Kismet

Capítulo Dez: O Valor da Amizade

Foi bem fácil para Natalie evitar encontrar com Henry. Ele não foi trabalhar na terça-feira, como havia alertado Sophia, e ela fez questão de passar a maior parte do seu dia trancada em uma pequena sala que lhe foi oferecida para terminar sua análise. Como combinado, ela entregou o relatório na quarta-feira na hora do almoço, chegou a vê-lo entrar na sala de um dos seus sócios e fez questão de entregar o documento à secretária e deixou um cartão com seu telefone e e-mail, assim como o telefone do apartamento onde estaria em caso de alguma emergência. Sophia parecia não notar que havia algo errado entre os dois, apenas pegou os documentos e os colocou na sala do patrão. Quando procurou por Natalie, ela já havia ido embora.

Natalie chegou ao apartamento eram um pouco mais de duas da tarde, comprou um sanduíche no meio do caminho, o comeu em uma praça e depois foi ao supermercado. Comprou o que sabia que as amigas gostavam de comer e de beber e também alguns produtos de limpeza. E ao chegar ao apartamento começou a limpar e organizar tudo. Acabou confessando às amigas que não estava se sentindo muito animada e que não estava muito bem, sua intenção era cancelar a viagem. Porém o efeito foi oposto, elas acabaram adiantando tudo e chegariam ainda aquela noite. As buscaria no aeroporto e teriam uma noite tranquila, conversando. Arrumou tudo com destreza, apesar de tudo, sempre foi muito competente com as tarefas domésticas. Resolveu que faria uma lasanha e um pudim de chocolate. Tudo muito saboroso, simples e sem culpa. Como a lasanha era bolonhesa, vinho tinto para acompanhar. Às cinco da tarde já estava com quase tudo pronto, só faltava assar a lasanha, mas deixaria para fazê-lo quando as amigas chegassem. Tomou banho, se arrumou de maneira bem simples. Uma calça jeans skinny escura, um cardigã cinza que era um pouco largo, os cabelos presos em rabo de cavalo, sapatilhas e uma maquiagem bem leve. Baton nude, delineador, máscara e um pouco de blush para ficar mais corada, pois o clima frio da Europa e os últimos dias a tinham deixado bem pálida. Olhou no espelho e gostou do que via, estava bonita e apesar de ter pensado em cancelar, a perspectiva de ter suas melhores amigas com ela era acalentadora.

Pegou seu celular e sua bolsa, apagou as luzes e fechou a porta. Chamou o elevador e ficou aguardando-o aparecer, olhava o relógio um pouco ansiosa, mas ainda tinha tempo. Na verdade, estava adiantada. Achou melhor ir de metrô, assim mataria um pouco do tempo que sobrava. Ligou os fones de ouvido bluetooth e, distraidamente, saiu caminhando em direção ao metrô. Dobrava a esquina quando ouviu uma voz feminina desesperada gritar.

- Kal... Não! Volta aqui!

A música que Natalie ouvia era suave e não estava tão alta, o que a permitiu ouvir. A voz repetia o mesmo chamado incessantemente, o que fez Natalie olhar para trás, apenas para ver um enorme cachorro correr rua a baixo, com sua coleira arrastando e uma linda e jovem loira correndo atrás dele e o gritando. O cão passou ao seu lado e Natalie, que nunca teve problemas com animais em geral, pisou em cima da coleira, abaixou e a segurou. O que surpreendeu Jenny que logo parou ao seu lado um pouco ofegante.

- Oh! Obrigada! Ele se soltou quando eu o estava levando para passear e o telefone tocou.

- Não tem problemas. Ele passou ao meu lado. E ao contrário dos que fugiram dele por ser grande, eu não tenho medo de cães. E eles reconhecem isso. – Natalie encarou o cão com um sorriso e o acariciou atrás da orelha. O animal soltou um ganido satisfeito. Apesar do tamanho parecia um cão dócil. – Seu cachorro é muito bonito e muito fofo.

- Não é meu, é do meu namorado. Por isso ele não me respeita tanto. O Henry me mataria se acontecesse algo com ele.

A menção daquele nome fez com que Natalie estremecesse, encarou a loira a sua frente e, pela primeira vez, notou quem falava com ela. Era Jenny, a estonteante namorada de Henry. Apesar da voz firme e da postura decidida, parecia mais uma menina.