O ponto final

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— Tem certeza que esse plano vai dar certo? – Sundyn questionou num sussurro, de cenho franzido.
— Vamos fazer o que deve ser feito e pronto.
— Precisa ser cuidadosa, Luma. – ela diz consternada. Estávamos no corredor da imensa biblioteca da escola, o único lugar onde poderíamos conversar sem sermos notadas.
— Pode confiar que de hoje não passa. Jihyung finalmente terá o que merece.
— Sinto-me ansiosa e responsável se algo ruim acontecer ou até mesmo se nada der certo.
Soltei um suspiro.
— Olha, estou em uma fase péssima da minha vida. Jihyung é um cafajeste de merda e mesmo sem querer ‘tá no meio do meu caminho. Eu sinceramente estou tão anestesiada que fazer o que vou fazer não significará nada.
Seus olhos se abriram mais.
— Nossa...
— Vai por mim, não tem momento melhor para dar bote que agora.
— Certo. – assentiu colocando uma mecha de cabelo atrás da orelha — Vamos fazer isso.
— Tem que fazer como o combinado porque depois daqui não poderemos mais nos falar. Jihyung tem que sair daqui comigo, então fique de olho no seu celular e ao meu sinal, vá o mais rápido possível para minha casa. Entre, deixei uma chave no vaso de planta da entrada.
— Pode deixar comigo. Estarei alterta.
O sinal do fim do intervalo tocou.
— Boa sorte para nós. – eu digo.
— Boa sorte.
Ela me deu um abraço rápido que eu retribui. Sundyn saiu primeiro enquanto eu esperei uns minutos, até enfim voltar para minha classe com meus alunos.
Alguns dias haviam se passado desde minha falha conversa com Jungkook. A partir de então não tivemos nenhum contato, nada. Apenas saudade, indignação, frustração e raiva. Eu tinha sido empática com ele compreendendo que todas as informações que lhe dei foram massivas e difíceis de processar  imediatamente.
Entretanto, faltou um pouco de maturidade e solidariedade de sua parte para comigo, por isso a raiva. Se me amava de verdade poderia ter sido mais destemido permanecendo quando precisei. Era dolorido relembrar que implorei para que ficasse, ver as lágrimas escorrendo por sua face...
Tentei o possível para não passar tempo demais pensando sobre toda a situação. Pois tentaria encontrar solução e novamente só me machucaria mais, já que ele era o único capaz de me salvar. Jungkook tinha a solução. Tentar não pensar fora um grande desafio, percebi o tamanho de minha sensibilidade emocional.
Dei continuidade no meu trabalho, aplicando minha matéria. Essa foi minha distração, porém só funcionou em relação ao Jungkook, afinal eu estava prestes a me envolver num total escândalo por desmascarar o maldito Professor de educação física.
Precisarei ter muito sangue frio, objetividade para conseguir. Não queria ser nenhum tipo de super herói, mas faria o que estava no meu alcance. Pedindo ajuda aos deuses para que tudo desse certo. Sundyn dependia de minha ajuda, a garota estava disposta a derrotá-lo.
No fim do período tive minha primeira chance. Recolhi minhas coisas e sai obstinada a fazer acontecer, respirei fundo tendo em mente que naquele dia seria dado o ponto final.
Na sala dos professores, entrei com meu melhor sorriso os cumprimentando. Avistei Jihyung que me olhou brevemente e mordeu os lábios. Talvez tê-lo evitado nos últimos dias tenha o feito mais ansioso para me encontrar.  Me aproximei encostando no armário do lado do seu.
— Me desculpe. – sussurrei para chamar sua atenção. O vi colocar o notebook dentro de sua bolsa, logo se virou para mim.
— Por que está pedindo desculpas? – seus olhos escuros.
— Por ter te evitado.
Jihyung ergueu as sobrancelhas.
— Ah...
— Tenho passado por momentos ruins e não sou o tipo que se dá bem resolvendo problemas. Quero que me perdoe se te fiz sentir mal ou coisa do tipo. – soou mais real do que imaginei.
