Capítulo 2 - Dru

1.9K 161 10
                                    

— Que bicho mordeu o chefe hoje?
— Não foi um bicho, mas sim uma ruiva, a garota mais corajosa que já conheci.
O imbecil do Fire não parou de rir desde que saímos da droga da cafeteria. Aliás, ele já começou com as suas graças assim que recebi aquela maldita carta.
Para ajudar a completar o meu dia ainda tive que me controlar para não acabar com a raça daquela “coisa” na frente de todo mundo.
— O que aconteceu? Que garota?
Eu estava sentado de costas para a conversa paralela, e sem me mover mandei o meu recado.
— Vocês vão continuar falando como se eu não estivesse aqui? Posso lembrá-los rapidamente da minha presença.
Aproveitei o silêncio que se formou e cortei de vez o papinho entre eles.
— E Kyle!? — Ele me olhou com expectativa. — Vai procurar o que fazer. Acabou o recreio.
Ele percebeu de imediato que eu não estava com um pingo de paciência para brincadeiras e acabou se retirando sem falar mais nada.
Continuei tomando o meu whisky tentando aplacar a raiva que me queimava por dentro.
— Sei que ficou puto com o que ela fez, mas convenhamos, a garota tem culhões.
De fato nunca vi garota mais desbocada e de certa forma corajosa.
Nem os meus “irmãos” tem peito para fazer o que ela fez, pois conhecem as consequências, essas que não penso duas vezes em cumprir, mesmo que indique mais uma morte nas minhas costas.
Isso mesmo, não sou um homem bom, nem faço questão de fingir que sou.
Sou intolerante com qualquer um.
Sou frio em qualquer situação, principalmente quando o inimigo é a vítima da vez e o meu prazer é vê-lo sofrer muito antes de fechar os olhos definitivamente.
Quanto as mulheres, somente as uso para me satisfazer, desde que seja consensual. E já aviso a todas, não se apegue, não se apaixone, pois ninguém jamais conseguirá derreter o meu coração que é completamente gelado, se é que eu tenho um coração.
Só não mexo com crianças e mato qualquer um que abusar de alguma.
Quanto a garota da cafeteria, assim que a vi senti uma repulsa violenta, pois a achei desleixada. Ela até tinha um rosto bem bonito, principalmente os olhos, mas o seu cheiro de cigarro era insuportável.
Mulher alguma deveria descuidar do corpo, pois é a sua ferramenta para atrair nós homens, e além de tudo tem que ser cheirosa.
Se colocam um prato de comida na sua frente e o cheiro está muito ruim, você vai comer? Obvio que não. Pelo contrário, vai te afastar para bem longe para que você possa respirar normalmente.
E além de ter todos esses defeitos ainda é bocuda. Me desafiou na frente todos. Foi ai que ela assinou a sua sentença de morte.
Virei o corpo e olhei para o meu capitão de armas com uma cara de poucos amigos, mas ele sabia que tanto ele quanto o Thunder, o meu vice-presidente, eram os únicos que tinham liberdade para me enfrentar se fosse preciso, o que era raro.
Nós três formávamos uma grande equipe.
Além da amizade brindada, tínhamos o mesmo sangue. Mesmo assim eles conheciam os meus limites e não ousavam ultrapassá-los.
— Eu diria que ela é uma burra, pois você sabe que eu não vou deixar essa história morrer.
Ele se aproximou de mim e sentou no banco ao lado e logo foi servido com um copo de vodca com gelo.
— Dru, vamos ser sinceros aqui. Ela tinha todo o direito de ficar puta. Cara, você chamou a garota de porca e gorda. Porra, isso foi...
— Eu menti?
Ele me olhou com uma cara de indignação.
— Ela não é gorda e sim cheia de curvas. Gostosa pra caralho! E para ser sincero, aprecio muito mais do que garotas magras sem substância alguma. Fora que a garota é bonita e...
Quer saber?
— Foda-se! Ela que arque com as consequências.
Levantei de onde estava e fui para o escritório, pois eu não podia me dar ao luxo de ficar com conversa afiada.
Hoje nós teríamos dois carregamentos importantes e eu precisava revisar todo o processo para não correr o risco de cometer nenhuma falha.
Não digo em sermos pegos, pois a polícia da cidade estava na nossa folha de pagamentos, mas existia um grupo rival que estava de olho na nossa liderança e eles sempre tentavam armar contra nós.
O sonho dos Black Crows MC era dominar a nossa cidade, ter o nosso status e possuir a nossa conta bancária. Os babacas nunca desistiriam, principalmente o Death, presidente do clube.
Sei que de anjos tínhamos somente o nome, mas não jogávamos sujo contra nenhum motoclube rival, a não ser que fosse necessário para nos defendermos. Ao contrário dos Blacks que passavam por cima de qualquer um para alcançar os seus objetivos, que era o poder.
Outra grande diferença entre nós é eles dominavam o tráfego de mulheres da região, algo que nós nunca cogitamos em fazer. Inclusive abominávamos essa atitude.
Nunca matávamos crianças e muito menos a estuprávamos, assim como não tocávamos em uma mulher sem a sua permissão. E infelizmente esses atos eram constantes no grupo do Death. Eles se vangloriavam dessas atitudes e adoravam esfregar na cara das famílias o que faziam, evidenciando cada detalhe.
Na nossa área nunca deixamos isso acontecer. Não que eles nunca tivessem tentado contra alguma criança ou mulher que estavam sobre o domínio, mas sempre conseguíamos interceptar e exterminar todos os envolvidos, o que acabou deixando o Death mais puto conosco e a sua sede de vingança aumentou ao extremo.
Eles eram os nossos únicos inimigos diretos, por isso que cada transação nossa era cuidadosamente calculada e a nossa área era severamente vigiada pela equipe do Fire.
Cuidávamos de cada morador dessa cidade e não deixávamos a economia minguar. Com isso erámos aceitos por quase todos, mesmo que temidos por muitos.
Claro que o “temidos” não incluía uma certa garota, dona da cafeteria.
Que porra! Enquanto eu não resolver esse assunto essa mulher vai ficar atazanando a minha sanidade.
Mas pode ter certeza que resolverei esse assunto ainda essa semana.

