijinhos em todos, mas era obrigada, e tinha que pedir a benção também. Sei que na hora de vir embora, eu me escondia ou ia na frente pra minha mãe não me obrigar a abraçar e dar beijo nos familiares. Era muito cruel, uma família gigante que sempre tinha no mínimo trinta pessoas presentes nesses almoços de domingo ou festas familiares; já teve até mais de trinta pessoas... agora multiplicando o número de pessoas pelo número de beijos, daria: 30x3= 90 beijinhos na chegada e 90 na saída; é um exagero, e eu nunca gostei!
Fui ensinada a não deixar ninguém tocar em meus cabelos, e sempre que sentia que alguém ia fazer isso, eu me afastava. Ficar sozinha era como um escudo, ninguém me tocaria e eu não sofreria com as repetições do TOC.
Não era só pessoas que eu não gostava que me tocasse, eu evitava esbarrar em objetos. Uma vez eu esbarrei sem querer na porta do meu quarto, e fiquei esbarrando nela mais duas vezes; também já tive crise de entrada e saída, eu entrava e saía do meu quarto em sete repetições, no meu íntimo pedia ajuda, pois era uma tortura, mas fazia por medo. Quando eu arrumava meu guarda roupas, eu colocava o objeto arrumado no lugar no mínimo três vezes e no máximo sete, e dava vontade era de tacar na parede de raiva por não conseguir me controlar.
Pior mesmo era as pessoas tocarem em mim. Uma vez tocaram o cotovelo em meu braço, me subiu um ódio e um desespero, então dei um jeito de tocar mais duas vezes; eu bolei uma situação, fiquei brincalhona e cotuquei a pessoa com o meu braço, aí ela não percebeu.
É por isso que digo, só toque em alguém se essa pessoa te der espaço e liberdade [eu nunca dava espaço e liberdade para as pessoas, e mesmo assim elas me tocavam], porque ela pode estar passando um problema como o TOC e não está em tratamento ou ela pode te achar "folgada, espaçosa".
VOCÊ ESTÁ LENDO
TOC, MAS NÃO ME TOC!
Non-FictionEsse é um livro sobre a experiência de uma criança até a juventude com o TOC, ou seja, Transtorno Obsessivo Compulsivo. Onde conta o sofrimento que a pessoa passa com essa doença perturbadora.