— Não se preocupe Luma-ah. Você não fez nada demais, as vezes é bom se recolher para resolver situações. – deu um meio sorriso fechando o armário.
— Sabe que é meu único amigo aqui, não é?
— Hm, sim. Você não conversa muito com os outros... – disse baixinho olhando por sobre meu ombro.
— Então sabe... Isso é bom. – meu estômago embrulhou por ver aquela máscara de bom moço que o filho da puta carregava.
— É sim.
— O que vai fazer agora? – indaguei.
— Vou para casa, por que?
— Uh, bom... Eu queria te convidar para beber alguma coisa, como nós velhos tempos. O que acha?
— Ah, sério?
— Uhum.
— Por que quer fazer isso tão de repente?
— Oras, só quero me redimir com você professor. É errado? – encarei seus olhos. Tentava o seduzir, mas por dentro sentia nojo.
— Não... – sorriu — Não é errado. Onde quer ir?
Mordi o lábio.
— O que acha de me seguir, huh?
— Er...
— É perto para nós dois, relaxa. – apertei seu ombro. — Vai ser bom pra mim, preciso me distrair.
Ele ponderou e respondeu:
— Certo.
Recebemos olhares dos colegas de trabalho, os outros professores. Saímos lado a lado caminhando para o estacionamento. Durante a caminhada, avistei Sundyn indo em direção ao portão de saída dos alunos, percebi o olhar furtivo de Jihyung a observando ao longe, enquanto falávamos sobre as últimas aulas do dia.
— É só me acompanhar.  – digo forçando um sorriso.
— Okay.
Entrei no meu carro colocando o cinto de segurança e pelo retrovisor vi que ele estava atrás de mim pronto para ir. Não abaixei meus vidros – os mesmos eram bem escuros para quem via de fora. E assim que saí da avenida do colégio, conectei uma chamada através do multimídia do carro.
— Unnie?
— Sundyn-ah, sou eu. Só liguei para te lembrar de ser cuidadosa ao ir pra minha casa.
— Pode deixar comigo. Chamei um carro de aplicativo e serei bem discreta.
— Okay... Ele esta comigo, pelo menos consegui executar a primeira parte do combinado. Daqui pra frente será mais complicado. – apertei o volante.
— Vai dar certo.
— Tem que dar.
— Tenha cuidado, ele pode ser um doente problemático, porém é bem inteligente.
— Eu sei. – suspirei.
— Vou te esperar, Unnie.
— Até mais.
Desliguei.
Respirei fundo, estava chegando no destino final. Havia pensado no melhor lugar, um bar bem cheio e movimentado que sempre funcionava com música ao vivo nos fins de semana. Muitas das pessoas ali procuravam o estabelecimento para uma happy hour após o fim do expediente.
O local perfeito.
Estacionei perto da entrada e ele atrás de mim. Peguei minha bolsa grande que estava mais pesada que o normal por conta do computador que carregava comigo. Jihyung caminhou até mim com sua mochila presa no ombro e uma mão no bolso.
— Gostou? – indaguei.
— Sim, mas é bem cheio.
— Eu disse que precisava me distrair. Vamos.
Conseguimos uma mesa vazia para dois, do lado de fora, no deck de madeira. Ele olhava ao redor observando as pessoas que conversavam sem parar. Pareceu desconfortável, o vi engolir seco apertando a mochila no colo.
A mochila, o meu alvo.
— Estão prontos para pedir? – uma garçonete surgiu.
— Ah... Sim. Posso pedir para você? – perguntei para Jihyung — Conheço o menu de cabeça.
— Claro!
— Ótimo. – sorri e me voltei para a moça — Então vai ser dois sucos grandes de hibisco com bastante gelo e dois hamburguers com fritas.
— Algo mais?
— Não, obrigada.
— Disponha. O pedido de vocês chegará logo. Obrigada. – a mulher assentiu e deu as costas.
— Suco? – perguntou ele.
— Sim, hoje não estou a fim de beber álcool. Quero dormir sã.