Assim que concluí a análise do carregamento escutei alguém bater na porta. Outra regra, ninguém entrava aqui sem autorização e nunca tive problemas quanto a isso.
— Entra!
O soldado Panther entrou na sala confiante e parou somente quando chegou próximo a minha mesa.
Ele era um dos nossos melhores soldado, sempre muito dedicado e pronto para qualquer missão. Tanto ele quanto o Kyle se descavam entre muitos, e mereciam o nosso respeito.
O Panther fazia a minha segurança enquanto o Kyle vivia colado no Thunder. Quanto ao Fire, o cara era uma máquina e duvido que alguém cuidasse dele melhor do que ele mesmo. Mas o cara estava sempre muito bem amparado pela sua equipe.
— Chefe, o pessoal já está pronto para partir.
Assenti e me levantei para ter uma última palavra com o meu capitão de armas, que dessa vez acompanharia pessoalmente a transação.
Era um dos maiores carregamentos que já ousamos em fazer e nada poderia dar errado.
Assim que sai da sede estavam todos reunidos no pátio. Alguns se despedindo de suas mulheres, enquanto outros simplesmente conversavam entre si.
Antes mesmo de me aproximar do Fire ele percebeu a minha intenção e veio ao meu encontro.
— Pode ficar tranquilo Dru, foi tudo muito bem calculado.
— Qualquer problema me avise de imediato.
Ele assentiu e completou. — Eu vou ligar, mas para falar que tudo deu certo.
— Tenho certeza disso, mas eu deveria ir com vocês...
— Dru, você sabe que precisa resolver aquele assunto antes que dê merda. O Thunder vai com você para garantir que não faça nenhuma besteira quando perder a cabeça, porque é certo que isso vai acontecer.
O meu primo realmente me conhecia e somente ele ou o Thunder, meu irmão mais novo, é que conseguiam me controlar nessas horas.
— Se cuida cara!
— Você também Dru, e vai com calma.
Minutos depois todos eles estavam partindo para mais uma tarefa difícil, mas com certeza teríamos um final favorável.

Dru (Série Angel Men MC) (Degustação)Onde histórias criam vida. Descubra agora