Estava tudo em silêncio, a luz bruxuleante do lustre deixava o saguão sonolento, Abigail esperou sentada numa das poltronas com a cara enfiada atrás de uma revista de moda, espiando aqui e ali. Procurava por alguém que pudesse pagar a sua estadia naquele hotel. Sua camiseta, que era dois números maiores do que o seu, estava manchada com sangue logo abaixo da estampa com o rosto de David Bowie, seu cabelo crespo e escuro tinha vários prendedores coloridos como se fossem cadeados tentando conter uma fera indomável, usava um óculos redondo que pegava todo o rosto e uma sandália cujas tiras estavam esmagando seus dedos gordos. Não tinha nenhum dinheiro, mas pela quinta ou sexta vez ela fuçou o fundo dos bolsos da calça, desta vez com mais cautela, e então com um suspiro frustrado confirmou que não tinha como pagar nem mesmo uma diária.
Precisava de um banho.
Precisava se isolar.
Precisava se esconder.
Ninguém tinha entrado no hotel desde que havia chegado e ninguém tinha aparecido na recepção. Achou que já estava esperando há pelo menos meia hora, mas quando checou o relógio na parede, ele ainda marcava quinze minutos para as dez da noite, o pêndulo balançava de um lado para o outro, mas os ponteiros não se moviam. Abaixou um pouco a revista para espiar a recepção, na página aberta a modelo magra de olhos verdes, pele bronzeada e cabelos loiros esvoaçantes a encarou com superioridade, era como se desaprovasse aquela atitude medíocre: ela precisava ser rápida. Devolveu a revista à pilha sobre a mesinha e espreitou-se para trás de uma coluna e desta para outra coluna, estava apenas a alguns passos do elevador e das escadas, mas não podia simplesmente subir e ficar perambulando pelos corredores, tentou caminhar com confiança, mas a ansiedade dos passos apressados a denunciava, quando chegou ao balcão, debruçou-se sobre os cotovelos, tentando parecer entediada por tanta espera, mas a verdade é que estava com medo, sentia o sangue borbulhar, olhou para os lados e depois para frente; atrás do balcão a única chave no claviculário brilhou para ela e foi como um sinal; o número 17 da chave fez aquele momento parecer uma profecia: era a o mesmo número da sua idade. Tirou as sandálias apertadas, mas não teve tempo para usufruir do alívio instantâneo que sentiu, em seguida esticou os braços e lançou-se para cima do balcão, ficando nas pontas dos pés, faltavam poucos centímetros para alcançar a chave quando o recepcionista saiu da escuridão do corredor atrás da recepção e se materializou na sua frente, ela teria gritado, mas simplesmente se afastou com o rosto queimando, trêmula e envergonhada.
(Katherine jogou os cabelos loiros e sedosos e anunciou para o grupo seleto de alunas reunidas no fundo da sala:
— Paul vai me levar ao baile.
Houve um burburinho seguido de risos frenéticos e houve também rostos surpresos de outras garotas e expressões raivosas de alguns rapazes, mas na primeira fileira um jovem atraente de sorriso estonteante piscou para Katherine, seguiram-se mais risos e gritinhos empolgados e então a voz de Barbra veio lá do fundo como uma flecha até a carteira de Abigail:
— Quem vai te levar ao baile, Abigail?
Risadas altas ecoaram por toda a sala e pescoços se viraram para a garota esquisita da classe.
— Enoch deveria te levar. — as atenções agora se dividiam entre Abigail e o garoto menos atraente da sala. — O que acha, Enoch?
O garoto dentuço encolheu os ombros e abriu o seu sorriso metálico, estava a duas fileiras de distância da sua possível companhia para o baile.
— O que... o que você acha, Abigail? — perguntou Enoch, cego de empolgação.
— Ah, pelo amor de Deus, cala a boca! — redarguiu Abigail na mesma hora. — Não vê que 'tão debochando de você? Ninguém quer ir ao baile com alguém como você, idiota.
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Paradise Hotel
HorrorO que há entre o Céu e o Inferno? Existe um hotel cujo endereço é incerto e cujos hóspedes são exclusivos. Nem todos podem chegar lá. Nem todos conseguem sair. Debbie é confrontada a encarar sua morte e adentrar este lugar, que para ela não passa de...