— Ah.
— Que foi?
— Suco de hibisco vai te fazer relaxar e se distrair?
— Bom, isso eu não sei bem. Estou apostando em você para me distrair.
Ele me encarou em silêncio, seus olhos por todos os pontos no meu rosto, parando em meus lábios. Aquilo me fez sentir asco, no entanto precisava ser mais “aberta”.
— Então me diz; o que pretende fazer no fim do ano. Faltam poucos meses. – iniciei a conversa.
Jihyung tombou a cabeça para o lado, colocando os cotovelos na mesa.
— Quero viajar.
— Sozinho?
— Não, não... Acho que terei companhia.
— Hm... Quem? Para onde quer ir?
— Ninguém tão importante, posso dizer que é uma amiga. Mas ela tem me evitado nos últimos dias. – eu franzi as sobrancelhas — Queria levá-la a Grécia.
— Grécia... Romântico. E sabe por que ela está te evitando? – perguntei.
Ele deu de ombros.
— Acho que tem alguém no meu caminho.
Alguém... Ele estava mesmo dizendo o que eu acreditava que estava dizendo?
— Então ela não é somente uma amiga, você tem interesses.
— Ah, não deu para disfarçar... Ela é muito interessante, mas resistente. – ele diz sucinto.
— Aqui estão os pedidos. – a garçonete aparece com a bandeja cheia. Colocou tudo sobre a mesa com cuidado, neste momento senti os olhos de Jihyung sobre mim, me sondando. Um arrepio percorreu minha  espinha e disfarcei. Não sabia por quanto tempo aguentaria toda aquela encenação.
— Obrigada. – agradecemos em uníssono. Dei primeiro gole no copo de suco cheio, minha garganta estava seca. Jihyung fez o mesmo sem desviar a vista. Revirei os olhos mentalmente.
O tempo dele estava contado. Por isso decidi confrontá-lo.
— Por que acha que pode conseguir me levar com você para Grécia? – digo sem rodeios.
ele pareceu surpreso.
— Yah, tão esperta! – riu.
— Não tem que fazer mistério, você já abriu o jogo daquela vez na sua casa.
Jihyung mordeu o lábio, dizendo em seguida:
— Pois é, mas tenho um pressentimento de que preciso ser cuidadoso com você, Luma-ah.
— Uh...
— O que foi? Acha que eu preciso ter cautela? Sinceramente não quero te afastar e sim o contrário. – disse.
— Então... Eu digo que é melhor sim ter cautela.
— Mas você aceitaria ir comigo, mesmo como colegas?
Nem morta.
— Sinceramente, não sei. – menti dando mais um gole de suco apenas para poder desviar o olhar.
— Bom, vou continuar esperançoso quanto a isso... Mas diga-me, quais são os lugares que gostaria de conhecer?
Iniciamos uma conversa a partir deste tema, mesmo estando totalmente longe do meu interesse passar tempo conversando com o crápula, fora necessário. Me mostrei empolgada e atenciosa respondendo suas perguntas sobre meus gostos.
A todo momento ele jogava um charme, que poderia ter sido útil para ele se eu não soubesse do monstro embaixo da máscara. Dando continuidade ao que havia planejado, entre um tópico e outro enquanto o tempo passava fui pedindo um copo de suco atrás do outro com a simples desculpa de que era meu favorito e me fazia muito bem quando me sentia mal.
Comemos nossos hamburguers e pedi mais fritas empurrando tudo goela abaixo, porque não tinha apetite nenhum ali. A música ainda tocava e o lugar permanecia cheio.
Ele fez uma careta.
— Algo errado? – Indaguei.
— Ah, não... Hm, só preciso ir ao banheiro. – respondeu se mexendo na cadeira.
— Ah, suco de hibisco é muito bom, mas deixa a bexiga solta. – forcei um risinho.
— Realmente... – começou a se levantar — Preciso esvaziar a minha imediatamente.
— Vá em paz, vou te esperar.
