Acredito que a primeira vez que me questionei sobre minha beleza foi aos 9 anos durante um intervalo do meu então quarto ano do fundamental, onde uma das meninas, mencionou uma tal "lista da beleza".
- Eu sou a primeira, a Carol é a segunda, a terceira.... a Torres é a sexta é a Tainara a sétima.
Sim, apenas 7 meninas na sala, e saber que eu não estava no conceito de beleza delas foi o primeiro passo pra eu me perguntar "Então... eu não sou bonita?". Eu já tinha percebido a minha diferença para as outras meninas, realmente me achava diferente, eu pensava diferente, brincava diferente, me sentia criança, por que me preocuparia com uma beleza que não é minha assim como elas estavam se preocupando? De acordo com elas parecia um menino, não só com elas como talvez suas mães, talvez pelo corte de meu cabelo e por não ser tão afeminada quanto às mesmas.
A partir daí só desastre, comecei a reparar em mais detalhes meus e no que as pessoas falavam... Olhos (que pareciam mais esbugalhados do que antes), boca (Ah! essa era torta, certeza absoluta!), orelhas (grandes como a do Dumbo), testa (parecia uma tela de cinema), nariz.... a o nariz, esse era grande, quase tão grande quanto do meu pai, que por incrível que pareça não se preocupava com o tamanho do seu, mas então por que diabos eu me preocupava? Meu nariz não era fino, mas também não era largo, nem achatado, era cumprido, e aparentemente... normal. Porém a dúvida permanecia "O que tem de errado com meu nariz?".
Durante minha adolescência mais preocupações, deixei meu cabelo crescer, coloquei aparelho - afinal tinha que alinhar meus dentes - estava ficando alta, ganhando seios, e pelos. Pelos, eles não eram um problema tão grande, mas que horror seria se alguém os visse?? E não posso esquecer que não devo sorrir, não devo mostrar meus dentes nunca. E Maria Clara, NEM PENSAR, em abrir a boca, sua voz está mudando. Meu plano foi por água abaixo, um lado negativo que foi justamente no meu primeiro dia de aula, não ter usado sutiã, afinal, pra que usar algo que me aperta e eu não usei a vida inteira? Foi só perceber que a blusa de uma colega de classe era transparente que eu fiquei vermelha de vergonha, o sutiã dela estava aparecendo e comecei a me questionar:
-Será que alguém viu meus peitos? - Coloquei o casaco na hora, acho que daí minha desculpa de "estar sempre frio" começou, não tirava o casaco por nada. Mas pelo lado positivo, eu me soltei, era desbocada, falava com qualquer pessoa, esquecia das regras que tinha gravado mentalmente e sorria abertamente, gargalhava, meu cabelo às vezes mal era penteado, era bom ser eu, criar histórias e listas de frases, fazer vídeos que eu e minhas amigas achávamos engraçados e não ligar para opinião alheia, era tão bom.
Aos 15, mais problemas com insegurança, e a volta do nariz grande, eu odiava meu corpo e odiava não ter um calçado que coubesse em meu pé, diferente das outras meninas que calçavam 35/37 eu já calçava 39/40, tinha um pé enorme e raramente achava um sapato que coubesse perfeitamente. Roupas também sempre foram um problema, eu detestava ter que mostrar meu corpo, morria de vergonha, repudiava a ideia de usar um biquíni ou usar um short, uma saia ou até um vestido, mostrar minhas pernas para os outros... eu já não era mais uma menina que corria o tempo inteiro durante as brincadeiras, agora eu era uma menina com um "corpo", de acordo com os mais velhos, já era uma "mocinha", as coisas não eram as mesmas. Maquiagem então foi uma grande questão, principalmente em minha festa de 15 anos, minha mãe havia contratado uma maquiadora de primeira mão, que me transformaria em uma princesa, EU ODIAVA PRINCESAS! (Não é atoa que no meu aniversário de 3 anos com a temática da Branca de Neve eu queria ser a bruxa, a qual é! Ela tem PO-DE-RES!) A ideia de ter quilos de base, pó, e possivelmente chumbo na minha cara nunca me agradou, eu tinha 15 anos e com toda aquela mistura parecia que tinha 20! O que eu deveria ser afinal? Uma princesinha ou uma empresária bem sucedida?
