No fim de maio (2019), eu decidi me desconectar do meio digital. Foram mais de duas semanas sem compartilhamentos no Facebook, fotos novas no Instagram e atualizações em aplicativos relacionados (sim, estou falando do Tinder e afins) em nome da minha saúde mental, seja lá como isso soe para você. Deixa eu explicar.
Eu vivia um momento de total descontrole emocional. A ansiedade pelo próximo clique me esmagava, a falta de notificações me irritava. Tudo o que eu via no feed não me satisfazia, mas não parava de deslizar a tela. Já se sentiu assim? Desinstalei tudo. Conhecia minhas artimanhas para sabotar quaisquer boas intenções, precisei ser radical. Mantive apenas o WhatsApp por causa do trabalho.
Perceba que não se tratava de rejeitar todo tipo de conexão com a internet. Com ela eu lido bem. Faço pesquisas, busco conteúdo de boa. Entretanto, o que esgotava meu tempo no mundo real tinha nome, logotipo e dava para ser baixado na Play Store.
No primeiro dia offline desdenhei, tipo, "Meu Deus, isso aqui tá fácil. Por que não fiz antes?". No segundo já sofria de tédio, ansiedade e inquietação pela abstinência digital. Li que eu precisava buscar planos alternativos e vi vantagem em substituir o que me fazia perder tempo por aquilo que me ajudaria a otimizá-lo.
Aplicativos de gerenciamento de tarefas e o famoso contador Pomodoro ganharam espaço na memória do meu J7 e me fizeram perceber que eu tinha mais tempo do que negava ter. Contudo, o que me ajudou a entender a necessidade de estar continuamente conectado foi um aplicativo de práticas meditativas.
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Sabe, compreender nossos reais interesses em um mundo que a todo momento se acha no direito de nos impor o que supostamente precisamos, é complicado, mas essencial.
Aprendi técnicas de respiração, atenção, relaxamento e até a própria meditação, no meu espaço e no meu tempo. De forma caseira e pessoal, eu me aprofundei em mim. Soa clichê, não é? Eu sei. Não foi nada, tipo, "Buda". Não saí em retiro espiritual, não alcancei uma tal iluminação. Eu apenas me senti, me percebi presente. Observei o que eu evitava, o que precisava, a forma como eu lidava com a solidão.
Quando me senti um pouco mais consciente - não tive nenhum termômetro para isso além da minha intuição - reinstalei as redes sociais e permaneço online até hoje, porém com melhor bem estar, foco e leveza. Menos estresse, mais tempo para mim. Uma relação mais acertada com a tela do meu celular.
Vale ressaltar que não estou te prescrevendo meditação para curar sua dependência por redes sociais. Primeiro, porque não sou o profissional adequado para isso; sei o meu lugar. Segundo, essa foi a minha experiência. Ter funcionado comigo não significa que funcionará contigo. É como uma peça de roupa que não veste todo mundo. Por outro lado, dar uma pausa para se conectar com a realidade de forma mais verdadeira e controlar aquilo que pode se apoderar de nós, você deve concordar que é sim para todo mundo.
Não precisa ser tão radical como eu fui. Tudo gira em torno de encontrar um ponto de equilíbrio. Detox digital é saber dosar a quantidade de atenção que você dá às tecnologias e pode ser reduzida a algumas horas por dia ou, de repente, dedicar apenas os fins de semana a isso. Descubra o que funciona para ti.
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Concluindo, se você se percebe como um dependente do universo digital, quer se desconectar, mas sabe que não conseguirá sozinho, procure um profissional. Ademais, deixo o convite para dar esse respiro e aprender a boiar em um oceano de ansiedades, lembrando sempre que melhor que desbravar o mundo que vivemos é desbravar o mundo que somos.
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Cotidiálogos
Ficción General📝 Estou em processo de busca pela escrita ideal. Decidi criar esse espaço para abrigar minhas experimentações, que geralmente são contos aleatórios, poemas indefinidos, textos pessoais e/ou diálogos cotidianos. 🔁 Vou atualizar cada vez que eu escr...