Lugar Querido

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Em cima da laje de casa, meu pai construiu um banco de concreto colado à mureta. Fomos privilegiados com uma vista panorâmica do bairro que minha mãe, meu irmão caçula e eu costumamos admirar enquanto colocamos as fofocas em dia. Às vezes, eu troco a companhia. Levo meu travesseiro e deito como quem não quer nada com a vida. Como quem vive de luz.

O fato é que o banco de concreto acabou se tornando o lugar para onde eu fugia quando qualquer coisa acontecia. Quando alegre, vou pro banco. Reflexivo? Olha eu no banco. Triste? Sim, no banco (dessa vez devorando uma barra de Shot, meu chocolate predileto).

Recentemente estive sofrendo com o bloqueio criativo. Para onde fui? Não, por incrível que pareça não fui pro banco. Não sei o que aconteceu. Talvez o bloqueio tenha sido tão intenso que me fez esquecer das coisas que me faziam relaxar, espairecer. Em vez disso, passei a maior parte do tempo encarando qualquer folha em branco, na esperança de ser invadido por tamanha inspiração que faria com que eu desse vida a um desenho ou um pedaço de composição qualquer.

Desolado após uma sexta-feira de cão no trabalho, fui pro banco. Esse retorno para o "lar" foi tão impactante que versos surgiram:

"Brisa sopra, vida leve / Me dê seis cordas para dedilhar a paz..."

O resto da letra aconselhava a descortinar um sorriso sem saber o porquê. É tão bom aceitar as coisas como elas são. É tão bom sorrir sem explicação.

A lição que aprendi é que, às vezes, para seguir é preciso voltar - seja lá pra onde for. Retorno também é recomeço.

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