Três dias depois do caso da bota, Ofélia apareceu para visitar a amiga Sorte. O joelho da senhorita Olivares já estava quase completamente curado, portanto, a moça podia se locomover pela casa.
Animada, ela e Adália receberam Ofélia para um lanche e posteriormente um almoço.
Enquanto comiam bolachinhas de nata de leite, as três bordavam o tecido da boa informação trocando notícias recentes e comentando suas respectivas opiniões acerca das ocorrências. Ofélia, animada, era a que mais falava, e como não podia deixar de ser, começaram pela noite do baile da duquesa.
— Vocês receberam o convite para o matrimônio de Maria Valeriana? — Ofélia perguntou enquanto misturava mel no chá. Sorte preferia café, desde criança, era isso que bebia, e com o líquido escuro engasgou quando ouviu o nome da noiva.
— Está bem? — A cunhada perguntou preocupada enquanto ela tossia.
— Sim, sim... — Respondeu. — É que queimei a língua, mas estou bem.
Sorte fez um gesto em dispensa ao assunto e continuou a beber o café.
— Não recebemos o convite. — Adália respondeu para Ofélia. — De toda forma não somos íntimas ou amigas. Se recebermos um convite será pela influência do conde.
— Ninguém seria louco de fazer desfeita de Vossa Graça. — Ofélia replicou. — Apesar de que... Mamãe ouviu um boato de que Diamantais não será convidado.
— Ora Ofélia, mas que grande absurdo! — Sorte inferiu. — Acha mesmo que não seriam capazes de ofender Pedro, mas ofenderiam ao marquês e sua família?
— Sorte — a moça deu um sorriso amarelo — sabe bem que cada louco tem sua mania, não é mesmo? Além disso, o marquês recém chegou da Europa, não tem laços firmes com os locais.
— Pois concordo com Sorte, não creio que o marquês seria afrontado de tal maneira. Aliás, soube que ele e Maria Valeriana são amigos de longa data. — Adália deu mais um gole no chá e deixou a xícara de lado quando sentiu um ligeiro enjôo. — E acima de tudo, a presença do marquês trará prestígio aos noivos. É como evocar a sorte.
— Não discordarei, senhora condessa. Meu julgamento inexperiente nada vale diante de suas palavras. Proponho novo tópico, mas ainda com foco no marquês. — Ofélia lançou um olhar para Sorte que se fez de desentendida. — O homem assumiu a culpa por sua queda diante de todo o círculo social que estava no baile da duquesa.
— É um cavalheiro, de fato. — Sorte respondeu sem vontade de esmiuçar o primeiro encontro com o marquês.
— Diga mais algum detalhe, Sorte. — Ofélia implorou e Adália riu. — Por obséquio.
— Não tenho o que dizer a ti, Ofélia. — Sorte retrucou aborrecida.
— Eu tenho. — Ofélia sorriu com malícia. — Ele visitou papai duas vezes, para tratar de negócios. Em uma das vezes passou por mim e cumprimentou-me com sua polidez usual. Quase não me segurei sobre as pernas quando aquele par de olhos verdes mirou meu rosto.
Ofélia riu e Sorte sentiu uma estranha pontada no peito, como se lhe furtassem algo precioso. Apenas ignorou o sentimento e observou enquanto a cunhada limpava a garganta antes de responder ao gracejo da amiga.
— De fato o marquês é bem apessoado, educado e culto. —Adália mordeu uma bolachinha.
— É terrivelmente belo, senhora condessa! — Ofélia retrucou. — Com aquela aparência, certamente era um libertino durante sua estadia na Europa.
— Senhorita Weirtz! — Adália lançou um olhar severo. — Isso não é palavra para a boca de uma moça.
— Sinto muito, condessa. — Ofélia desculpou-se arrependida.
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Sorte e o Marquês (Donas do Império - Livro 1) [CONCLUÍDO]
Ficción histórica[Romance] No interior do Império do Brasil, à altura do início do Século XIX, nasceram nobres crianças que ganharam nomes peculiares. Ele sempre teve muita sorte e ela incessantemente perseguida pelo azar. O que acontecerá quando o caminho de ambos...