Capítulo 8

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Pequena fagulha

Uma semana havia se passado e, como todos os dias dela, eu estava em frente à casa de Felipe. Era o início da tarde e o sol estava quente e forte, mas ainda assim éramos agraciados com uma brisa fresca que aliviava o calor.

Desencostando-me da porta do carro e andando pelo familiar caminho de pedras, tirei o celular do bolso e mandei uma simples mensagem para Felipe.

Você: Cheguei

Ele abriu a porta antes mesmo que eu chegasse nela, fez um simples sinal com a cabeça para que eu entrasse, como sempre fazia. Isso fez seus cabelos negros voarem para trás de forma graciosa.

E ali estava, acontecendo mais uma vez: eu observando cada detalhe daquele garoto. Era algo inesperado para mim e eu não entendia completamente porque acontecia, mas não tinham sido poucas as vezes que eu simplesmente me perdia olhando-o, observando seus olhos magníficos, seu cabelo longo e ligeiramente cacheado nas pontas, seu jeito tranquilo de andar e a forma cuidadosa que sempre segurava as coisas.

Não era como se eu tivesse consciência do que fazia. Involuntariamente, meus olhos se voltavam para Felipe e captavam seus pequenos detalhes, coisinhas mínimas que não permitiam que eu desviasse o olhar. Eu ficava preso, encuralado, até perceber o que o encarava e retomar o controle sobre o meu cérebro. Entretanto, a frequência em que isso acontecia me deixava nervoso.

Assim que entrei na casa, fui recebido com pequenos e barulhentos passos. Sorri ao ver a menininha descendo a escada apressadamente, usando um macacão sujo do que parecia tinta.

- Totó! - Gritou.

Ri e me coloquei de joelhos para abraçar Anne, que se jogou com seu corpinho sobre mim. De alguma forma única, ela tinha se apegado a mim muito rapidamente naquela semana na qual passei todas as tardes ali. Tinha até começado a me chamar por um apelido - o qual era ridiculamente fofo. A menina animava aquela casa como nenhuma outra pessoa.

Ainda de joelhos, ergui os olhos para Felipe quando ele bufou e revirou os olhos, cruzando os braços:

- Tudo bem, Anne, ame mais ele do que seu irmão. - Ela franziu o cenho, confusa, e me soltou, então fiquei de pé novamente e Felipe pendeu a cabeça para o lado. - Vamos?

Ele deu as costas para mim e simplesmente começou a subir a escada rumo ao andar superior, pulando dois degraus por vez. Acenei com a mão para a Sra. Clavien, a qual nos observava sorridente da cozinha, antes de segui-lo escada a cima.

Diferente do que sempre faziámos, Felipe passou direto pela porta aberta de seu quarto, continuando pelo corredor. Franzi o cenho em confusão, porém o segui mesmo assim.

- Mamãe disse que a gente estava fazendo muita bagunça no quarto, então hoje vamos para outro lugar. - Ele explicou, parando de andar no centro do corredor.

De repente, ele esticou o braço para cima e desprendeu uma pequena e quadrada placa do teto, revelando um buraco escuro e uma escada no alto. Em choque, observei enquanto ele puxava o conjunto de degraus em madeira, fazendo a escada escorregar de cima até parar perto do chão, guiando-nos diretamente para o espaço acima. Meus lábios se dobraram em um sorriso quando percebi que aquela era a entrada até um sótão, coisa que eu não fazia ideia da existência naquela casa.

Felipe escalou e eu tive a visão completa dos músculos de suas costas, que surgiram sob a camisa fina e preta quando foram usados para impulsioná-lo para cima. Em segundos, ele já tinha chegado no topo e sido absorvido pela escuridão, mas eu continuava embaixo, segurando a escada apenas com uma das mãos e olhando para cima. O rosto do garoto logo surgiu novamente, seus brilhantes olhos fixos em mim, os cabelos caíndo ao redor do rosto quando baixou a cabeça.

Como não te amar?Onde histórias criam vida. Descubra agora