Ele assentiu e seguiu entre as pessoas a passos rápidos. Quando sumiu de vista foi meu momento de agir. Do jeito mais discreto possível mudei de cadeira junto com minha bolsa, pegando a mochila dele que tinha o cheiro do seu perfume. Dei uma olhada ao redor e ninguém parecia me notar.
O que eu tinha de fazer era trocar os computadores. Colocar o meu vazio no lugar do dele, o modelo era o mesmo então teríamos tempo de levar tudo para a polícia, depois que Sundyn conseguisse apagar suas fotos e vídeos da memória.
Tinha que dar certo.
Deslizei o aparelho para dentro da mochila sempre conferindo para ver se veria. Assim que consegui voltei para o meu lugar com o coração batendo na garganta. Peguei meu celular e mandei uma mensagem de voz para Sundyn:
— Está feito. Vou dar um jeito de ir embora logo. – guardei o telefone, trêmula. Precisava me acalmar senão ele perceberia meu nervosismo.
— Respira fundo, Luma. – respirei fundo algumas vezes,  tentando controlar a tremedeira.
Tive tempo de me recompor, pois o professor demorou mais que o imaginado no banheiro. Terminei meu suco tirando a secura da garganta e dessa vez quem precisaria ir no banheiro seria eu. Mas não podia arriscar deixando ele sozinho.
Cruzei as pernas e apoiei os cotovelos na mesa, vendo quando ele surgiu no meio da multidão.
— Ah, me desculpe pela demora. ‘Tá muito cheio.
— Tudo bem.
— Não gosto de aglomerações... – disse, ainda de pé.
— Uh, quer ir embora? – indaguei.
Jihyung passava os olhos de um lado para o outro, parecia atordoado.
— Sim, se isso não for um problema pra você.
— Ah, não. Por mim tudo bem. Passamos um bom tempo aqui, deu para aproveitar. – me levantei — Vou pagar a conta.
— Eu pago!
Ergui a mão chamando o garçom.
— Claro que não, você foi meu convidado. Eu pago.
Assim que o jovem recebeu o pagamento, Jihyung e eu saímos dali. Na calçada onde nossos carros estavam estacionados, a noite já havia caído sobre nós. Ele me fez parar chamando meu nome. Me voltei para o mesmo curiosa.
— Diga.
— Quero saber se sente-se melhor agora.
Ele se aproximou, tanto que acabei por encostar na lataria do meu carro. Prendi a respiração por conta da súbita  proximidade.
— Er... Sim, estou bem melhor. Hm, graças a você.
Seu cheiro entrou em minhas narinas, novamente a grande repulsa.
— Isso é bom...
— É?
— Sim, isso mostra que eu posso ser certo para você, Luma-ah. Nos damos bem, não acha?
— Jihyung, eu... Eu não posso.
— Por que? Posso ser melhor pra você.
— Não é simples assim. – nota dez para minha atuação — Lhe disse que tenho problemas...
Seus dedos frios entraram em contado com minha pele, correndo pela lateral do meu rosto. Estremeci.
— Eu quero você. – sussurrou.
Que nojo! Que nojo! Que nojo! Que nojo!
— P-por favor professor... – me afastei.
Jihyung olhou meus olhos se afastando.
— Não vou te forçar. Sei que vai escolher o melhor para você no final. Tenha uma ótima noite, Jagi.
Para meu total alívio o vi entrar no seu carro. Só entrei no meu quando ele desapareceu na rua. Fechei os olhos por um instante sentindo a felicidade por ter dado certo. Dei partida seguindo para casa. Meu coração ainda batendo descompassado.
Inevitavelmente pensei no Jeon... Minha nossa que saudade! Tudo que eu queria era correr para seus braços, ser amparada por ele. Tinha evitado vê-lo de qualquer forma, nem sequer as fotos e vídeo que estavam sempre espalhadas por todas as mídias sociais. Todavia precisava ter foco, havia mais a ser feito. Jihyung finalmente pagaria por tudo.  O ponto final daquela estória seria dado naquela noite.
