Rotação

88 18 117
                                    

Clementine olhou-se no espelho pela sétima vez seguida enquanto avaliava a roupa que vestira. Marcel, deitado na cama da irmã, bocejava preguiçoso.

Já era o sétimo vestido que ela colocara, não conseguia tomar uma decisão. Ia pessoalmente aceitar a proposta de Sorte e o nervosismo a tomou por completo. Não queria passar uma impressão ruim.

Quando o irmão falou da proposta, ela nem acreditou. Por várias vezes pediu para ele repetir as palavras da senhorita Olivares.

Claro que ela queria uma oportunidade de ter a criança em um lugar seguro e distante e tudo. Uma chance de ouro caiu em seu colo magro e ela não desejava que escapasse devido algum gesto ofensivo.

- Coloque o amarelo, Clementine. - Marcel finalmente se intrometeu.

- Está certo de que é uma boa escolha? - Questionou com as palmas das mãos apoiadas nas laterais do rosto.

- Sorte é a melhor pessoa do mundo, irmã. - Marcel respondeu. - Pode ir despida que ainda assim ela lhe acolherá, basta demonstrar arrependimento.

- E se ela pensar que é falsidade? - Clementine perguntou quase chorando.

- Clementine... - Marcel andou até a irmã, olhou no fundo dos olhos dela e segurou as mãos trêmulas. - Você é responsável direta pela morte de dois duques, um barão, dez militares e uma senhora de escravos. Você não tremeu quando olhou nos olhos do rei Luís XVIII e o chamou de porco narcisista. No entanto, você está com medo de uma moça mais nova em idade, menos experiente e que se vê presa a uma cama.

- Estanislau é mesmo um porco narcisista, como a maioria desses nobres inúteis. - Clementine retorceu o rosto de nojo. - Mas Sorte não é, e eu quero que ela goste de mim.

- É como dizem: O mundo dá voltas. - Marcel soltou os braços da irmã, passou uma mão pelo próprio cabelo e riu.

Clementine o puxou para baixo pela gola e sussurrou no ouvido dele.

- Quando a marquesa pensou que ninguém estava olhando ou ouvindo, escutei ela comentar com o marquês que eles não têm escravos. Os Olivares também não. - Confidenciou.

- Não pode ser verdade. - Marcel olhou espantado. - Mas, pensando melhor... Faz sentido. Não vi capitães do mato, mas não tinha me atentado aos sinais claros bem na frente de meu nariz.

- Oui. Como posso não ficar nervosa para impressionar uma pessoa assim? - Clementine perguntou. - Eles são diferentes da maioria, em tudo! Quantas vezes você viu uma fortuna tão grande ser repassada para uma mulher sem que houvesse situação extrema em andamento?

Marcel balançou a cabeça em negativa.

- Não há proteção maior que a dela, irmão. Ela é senhora de suas vontades e das terras. Apesar de ainda estar amadurecendo, será uma mulher admirável. Com tanto poder ela mudará muitas vidas. - Clementine afirmou. - Se puder quero assisti-la revolucionar o próprio mundo. O homem que se casar com ela precisará submeter a si, pois a inocência da entrega acabou.

- Como pode saber? - Marcel perguntou.

- Ela poderia abaixar a cabeça e se entregar como uma mocinha delicada definhando de amor. Desistir de tudo e impor seus caprichos. Ela poderia, Marcel. Mas ela não quis. - Clementine explicou. - Está muito machucada por dentro, mas ao invés de fazer birra como uma criancinha, resolveu seguir em frente.

- Se não caiu agora, não cai mais. - Marcel concluiu.

- Exatamente. Nunca mais.

Marcel apressou Clementine para que se arrumasse logo ou chegariam muito tarde à casa de Sorte.

Sorte e o Marquês (Donas do Império - Livro 1) [CONCLUÍDO]Onde histórias criam vida. Descubra agora