O Trovão Amarelo

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O Bastardo mergulhou na minha direção com seu bico afiado pronto para me pinçar, mas eu fui mais rápido e saltei por sobre a cabeça dele. Pii e Pippi o flanquearam e fizemos o que fazíamos de melhor. Um triplo choque de trovão combinado deveria ser o suficiente para derrubar aquele Noctowl lazarento, e nossos problemas acabariam ali, por isso nem pensamos duas vezes:

— PII... CHUUUUUUUU!!!!

O bastardo se encolheu recebendo o choque de três lados diferentes, e estávamos confiantes de que ele não aguentaria. Ledo engano. Abrindo as asas, ele expulsou toda a corrente elétrica com extrema facilidade, como se na verdade fosse imune a ela. O movimento também nos afastou para longe, e pela primeira vez eu vi medo nos olhos de Pippi. Também não é pra menos. Como raios nosso ataque foi pouco efetivo? E que espécie de movimento é esse?!

Seremos mesmo capazes de vencer?

Eu temi novamente, agora não apenas por mim, mas pelos meus irmãos e por Poly. Ela estava acuada atrás de uma das raízes à entrada da toca na árvore, apenas esperando o perigo passar. Mas se depender desse miserável, não iremos embora tão cedo. Ele agiu rápido, bateu suas asas novamente expulsando grama e poeira sobre nós, mas sem decolar. Eu mal pude manter meus olhos abertos diante de tanta poeira. Droga, assim nós seriamos alvos fáceis! Maldito, Ataque Areia é golpe baixo!

Diante daquela situação, não havia muito a fazer:

"Corram!", gritei, "Espalhem-se!"

Ouvi que Pii e Pippi se afastaram de mim enquanto corri sem olhar para onde, certo de que se eu parasse aquelas garras encontrariam meu pescoço. Foi quando um raio cortou os céus e um trovão retumbou sobre a terra. O clarão me deu tempo suficiente para me jogar em um matinho qualquer e ficar oculto enquanto tentava tirar a poeira dos olhos, mas eu não sabia mais de Pii ou Pippi. Também não podia ver o bastardo. Ele deve estar bem acima de nós, voando em círculos ou sobre a árvore, apenas esperando que alguém faça o primeiro movimento para mergulhar em um ataque certeiro. Mas ele não agia, por isso também não me movi. Eu tentava fazer algum plano de ação, mas era difícil contar com meus irmãos sem saber se estavam ao menos bem.

O vento começou a soprar com força, anunciando a tempestade vindoura. O ruído dos trovões era acompanhado do farfalhar das copas das árvores e mesmo no meu esconderijo eu podia sentir a força do vento. Foi aí que eu percebi meu erro: Aquele vento tão forte era capaz de fazer o mato ao meu redor dobrar até quase a horizontal, além de derrubar folhas, castanhas e frutos de árvores próximas, tamanha a força com que os galhos balançavam. Aquele maldito não estava esperando nosso movimento. Ele estava apenas esperando que o vento revelasse nossa posição.

Que desgraça... Eu preciso fazer algo pra mudar essa situação...

Mas, o que?


***


Uma figura diminuta correu o quanto pôde para longe da árvore no topo da colina e seu movimento rapidamente fez o pio do grande bastardo se somar a mais um raio. Era Poly. Eu não sei dizer se ela cedeu ao desespero e tentou fugir, ou se tentou criar uma distração para nós, mas serviu para que o Noctowl deixasse o esconderijo sob as folhas da árvore central, mergulhando e abrindo as asas.

Eu não podia desperdiçar aquela chance. Eu deveria fazer um ataque preciso e rápido.

Concentrei minhas glândulas elétricas, mas senti meus bracinhos e perninhas se encherem de energia. Assim que o bastardo exibiu as garras para capturar a Polywag, eu parti com tudo.

— PichuPichuPichuPichuPichuPichuPichuPichuPichuPichu...

Em uma fração de instante eu alcancei o tronco da árvore, peguei o embalo subindo até metade do tronco e tomei impulso saltando no ar, descrevendo uma linha reta contra ele. Por causa da sua visão tão ampla, o bastardo tem bons reflexos. Ao notar que eu me aproximava feito uma bala ele girou no ar para me atingir com um ataque de asas. Mas naquele instante eu era tipo o Trovão Amarelo da Vila da Planta, saca? Girei no ar quicando na asa dele, me aproximei o suficiente e o mandei pra o raio que o parta. Literalmente...