Chegando em casa logo notei que Sundyn tinha sido cautelosa, minha casa parecia vazia. Peguei a bolsa com o computador e passei a chave na porta abrindo para entrar. Tudo quieto, encostei a porta.
— Sundyn? – chamei.
Vi um movimento no sofá da sala e ela pareceu das sombras. Seus olhos cheios de lágrimas.
— C-conseguiu? – foi um sussurro. Ver sua emoção mexeu comigo.
— Sim!
A garota correu para os meus braços me apertando forte como nunca. A abracei de volta, a acolhendo enquanto seu corpo balançava com os soluços do choro.
— Shhh... Fique calma querida, precisamos concluir isso. – alisei seus cabelos — Só cantaremos vitória quando esse demônio estiver atrás das grades.
Ela ergueu os olhos avermelhados e assentiu.
— C-certo...
— Temos que agir. Tudo bem? Vamos apagar suas fotos. Você tem a senha?
— Sim, ele já tinha me dado há um tempo como te falei. Não pensei que seria tão útil.
— Okay. Vem.
A puxei para mesa da cozinha. Nos sentamos, tirei o computador da bolsa e coloquei na mesa aberto, o ligando.  Tela iluminando nossos rostos.
— Não posso acreditar que tudo vai ter um fim. – nossos olhos se encontraram — Ele vai pagar.
— Vai sim.
— Agora a senha... Ele não é muito criativo com essas coisas, a senha é o número da casa dele. – seus dedos finos digitaram rapidamente. — Na verdade é a mesma do sistema de segurança da casa.
O menu se iniciou e várias pastar estavam organizadas na área de trabalho. Não haviam nomes apenas letras maiúsculas marcando cada uma delas. Tinha um “S”.
— Ele coloca letras? Por que? – indaguei.
— A-acho que são as garotas que ele...
— Não pense muito, Sundyn. – trocamos um breve olhar.
— Okay.
Com dois cliques a pasta carregou e abriu. Meus olhos quase saltaram para o chão. Não queria ter que ver aquilo e imaginar que tive aquele tipo de pessoa tão perto de mim por tanto tempo. Jihyung sempre fora o lobo em pele de carneiro, escondendo-se por trás da máscara de bom samaritano. Maldito!
Mesmo chocada com o pouco que vi, sussurrei incentivos a Sundyn porque a mesma congelou por instantes.
— Vamos querida, seja forte. Você pode fazer isto. É forte. Acabe com tudo.
A seta do mouse sobre a opção “ deletar arquivos permanentemente” e ela enfim clicou. Os dados não estavam salvos na nuvem, como Sundyn havia dito “ele não é bobo”.
— Ele já me disse que se precisasse deletar tudo, não deixaria rastros... Por isso ele sempre ficava com esse computador ou o mantinha trancado. – ela diz com a voz fraca e vacilante.
— Já foi. Você está bem agora, querida. – apertei seu ombro.
— Será mesmo? – a voz bem atrás de nós. Senti meu sangue gelar de imediato.
Quase ao mesmo tempo, Sundyn e eu nos viramos para ele sem acreditar que estava parado bem ali, a porta de entrada aberta atrás de si. A expressão em seu rosto nova para mim, nunca o vira tão sombrio; olhos semicerrados brilhantes de perversão. Algo maligno, eu diria.
Fora possível ouvir a respiração de Sundyn ao meu lado, nem precisava olhar para saber que estava apavorada, assim como eu, boquiaberta.
— Jihyung... – meus lábios mau se moveram.
— Sentiu minha falta princesa? – seu tom irônico e frio.
— C-como...?
— Ah, bom... Preciso pedir desculpas por não bater na porta antes de entrar. Sei que fui mal educado é isso não e do meu perfil. Aliás precisa ser mais cuidadosa Luma. A porta estava aberta. Eu segui você, no caminho para casa percebi o que tinha feito... Vocês têm algo que me pertence.
— Acabou pra você, professor! – Sundyn exclamou. — Não poderá mais me chantagear e nem fazer mais vítimas!