Até os meus atuais 18 anos tenho questões sobre minha pessoa que vos escreve, mas por incrível que pareça, e com todo comentário negativo à volta eu aprendi a me amar e me aceitar aos poucos, não posso dizer que é 100%, quem me dera ser totalmente autoconfiante, mas acredito que o pouco que eu já tenho me basta por enquanto.
Aprendi a gostar de maquiagem, nada muito pesado, às vezes até colorido como as makes de EUPHORIA, e no final das contas ela é sempre natural. Natural não só quando está limpa, sem nada, mas natural também quando me sinto bonita com ela, natural por que eu consigo me sentir bem com as duas e me sinto poderosa das duas maneiras. Finalmente eu consegui achar um estilo de roupa que eu gostasse, nada apertado, mas também nada muito largado, eu era eu, colorida e preto e branco, eu sou eu, e me sinto confortável de usar qualquer roupa (Não as apertadas, essas sufocam). Meu corpo mudou sim, eu engordei, e diferente dos comentários dos meus familiares, eu me sinto a mulher mais gostosa do mundo, e diferente dos meus 15 anos, eu finalmente me sinto à vontade e confiante de usar um biquíni na praia, e não esconder uma barriga que antes eu não tinha. Meus pelos cresceram, e continuam crescendo, afinal eles estão aqui pra me proteger, então não tem porque arrancá-los de mim com algo quente e doloroso. A e o nariz, você deve estar se perguntando "Como se esqueceu do nariz tão rápido? Certeza que fez rinoplastia", e a resposta para isso é: NÃO! Vamos lá, pense comigo, meu nariz esteve aqui por todos esses anos, ele nunca fez um mal á mim (a não ser pela rinite alérgica, essa aí e um terror), porque deveria desestruturar ele e ficar meses dentro de casa (Algo que não suporto) toda inchada e machucada? Meu nariz sempre esteve aqui e me ajuda a respirar, e em momentos felizes ou tristes, eu nunca tinha parado pra reparar nele, isso é ruim e muito bom ao mesmo tempo, preste atenção. É muito bom não ter percebido meu nariz pois eu entendi que ele nunca foi uma preocupação, ele estava aqui e nunca se revelou um vilão, mas também é ruim porque assim como outras partes do corpo nós deixamos esquecidas no dia a dia, aliás, se for resolver contemplar seu corpo por alguns minutos na frente do espelho e as funções que ele tem pra te auxiliar é um ótimo exercício de aceitação.
Talvez o grande desafio em se aceitar não seja apenas o olhar de outros sobre nós mesmos, ou então qualquer outro bloqueio que exista dentro da gente, talvez o grande desafio seja tentar. Levei um bom tempo deixando meus sonhos e minhas crenças de lado porque tinha medo, me escondia, duvidava que receberia uma boa atenção e ajuda, e ao contrário da Clara que gostava de escrever histórias e guardar para si, hoje decidi contar um pouco da minha para a possível Clara do futuro, e para quem quiser acompanhar.
Maria Clara, um aviso para término de capítulo. Você é a mulher mais linda do mundo e eu me sinto muito feliz em habitar seu corpo. Eu me sinto linda quando o dia está lindo, eu me sinto linda quando eu ouço One Direction e The Vamps e danço passos inventados por mim, eu me sinto linda quando uso meias diferentes com meus All Star's coloridos, eu me sinto linda quando ando na rua e admiro as pessoas, eu me sinto linda quando me sinto realizada em algum objetivo, eu me sinto linda. Você sempre foi linda, bonita, e qualquer sinônimo da palavra, você só precisa da sua afirmação para ter certeza disso. E quase me esqueci, você fica linda quando sorri.
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30 Maneiras de desejar Feliz Aniversário
NonfiksiPerto de completar seus 19 anos, Maria Clara resolve escrever uma carta para cada dia do mês de Setembro até chegar o dia do seu aniversário. Seu objetivo tornou-se uma volta ao passado, fazendo com que a garota começa-se a compreender o que a torna...