— PI-CHU!!!

Uma torrente de eletricidade arrebentou com nosso choque e, fora saber que o bastardo e eu caímos rolando no chão, eu não sei o que houve por alguns segundos, onde o tempo literalmente apagou pra mim.

Quando pude levantar, percebi que a situação parecia ter encontrado uma solução: Poly estava atrás de Pii, enquanto Pippi e o Pidgey que liderava o bando que nos trouxe até ali cercavam o bastardo. Mas eles não eram os únicos...

— Pi-ka-chu?

Nossa babá estava bem ao meu lado quando eu tentei levantar, perguntando se eu estava bem e respondi positivamente. Enquanto isso uniram-se ao cerco o Pikachu que lidera nosso bando, o que tem uma cicatriz no olho – decidi que vou chama-lo de Scar –, a mãe da polywag e, para minha surpresa, um Torchic.

"Você será preso por tudo que fez de ruim nessa floresta...", era o que eu podia entender do Torchic

"Malditos sejam!", bastardo não estava nada feliz, mas cansado, ferido e irritado, "Eu não vou deixar isso barato!"

"Você perdeu, animal! E está cercado! O que pode fazer agora?", Scar estava confiante, "Não tente reagir ou vai tomar outra surra!"

Eu tive a forte impressão que, de alguma forma, por alguma inconveniência do destino, acabei me metendo em um problema maior do que eu podia prever e, involuntariamente, acabei ajudando a solucionar. Francamente, depois de tanta peleja, eu só queria um pouco de pipoca e guaraná pra acompanhar esse final de novela, mas eu me contentaria com algumas frutinhas amargas. Mais me surpreendi pela atitude convencida do Scar do que pelo possível passado do Noctowl nessa floresta.

"Eu vou acabar com todos vocês e recuperar meu lugar de direito, e..."

"Tá, tá! Já sabemos...", e Scar o paralisou com uma Onda Trovão, "Podem levar!"

Os pidgeys ficaram na escolta do grande bastardo enquanto Scar veio até mim, com meus irmãozinhos logo atrás.

"Vocês arrumaram uma bela encrenca hoje, não foi, garotos?", dizia

"Encrenca em Trio!", eu ri

Pippi riu, Pii riu, a Polywag riu, a Polywhirl riu, a Babá riu, Scar riu, eu apanhei pela imprudência e então voltamos pra casa.


***


Eu ainda não entendia toda a situação desde que afundamos aquele Noctowl na porrada, até que a Babá contou a história que ainda não conhecíamos: Até pouco antes de nascermos, havia no coração da floresta um Combusken que respeitado por todos, por vezes era como um herói dos que estavam em perigo, por vezes era como um rei, ajudando em todo tipo de assuntos. Um dia aquele Noctowl invejoso apareceu e o desafiou para um duelo pelo título. Ele perdeu a luta, mas pouco tempo depois o Combusken fora assassinado e o Noctowl tomou seu lugar como um tirano. Desde então as coisas ficaram ruins nos domínios da floresta. Ninguém mencionou o Torchic, mas não era difícil entender que podia ser algum parente dele e eu finalmente entendi porque estavam lutando naquela noite.

"Por que essa carinha triste?", Babá perguntou

"Deve ser triste", amofinei, "Lutar por alguém querido e não ter forças pra fazer nada"

"Mas não está tudo bem agora?", ela lambeu meu pelo

"É, está...", eu ri um pouco porque fazia cócegas, "E agora ele pode finalmente assumir o lugar..."

"Na verdade, não", a Babá riu um pouco, "E você devia descansar bem pra amanhã"

"Ué, porquê?", franzi a testa

"Por que não tenta adivinhar quem é o novo herói da floresta?"

A Babá deu um beijo de boa noite e deixou a toca enquanto eu refiz toda a trajetória das ações do dia: Eu havia embarcado em uma missão pra salvar uma amiga e com a ajuda de muitos amigos, salvei. O Noctowl, o tirano da floresta, tentou nos impedir e o desafiamos. E quem deu o golpe final nele... Fui eu!

— PIIIIII?!?! – Eu literalmente gritei "É O QUÊ?!?!"

Pokemon Isekai - Vol. 1Onde histórias criam vida. Descubra agora