Jihyung riu. Alto em puro escárnio.
— Eu quero ver. – tirou sarro dando um passo para frente. — Eu sabia que estava a fim de aprontar comigo sua putinha ordinária! – seus olhos em Sundyn enquanto sibilava entre dentes —  Ainda mais depois que sua amiguinha foi embora. Ela teve o que mereceu, assim como você terá por ter me traído.
— NÃO! – ela se mexeu colocando-se um pouco a minha frente encarando o homem bem mais alto. Eu não sabia muito o que fazer, sentia-me imóvel. — Eu tenho você nas mãos agora. Vamos entregar tudo para a polícia, já deletei minhas fotos e-e-e vídeos!
— Ah, você acha?! Huh?
Foi rápido e o movimento me pegou desprevenida outra vez. Jihyung tomou Sundyn pelo braço a puxando com força para si. A garota gritou e teve sua boca coberta pela mão grande, sendo envolvida por trás. Quando vi seus olhos transbordando lágrimas, enxerguei o medo neles.
— JIHYUNG, NÃO! DEIXA ELA! – berrei.
— CALADA! – me olhou com raiva — Se acha a espertinha, não é Luma? MAS NÃO É! Sabia que tinha de ficar esperto com você, percebi que começou a desconfiar de mim quando me viu com ela na escola. – passou o braço forte pelo pescoço da garota, como se faz num mata leão. Sundyn ficou na ponta dos pés chorando mais.
— Professora... – ela diz num fio se voz.
— PARA JIHYUNG! POR FAVOR! O QUE VOCÊ QUER? – meu corpo tremia.
— Quero que me entregue o computador e esqueça toda essa estória de me entregar para polícia.
— NÃO!
— FICA QUIETA SUNDYN! Não me faça usar mais de minha força!
— Jihyung eu não posso. – digo.
Ele arregalou os olhos.
— Como? Esta achando que tem opções? Essa vagabunda te disse que tudo que fez foi por dinheiro? Elas querem isso, Luma! Essa jovens estúpidas são louca por atenção, elas gostam de aparecer. Fazem qualquer coisa por um momento de fama, mesmo que de forma anônima. Eu sou a porta para elas, foi EU quem deu a oportunidade a Sundyn de sair da lama e ter independência!
— Isso não é verdade, você é doente. Seduz essas meninas com promessas vazias e depois as tem nas mãos. Você gosta de tê-las para si!
— O que eu faço é arte... – colocou os lábios perto do ouvido de Sundyn que se encolheu toda — Diga e sua querida professora como você gostava de trepar comigo, huh? Como gostava de ser filmada, vendida e depois podia aproveitar a boa grana. Diga, vadia!
— Me solta professor, por favor... – ela soluçou.
— Solta ela ou eu faço um escândalo.
Ele riu novamente e percebi que seu braço apertava mais o pescoço da menina, cortando o ar da mesma. Meu desespero cresceu. Olhei ao redor avistando meu celular na mesa atrás de mim.
— Nem pense nisso. – ele alterou — Não quer arranjar mais problemas. Faça o que estou pedindo, Luma ou eu quebro o pescoço dela.
— Se fizer isso será pior...
— POR QUE É TÃO TEIMOSA? Facilite tudo isso porque seu queridinho pode se dar muito mal se esse computador for encontrado.
Meus olhos se arregalaram mais.
— O quê?
— Exatamente o que ouviu. Descobri sobre vocês no último ano letivo dele na escola. Porque enquanto todos estavam cegos eu sabia que você andava fodendo com um dos alunos. Me diz; foi por interesse? Gosta de garotinhos famosos, Hm? Imagina como seria vergonhoso para a carreira dele se todos soubessem. Se todos vissem com os próprios olhos.
— DEIXE ELE FORA DISSO, SEU DESGRAÇADO!
— NÃO, NÃO! ELE ESTA BEM NO MEIO DE TUDO ISSO. SEMPRE NA PORRA DO MEU CAMINHO ME IMPEDINDO DE TER VOCÊ! FOI POR ISSO QUE NUNCA ME QUIS!
