Capítulo 11

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— Sem problemas querida. — falou Tia — Bom, avisarei a seus pais e darei espaço para conversarem. — ela levantou e antes de sair do cômodo largo:

— Mãe, iremos subir, ok? — Noah pediu

— Certo. Farei a janta.

Subimos a escada lado a lado. Ele me guiou ao seu quarto e lá, sentou na cama e eu me lancei no puff num canto da janela ao lado da cama.

- Eu sempre quis ter um irmão ou uma irmã. Orei muito por tal. - suspira e encara a janela ao meu lado - Quando este sonho foi realizado, eu sabia que tinha sido Ele. Mas então, porque Ele me tirou aquilo? Onde estaria o tal Amor Dele ao fazer uma criança de apenas sete anos perder o irmão que tanto pediu? Nestes questionamentos e abalado espiritualmente, eu cresci. Minha "malcriação", ao meu ver, durou muito, até. - ele ri, brincando com as mãos - Eu O culpei, e depois me culpei. Até que, em busca de respostas eu O procurei e foi a maior experiência da minha vida, apesar de não confrontá-lo como eu queria e nada ter sido como imaginei. Foi como eu precisava. Um abraço aliviador. Não entendo os planos Dele ainda, mas encontro força Nele. Aprendi que tudo coopera para o bem. — contou.

- Até mesmo perder? - o interrompi, fazendo-o me encarar.

- Até mesmo isso, Emy. Apesar do processo dolorido. — o olhar profundo atravessou minha alma.

Levantei. Me aproximei sustentando seu olhar e sentei no seu colo, de lado. Ele estava sem reação, imagino que não esperava. Mas, entendo. Nunca havia feito isso. Por outro lado, eu também não esperava, só queria. Beijei-o. Um simples selinho demorado, não sei nem explicar. Um encostar de lábios com estalo ao afastar. Não parecia ser eu. Ou seria realmente eu? Seria coragem do meu ser de pedir ajuda?

- Agora não tenho mais nada a perder. - eu disse. Levantei e fui em direção a porta.

Mas, antes de tocar na maçaneta, parei por sentir sua presença atrás de mim, fui virada para sua frente e puxada para os seus braços, onde senti segurança. Mas eu não merecia.

"Você não merece!" — ouvi minha própria voz em minha cabeça. Então me afastei, porém meu gesto só fez prepará-lo para sua atitude seguinte: segurando meu rosto de uma forma delicada, ele me beijou e eu retribui, permitindo-me deixar meu fardo, pois desisti de ser forte. E assim, aprofundamos com nossas línguas, aquele toque que significava muito e refletia tudo. Meu primeiro beijo tirando o selinho de antes. Eu me permiti sentir algo totalmente diferente da tristeza. Eu senti algo aquecer aqui dentro do meu peito. Se sou digna ou não, eu senti e gostei da sensação de estar viva.

Eu poderia te dizer diário, que o encanto da noite já havia acabado. Mas, não.

Depois do agradável jantar. Dormimos juntos em seu quarto, em sua cama, abraçados, sem dizer nada e sem nos tocarmos. Apenas tentando respirar mesmo com aquela dor, sendo que para mim, era apenas mais uma.

— Estou preocupado com a Melody. — ouvi sua voz. — Eu sei o quanto dói perder alguém. Perder um irmão. — ele fungou. Então percebi que chorava.

— Eu não sei bem como fazer isso. — falei.

— O quê? — perguntou.

— Consolar. — eu disse e ouvi sua risada mesmo que tenha durado pouco. Ao menos me acalmou. Nunca o vi triste e não queria ver. — Talvez, vocês se tornem o irmão do outro pois tiveram a mesma perda. — falei pensativa. — Se tudo coopera para o bem, então o mal que te aconteceu fará com que a ajude a... — fui interrompida por seu abraço mais forte. Será que falei alguma idiotice? — pensei.

— Ajudarei a superar. — ele disse e senti que estava sorrindo. — Obrigado! — recebi um beijo na bochecha. Depois de alguns minutos em silêncio, senti sua respiração suavizar e assim, pude dormir.

Durante a noite, acordei em algum momento. Estava suada. A cena daquela que foi minha amiga morta no chão de seu quarto havia sido reproduzida em meu sono, juntamente a algumas lembranças do seu lindo sorriso que não poderia ver mais. Sentei na cama com cuidado, tentando não acordar Noah, que segurava minha cintura de uma forma leve. Ele dormia tão tranquilo que tive um tanto de inveja, mas sua expressão relaxada me fez admirar seus traços lindos e desejar tocá-lo. Deitei novamente, dessa vez de frente para ele. Estendi um de minhas mãos, brigando com o receio e deslizei minha mão por seu maxilar como se estivesse desenhando-o. Subi até o ponto de suas bochechas, onde havia a marca de sua covinha charmosa e demorei ali e fiquei olhando seus lábios, até que notei um repuxar contido. Não sabia se sonhava ou não, mas logo a mão em minha cintura deslizou, saindo de onde queria que continuasse e foi até minha mão em sua bochecha. Segurou-a e levou aos lábios, dando um beijo casto, então abriu seus olhos e encarou-me com suas íris castanhas envolventes. Notei que estava sonolento ainda. Soltei minha mão da sua, percebendo suas sobrancelhas franzirem. Me aproximei mais dele e levei minha mão até seus cabelos e dei um leve carinho, que fez seus olhos fecharem um pouco. Sabia que ele não se entregaria ao sono enquanto eu não dormisse. Era meu anjo da guarda. Sempre me protegia. Me virei, querendo retornar a posição que dormíamos antes. E ele entendeu, mas me manteve mais perto dessa vez e deixou um beijo rápido em meu pescoço. Pisquei algumas vezes até que o cansaço me tomou e eu dormi.

No dia seguinte, ele me acordou com um beijo carinhoso de bom dia e uma bandeja com um café da manhã simples, mas que amei... amor, não sou digna de sentir isso. Apenas sorri.

- Você precisa comer, mas não se esqueça da oração! - ele sorriu.

Oração. Me enche de alegria vê-lo forte. Me dói amá-lo assim. Sim, eu disse amor. Ontem, dormi pensando em qual palavra poderia fazer sentido com a sensação que tive com o beijo.

- Ora! Você é a visita. - ele insistiu.

Porém, meu silêncio foi a resposta. Então, ele se aproximou e me disse:

- O hospício ainda não lotou. - em referência a chamarem os cristãos de loucos.

E esta, foi a gota que faltava, para desmanchar meu auto-controle e fazer com que me lançasse em seus braços novamente e chorar silenciosamente. Ele, por sua vez, me abraçou e afagou meus cabelos. Respeitou-me. Mas, a minha cabeça gritava o quanto eu não poderia envolvê-lo. Trazê-lo para escuridão, não! Não me permitiria.

Noah me acompanhou até em casa e vinhemos com nossas mãos entrelaçadas.

Eu não iria ao enterro que aconteceria hoje. E o lembrei de observar a pequena Melody.

Logo vim para minha prisão... ou pelo menos deveria... 

O Diário da Perdida - Vol 1Onde histórias criam vida. Descubra agora