A jukebox estava tocando "Ring o Fire" de Johnny Cash, mas Josh queria algo mais agitado, estava pensando nos discos de Led Zeppelin, que havia deixado para trás em sua fuga. Sempre conseguia dinheiro para comprar discos, furtando as economias da mãe: um pote de balas improvisado como cofre, que ela trouxera da lanchonete onde trabalhava e de onde ele surrupiava algumas notas e moedas com frequência. Mas dois dos seus discos ele havia ganhado de aniversário do pai nas duas raras vezes em que ele fora o visitar. Tinha arremessado um contra a porta do seu quarto num ataque de fúria no aniversário de 17 anos em que o pai prometera aparecer, já era madrugada quando pegou o vinil e tirou do invólucro para deixá-lo completamente estraçalhado, era o clássico Parallel Lines do Blondie, e mais tarde quando o sono chegou, a cabeça esfriou e o arrependimento bateu, decidiu guardar os pedaços de recordação.
O bar do hotel era um porão mergulhado em neon vermelho e fumaça de cigarro nos fundos do hotel, era depressivo, sexual e quente como um forno, mesmo que não soubesse o motivo e como chegara ali, Josh sabia que tinha feito merda das grandes, lembrava vagamente de ter pulado a janela do quarto no Brooklyn e corrido o mais rápido que pôde até virar a esquina e ir parar naquele lugar desabitado. O efeito da cocaína devia ter apagado a sua memória. O bar tinha uma entrada que dava no subsolo, parecia uma espécie de clube secreto, Josh estava sentado no balcão, suando com as mãos abanando o rosto e sacudindo a camisa para ver se conseguia algum ar fresco, esperava que alguém aparecesse e lhe pagasse uma bebida, havia putas, bêbados e viciados em sexo ou drogas ou em ambos, as mãos do bartender não paravam um só segundo, manuseando e servindo todo o tipo de bebida com um sorriso pleno de satisfação, era mais um dos andrógenos que ele esbarrara pelo hotel; corpo de homem e rosto delicado com traços femininos; a pele era cor de bronze e os cabelos dourados e volumosos caiam em cachos até os ombros; não usava um figurino hippie como os outros; trabalhava sem camisa e vestia apenas uma calça de veludo roxa que, pela ausência de um cinto, deixava a virilha e seus pentelhos claros expostos. Josh desviou o olhar quando ele lhe deu um sorriso, um sorriso estranhamente bonito, hipnótico e vulgar, uma espécie de convite: um convite irrecusável que convenceria qualquer um.
— Precisa de uma bebida, garoto. — sugeriu o bartender com seu sorriso lascivo.
O corpo era coberto de tatuagens com obscenidades e símbolos exotéricos espalhados pela sua pele ensolarada, não havia poupado nem mesmo o rosto, onde tatuara um cifrão na testa e uma lágrima fálica caindo do olho esquerdo, mas era o desenho no peito, molhado de suor, que se destacava; a caveira de um bode com chifres retorcidos deu calafrios em Josh. Ele não era cristão, mas sentiu que aquela era a maior forma de blasfêmia que já tinha visto na vida: nos dois chifres havia frases, que ele só conseguiu ler quando o bartender parou para perguntar o que ele queria. No chifre da esquerda, vindo da ponta até o crânio do bode estava escrito: "Jesus morreu pelos nossos pecados" já no da direita seguindo do crânio até a outra extremidade, ele leu: "Chupa meu pau"
— Então o que vai ser, lindinho? — perguntou o bartender pela terceira vez. — Não tenho a noite toda... Não para isso.
Neste momento o bartender puxou uma das mãos de Josh.
— Pode tocar se quiser. — disse ele, colocando a mão do garoto sobre o seu peito.
Foi então que as coisas ficaram confusas para Josh. Primeiro sentiu que estava tocando a pele de uma cobra, nunca havia tocado uma cobra antes, mas presumiu que fosse assim: molhado, liso e gelado. Depois as coisas ficaram realmente estranhas; as risadas e o burburinho a sua volta ficaram mais lentos e distantes; os rostos distorcidos e a noção de espaço já não existia; a tatuagem do bode que estava tocando de repente tinha flamas no lugar dos olhos; conseguia até mesmo ver a fumaça subindo. Ele puxou a mão de volta e a alucinação se dissipou tão rápido quanto surgira. Ficou de pé e se afastou do balcão, os olhos do bartender faiscavam em um neon amarelo. Josh estava com medo, trêmulo, queria perguntar o que tinha acabado que experimentar, mas a voz não o obedecia.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Paradise Hotel
HorrorO que há entre o Céu e o Inferno? Existe um hotel cujo endereço é incerto e cujos hóspedes são exclusivos. Nem todos podem chegar lá. Nem todos conseguem sair. Debbie é confrontada a encarar sua morte e adentrar este lugar, que para ela não passa de...