CAPÍTULO UM

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Ser parte da máfia nunca foi uma escolha.

Assim como também não foi da minha mãe, minhas irmãs e das outras mulheres que estavam enredadas nas teias daquele sistema como presas de uma aranha.

Sempre considerei cruel a maneira como as mulheres eram tratadas. Éramos educadas para sermos o estereótipo perfeito de submissão, todas precisavam ser como bonecas, que carecem de cérebro e de sua capacidade de discernir, de poder decidir e escolher o próprio futuro.

De tomar suas próprias decisões. Pensei com tristeza.

As mulheres eram encaradas como substituíveis e úteis apenas para a reprodução.

Vivi essa injustiça dentro da minha casa, a casa dos Marchetti.

Quando minha mãe morreu, meu pai antes mesmo de seu corpo esfriar, já estava se casando com outra mulher apenas seis anos mais velha do que eu, o pior de tudo foi a desculpa tola que ele nos deu.

— Só quero que alguém crie bem vocês, minhas filhas — dissera ele quando questionado.

É claro que era mentira, se ele se preocupasse tanto com o bem-estar de suas filhas, ele teria escolhido uma esposa melhor e não a víbora da minha madrasta.

Tudo poderia ter acabado com o casamento repentino do meu pai, mas não, também tinha a injustiça que havia ocorrido com a minha irmã Anna.

Todos os momentos em que eu pensava nela o meu coração se quebrava em milhões de estilhaços. Anna havia se casado contra a sua própria vontade com Diogo Vitalle, o caporegime do clã de Miami. Ela tinha recém completado dezoito anos, estava terminando o ensino médio, e fora entregue a um homem quase vinte anos mais velho do que ela.

Eu e as minhas duas irmãs, Anna e Marina, éramos filhas do consigliere do nosso clã. A Camorra era dividida por clãs e cada um possuía um caporegime para liderá-la. No entanto, acima de todos nós e liderando com maestria, havia o capo crimine, ou seja, o nosso chefe.

O meu pai era o consigliere do capo crimine, o líder do nosso clã, que se chamava Luigi Salvattore. Ele havia sido coroado como chefe da Camorra recentemente. Lucca Salvattore, seu pai, foi morto num ataque orquestrado pela Yakuza. Agora Luigi, um jovem viúvo, temido por todos, era o nosso novo líder.

Havia alguns boatos que circulavam pelos corredores da Camorra, de que ele estava à procura de uma esposa para lhe dar o sonhado herdeiro, visto que a sua bella mogli e o filho que ela estava esperando, havia morrido em um acidente.

Embora eu me sentisse triste pela Antonella e por seu bebê, visto que eles foram as únicas vítimas das atrocidades de Luigi e do sistema da máfia, eu desconfiava que a sua morte teria sido apenas um acidente. Sempre cogitei a hipótese de que seu marido a havia matado, ele não seria o primeiro mafioso a fazer isso.

Cada célula do meu corpo repugnava Luigi Salvattore, eu jamais suportei a sua atitude soberba e por mais que já tivéssemos nos esbarrado diversas vezes, eu e aquele arrogante nunca nos demos bem, ele me causava arrepios.

Para mim, Luigi era o típico homem pavão, o homem que se regozijava com a ideia de que todos o temiam e o obedeciam.

Eu particularmente achava aquilo uma tolice.

— Valentina, o jantar está para ser servido. — Olhei para a porta e Bianca, minha madrasta intragável, estava parada ali. Seus cabelos dourados estavam soltos e ela estava usando um vestido vermelho como rubi. Franzi minha testa, aquelas não eram as roupas comuns que Bianca usaria para um jantar informal.

— Estou sem fome — falei enquanto organizava os livros da minha prateleira.

Bianca nunca havia entendido o fato de eu preferir passar meu tempo lendo ao invés de ir ao shopping comprar roupas fúteis e imorais para encontrar um bom marido.

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