8 - Eu gosto de vinho

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Não tenho festas hoje pela tarde ou noite, só amanhã de manhã, às dez, e dessa vez liguei o alarme. Então não me preocupo com o fato de ser duas da tarde e eu já ter bebido uma garrafa de vinho inteira. Ou de ter tomado o remédio pra dor de cabeça com ela, afinal, é uma comemoração e eu quero beber.

Recebo uma mensagem da professora Soon respondendo minha pergunta sobre as músicas:

Não se preocupe, eu vou te passar apenas duas músicas nessa primeira semana e vou acrescentando as outras aos poucos.
Aqui estão:
*Áudio*
*Áudio*
Espero que estejam prontas para terça

Escuto os audios.

O primeiro reconheço como Schubert, e o segundo Albinoni. Levo um tempo para lembrar quais são as músicas, talvez por causa do álcool, mas, no final, chego a conclusão de que são Moments Musicaux e Adágio em G menor respectivamente.

Não entendo porquê um adágio e um allegro, mas eu não entendo de ballet mesmo.

Mas para mim, a parte mais surpreendente foi ela não ter mandado nem as partituras nem os nomes das músicas ou dos compositores. Mas tudo bem, sendo formado eu deveria saber dessas coisas, certo?

Procuro pelas partituras na internet e não tenho trabalho para as encontrá-las. Já toquei as duas no passado mas não lembro delas. Pelo menos não de cabeça e vou precisar ensaiar para estarem boas na terça.

Começo com o Adágio porque acho que será mais fácil. Pelo menos mais lento eu sei que é.

...

Já são sete da noite e eu já estou na metade da segunda garrafa. Infelizmente a música ainda não está boa e isso me deixa angustiado a ponto de gritar de frustração e me parar, algumas vezes, antes de jogar o celular na parede.

Normalmente eu faria isso se fosse uma partitura física, então as vezes esqueço que estou usando o celular e quero jogá-lo longe.

Além disso, já estou cansado da música e a dor de cabeça já começa a voltar.

- É isso. Sem mais música clássica - falo levantando do banco e fechando o piano.

Ligo o rádio e me jogo no sofá. A música que está tocando não é boa, mas eu não me importo, pelo menos é agitada e tem uma batida que me deixa animado. Até movimento os pés

Rio com a letra porque realmente é péssima.

- Eu faria melhor que isso - resmungo e tomo um gole da taça com vinho.

Facho os olhos por um tempo apenas sentindo a batida da música realmente alta mudar meus batimentos cardíacos.

As paredes têmisolamento acústico mesmo. Coloquei quando comecei a ensaiar de noite, então não tenho que me importar com vizinhos chatos.

Apenas me deixo levar pela música.

...

Aquela voz aguda e irritante não sai da minha cabeça. Para de gritar, Park JiMin.

Nossa como essa voz me irrita quando estou com um pouco de álcool, parece mais aguda do que já é. Peço diversas vezes para ele parar mas não adianta, ele continua.

- PARA DE GRITAR, MERDA. EU NÃO AGURNTO MAIS A SUA VOZ, PARK JIMIN.

Acordo assustado e caio do sofá. Estou suando e arrepiado. Por que merda sonhei com JiMin?

Depois de todos esses anos...

Apoio minha mão no tapete vermelho, o que me deixa confuso porque meu tapete não é vermelho. Percebo que, por sorte, eu não cai em cima da taça que está, também no chão, perto de uma grande mancha de vinho na qual coloquei a mão.

- Merda, isso não vai sair fácil - lamento a estupidez de ter dormido segurando a taça.

O rádio ainda toca alto. Levanto com dificuldade e vou até ele, para desligá-lo. Já que a pequena dor de cabeça virou praticamente uma enxaqueca que está incomodando muito.

Vou até a cozinha para pegar remédio, e pego logo dois e tomo de vez. Não ligo muito para a hora ou para a quantidade, só quero me livrar da dor insuportável.

Volto a me deitar no sofá.

- Eu devia tentar tirar essa manchá - falo encarando a mesma.

Mas assim que desbloqueio o celular e vejo as horas desisto. Já são onze e dez. Quando fui dormir era por volta de sete horas, já que não lembro de ter ouvido mais de duas músicas.

Agora não adianta mais tentar tirar isso. Vai ficar como parte da decoração.

Suspiro.

Procuro pelo número de JiMin, mas não o encontro, nem o de nenhum dos outros garotos. Então me lembro que na última vez que troquei de celular perdi meus contatos, e, como não nos falamos mais, não fiz questão de recuperar os deles.

E é verdade, eu não precisei ou me importei em ligar para qualquer um deles antes de ter esse sonho estranho com o JiMin. Se não fosse por ele não lembraria que nenhum deles existe.

E então, depois de tanto tempo, eu penso no JungKook, Jeon JungKook. E admito que queria estar mais sóbrio quando fizesse isso porque logo a raiva sobe a minha cabeça e xingo o garoto de todos os modos possíveis.

- Eu estou muito bem sem ele, ouviu? OUVIU? EU ESTOU ÓTIMO SEM ELE - grito para ninguém especial já que estou sozinho.

Eu estou sozinho.

Sinto as lágrimas caindo e volto a gritar irritado.

Vou até o quarto e deito na cama sem me preocupar com todas as luzes que deixei acesas ou com o fato de estar suado e com roupas de rua.

Cubro todo o meu corpo com o edredom e me encolho. Eu tenho certeza que não estaria tão sensível se estivesse sóbrio, que não estaria tão triste se estivesse tão sóbrio, que não sentiria falta deles se estivesse sóbrio.

Mas eu não estou sóbrio, e a vontade de vomitar me lembra disso. E não sei como consigo chegar no banheiro a tempo.

Vamos, Hyung, você devia tomar um banho frio.

Ouço a voz de JungKook na minha cabeça.

- Eu não vou te ouvir, pirralho idiota.

Forever - MYGOnde histórias criam vida. Descubra agora