Momento de Coragem

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Silêncio, luz acesa, e eu deitado na cama despetalando minha última margarida de paciência. Para alguém como eu, esperar nunca foi uma tortura. Normalmente, faço o tipo "personificação da tranquilidade" em um corpo magro e peludo de um metro e oitenta. Pergunte para meus amigos e eles te dirão algo parecido com: “O Kinho? Ele é um rapaz bacana. Vive na dele. É calmo, paciente. Nunca vi ele se estressar com nada”. E é verdade. Mas deitado naquela cama eu estava irreconhecível.

A espera era necessária, mas muito mais que ela, a coragem. Eu pensava no que ia dizer enquanto esperava a linda mãe negra quarentona e de aparência jovem se deitar e, como de costume, apagar a luz e me mandar dormir, pois era muito tarde para alguém que levanta às 4:00 estar acordado. Entretanto, as palavras que organizei no script e que ensaiei no palco da minha mente transformaram-se numa cascata que fluía e fugia.

O fato é que a coragem não se cria. Não é algo que pode ser cultivado – ela simplesmente acontece! Num dado momento, você é o covardão que abaixa a cabeça para as inseguranças e tudo aquilo que de imprevisível pode acontecer. No outro, você é a pessoa vendo a própria mãe deitar na cama ao lado e quebrando o silêncio com um corajoso: “Preciso te contar um segredo”.

A coragem é um intervalo entre o tudo e o nada. É o risco que a liberdade propõe. E naquela noite eu me libertei.

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