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A menina se levanta do sofá quando a porta é entreaberta e caminha para seu quarto. Não fecha a porta, apenas se joga na cama. Pensa em realmente tentar dormir, deixa seu celular em sua barriga para perceber quando ele vibrar, se ele vibrar.

Um sono leve começa a abater quando ela realmente finge que não está em casa, até a sua respiração parece mais fraca, mais leve. Vê a cabeça de seu pai para dentro do quarto, como o esperado, ele já tomou banho, deve ter almoçado também. Seu cabelo está úmido e alguns pingos de água descem por sua testa.

Oi — ele diz.

Oi — ela responde.

Ela espera que ele pergunte como foi seu dia. Se ela precisa de ajuda em alguma atividade. Se há alguma atividade. Se há algum problema na escola. Se não há problema nenhum.

Mas, não é o que acontece. Ele balança sua cabeça enquanto seus lábios franzem e dá meia-volta. A menina não precisa ouvir para saber que ele se senta no sofá e liga a televisão. Começará a ver os noticiários. Resmungará sobre alguns casos. Sequer Valentina sabe como é um resmungo, ainda não sabe se é o mesmo que muxoxo, mas sabe que é o que seu pai fará, porque sua mãe sempre comenta sobre.

— Pare de resmungar — sua mãe ralha para ele, ocasionalmente.

— Pare de reclamar tanto ao ver televisão.

— Se não gosta do programa, mude.

— Se gosta, não reclame.

São todas as sentenças proferidas por sua mãe quando acha que Val não entende. Mas, Val entende. É expect em leitura labial. É expect em observar as cenas quando ninguém percebe que ela está observando.

Fecha seus olhos, os espreme, como se ao fazer esse movimento as lembranças também se afastassem.

Seu celular, ainda em sua barriga, vibra. O agarra com pressa e encara a tela. Não é uma mensagem pela rede social, é uma mensagem para seu número.

Se tiver em casa, passa aqui.

— A.

Tina ri, Amanda sempre coloca a sua assinatura na primeira mensagem que a envia no dia. Sua responda é rápida.

Deixa a porta aberta.

Se levanta da cama com pressa e se olha no pequeno espelho em seu guarda-roupa. Seu cabelo está a confusão de sempre e, ao menos, seu rosto não está amassado. Vestida com sua roupa "de casa" — um short de moletom e uma camisa de mangas curtas — vai para a sala.

Vou pra casa de Amanda.

Seu pai levanta seus olhos da televisão para ela. Ele franze seu cenho e a menina sabe que ele demora alguns momentos para entender a comunicação em libras.

Avisou a sua mãe?

Sim. — Era claro que não.

Tudo bem.

Volta para seu quarto apenas para pegar um casaco comprido, caso Amanda decida sair para algum lugar. Sai de sua casa sem se despedir, ele já sabe para onde ela vai, já é mais do que o suficiente.

IncompatíveisOnde histórias criam vida. Descubra agora