— MAS É CLARO QUE NÃO! – minha garganta ardia e meus olhos também — EU NUNCA TIVE INTERESSE EM VOCÊ! E depois que Sundyn me contou tudo, só sinto nojo! NOJO!
Sua face se contorceu de ódio, minhas palavras o atingido em cheio. O olhar de Sundyn me chamou atenção; ela planejava algo. Logo descobri quando a garota ergueu as mãos alcançado o rosto alheio. As unhas se afundando nos olhos e outras partes com bastante força. Jihyung grunhiu começando a sufocar Sundyn.
Pensando rápido, avistei um enfeite de madeira na estante pequena, peguei me aproximando acertando o topo da cabeça dele, que outra vez grunhiu, dessa vez como um animal. Acertei outra vez e ele cambaleou soltando a jovem. Sundyn tossiu com a mão na garganta tentando recuperar o ar.
— V-vad-dia... – arfou curvado para frente. E no fim do meu surto de coragem aceitei o último golpe na cabeça, vendo o homem desfalecer no chão entre a sala e cozinha.
Soltei o enfeite quando vi a ferida aberta em sua cabeça sangrar.
— Oh meus Deus! – arquejei.
— Unnie, e-ele está...
Balancei a cabeça tendo a lágrimas embaçando minha visão.
— Não sei. – murmurejei.
Mesmo chocada, dei as costas ao corpo indo para o computador. Sem me sentar cliquei na pasta de nome “L & J” vendo a tela se encher com fotos de nós dois, de algumas das vezes em que saímos juntos... Jihyung havia nos seguido e eu jamais perceberia.
— Eu não sabia disso, Unnie...
— Tudo bem. Acabou. – sussurrei em seguida deletei a pasta. Permanentemente. Voltei-me para ela e disse:
— Vamos chamar a polícia.
— E se ele estiver-
— Vamos chamar. – reforcei.
Ela mordeu o lábio olhando o corpo estirado no chão.
— Sim. Vamos ligar.
Após ligar para as autoridades denunciando tudo que havia se passado, chamei Sora que veio correndo para minha casa. Ela nos abraçou no sofá da sala, Sundyn e eu desabando em choro. Quando a polícia finalmente chegou, senti um grande alívio no coração. O medo desaparecendo quando os paramédicos e  homens fardados carregaram o corpo de Jihyung numa maca, para fora. Ele estava vivo. Só não sabia se feliz ou infelizmente.
— Shhh... Vai ficar tudo bem. Acabou. Acabou. – Sora sussurrou.

(...)

Sentia-me extremamente cansada, Sundyn estava adormecida em meu sofá coberta com um edredom enquanto eu, com apoio de minha amiga dava meu depoimento ao delegado. Minhas pálpebras pesadas e eu respondia a cada pergunta. Parecia que o tal computador seria o suficiente para incriminar Jihyung, fora a busca que seria feita em sua residência. Sundyn ficaria bem e nenhuma outra aluna correria mais risco na escola.
— Você e a garota serão intimadas a comparecer na delegacia. Mas fique tranquila, senhorita. – o homem grisalho disse guardando sua pequena caderneta no bolso do paletó. — Tudo acabará bem.
Eu assenti sem conseguir falar.
— Certo. Obrigada por tudo, delegado. – Sora o agradeceu.
Vi o delegado sair e minha amiga trancar a porta.
— Vem, vamos descansar Luma. Você está um caco.
— Uh... A Yoko.
— Nossa bebê está muito bem. Eu ia te avisar que ela decidiu novamente tentar passar o fim de semana com a avó. Venha. – me ajudou a levantar levando-me para o quarto.
Afundei cabeça no travesseiro fechando os olhos sem conseguir mais lutar com o sono. — Se precisar de qualquer coisa me chama.
Beijou minha testa. A luz se apagou e eu adormeci.




















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