Capítulo 7

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Como nunca antes

Acelerei dentro do estacionamento da escola, mesmo sabendo que não podia fazer isso, e parei o carro de qualquer forma, ocupando duas vagas ao mesmo tempo. Simplesmente, soltei o cinto e virei-me para Felipe, que me observava com cuidado e estava totalmente despenteado.

- Vem ou fica? - Perguntei.

- Fico. - Sussurrou.

Joguei o molho de chaves para ele sem nem mesmo pensar e saí do carro, deixando a porta aberta e gritando antes de sair correndo:

- Tranque o carro quando sair.

Os corredores da escola estavam vazios e serviam apenas para ecoar o som intenso da nossa torcida, vindo da quadra externa da escola. As batucadas do grupo de percussão mesclado ao clamor das nossas líderes de torcida faziam todos irem ao delírio e isso aumentava ainda mais a responsabilidade do time. Era um dos únicos jogos que teríamos no nosso próprio campo, o que garantia uma presença maciça dos alunos torcendo por nós.

Virei no corredor que chegava ao vestiário masculino e, entre todos os outros sons, a voz do nosso treinador se destacava. Corri ainda mais rápido, tendo um pequeno flash de memória ao perceber que tinha deixado todas as minhas coisas, chaves incluídas, com Felipe, algo que eu nunca tinha tido coragem de fazer antes.

Entrei apressado no vestiário, arrancando a camisa do corpo enquanto corria entre os armários. O treinador Hedge gritava, de pé em um dos muitos bancos do espaço, repassando as últimas técnicas de jogo para um pequeno grupo de jogadores, e me lançou um olhar de repreensão pelo atraso.

- ONDE VOCÊ ESTAVA? - Berrou Scott, assim que cheguei perto do meu armário. Ele já estava totalmente vestido e segurava o capacete em um dos braços, usando o livre para jogar o uniforme para mim.

- Perdi a hora de acordar. - Menti enquanto tirava as roupas normais e vestia as outras.

- Logo hoje, Tody? - Ele reclamou, bagunçando o cabelo loiro em frustração, mas logo se recompôs e se ajoelhou diante de mim. Enquanto eu amarrava o tênis no pé direito, meu melhor amigo fazia o mesmo no meu pé esquerdo, sem parar de reclamar. - Treinamos muito para hoje, cara. Se você não chegasse a tempo, juro que eu cortaria sua cabeça.

Ri, sabendo que aquela era forma de Scott de dizer que estava preocupado. Vesti a camiseta do time, com o emblema gigantesco de nossa escola sobre o peito, e, finalmente, consegui ficar pronto a tempo para o jogo. Conseguir escapar do sermão que eu receberia do nosso treinador seria um pouco mais difícil, então fiquei de pé e bati palmas, chamando a atenção de todos para mim.

- Chegou a hora, caras! - Gritei e subi em um dos bancos. - Nós vamos lá fora acabar com a raça deles! Sabe por quê? Porque nós somos Lions! E os Lions nunca fraquejam, nunca desistem, nunca se curvam a ninguém!

- QUEM NÓS SOMOS? - Will gritou, batendo nos armários de metal e produzindo um som infernal ao ser copiado pelos outros.

- LIONS! - Todos nós berramos em resposta.

- QUEM NÓS SOMOS?

- LIONS!

O grito de guerra se intensificou ainda mais e logo estávamos saíndo do vestiário rumo ao campo, anunciando pelo som intenso a nossa chegada. Eu ia na frente, liderando como capitão com o capacete sob o braço.

Passamos correndo pelo nosso mascote - um pobre aluno do primeiro ano vestido de leão e com a camiseta vermelha da escola - e entramos no campo, levando todos ao delírio. As líderes de torcidas gritavam e davam piruetas no ar, seguidas pelo coro de centenas de pessoas, que lotavam as arquibancadas, usando em maioria a cor vermelha. Haviam rostos pintados, faixas com declarações de amor e até mesmo um bebê nos braços da mãe com uma roupinha da nossa escola, provavelmente irmão de algum dos jogadores.

Como não te amar?Onde histórias criam vida. Descubra agora