Dia 2: Garotos, garotos, Amores a parte:

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Não lembro exatamente a primeira vez que ouvi essa palavra, ou então namorado, ou então qualquer palavra ligada à isso, mas lembro da primeira vez que me senti na obrigação de gostar de alguém. Sim, obrigação, eu via todas as meninas da minha sala do terceiro ano do fundamental comentando sobre os "Top 3 meninos mais bonitos da sala", eram eles Thiago, Matheus e Luís, exatamente nessa ordem. Era assunto o dia inteiro, quem iria namorar um deles, quem eles gostavam, como era lindo o cabelo de tigela deles, e eu não entendia porque elas passavam o dia inteiro falando sobre meninos que não estavam nem aí, era um saco! Acho que de tanto elas falarem coloquei na minha cabeça que seria obrigada a gostar de um, então eu fiz a seguinte BURRADA, peguei minha agenda e escrevi em uma página, precisamente na primeira que "Eu amo o Thiago Pereira". EU NÃO AMAVA O THIAGO PEREIRA! Para falar a verdade eu o achava um mané! O garoto não aguentava ouvir um não da professora, chorava e resmungava por qualquer porrada que levava no futebol, e ainda reclamava de tudo, convenhamos que o garoto era sim um babaca. Dois fatos aconteceram, 1- Minha mãe pegou a minha agenda e leu a tal frase e veio fazer "perguntas de mãe" (Sempre odiei essas perguntas, mas isso é assunto para mais tarde) e 2- O dia em que a professora Helena decidiu que dois alunos entregariam as agendas depois dela ter olhado os bilhetes. Maldita hora que eu tinha esquecido de escrever meu nome na agenda sobrando apenas aquela frase, aquela maldita frase pra decifrar de quem era a letra, e então depois que Matheus (o segundo menino mais bonito da turma de acordo com a revista "meninas da minha sala") revelou o grande segredo eu virei motivo de piada. É, o menino por quem eu me senti no dever de gostar tinha nojo de mim e me destratava, até ser obrigado a fazer um par romântico comigo durante uma peça sobre o bumba meu boi (fiz uma ótima mulher grávida inclusive). Em compensação, no ano seguinte, naquele quarto ano do fundamental, Luís Henrique (o terceiro menino mais bonito da turma segundo aquela mesma revista) revelava sua quedinha por mim, assim como Victor, o repetente. E eu como sempre não soube como reagir, achava os dois bonitos sim, mas ter alguém gostando de mim era novo.

Quando mudei de colégio, no sexto ano do fundamental 2, me fiz essa mesma pergunta quando entrei na sala de aula: "Será que eu terei que gostar de alguém? E se eu não gostar de ninguém, o que as pessoas vão falar?" - Cogitei até alguns, e descobri no final das contas o óbvio, eu não gostava de nenhum, nem da minha sala e nem de outra, por mim poderiam todos explodir. Aliás, no 6 ano, eu ainda pensava em brincar e escrever histórias, então apenas deixei o assunto de lado. Mas aí chegaram meus 12 anos, 7 ano, e então o primeiro amor. Talvez seja forte demais, mas foi aí que eu comecei a acreditar em amor à primeira vista. Minhas aulas de teatro eram de manhã e coincidentemente as aulas da dependência também eram, e foi aí que conheci Roberto, ele era mais velho, era do 1 ano do médio, mas não podia negar que o achava lindo. Como a menina decidia que eu já fui, resolvi me aproximar, até fiz cupcakes já que eram seus doces preferidos, e posso recordar da nossa primeira conversa que era sobre um peixe (a ideia era construir uma história, mas ele não era bom nisso), e então uns 3 meses depois eu percebi que Roberto não passava de outro babaca que não sabia conversar, mas não era totalmente culpa dele não gostar de mim, perto do meu aniversário de 12 anos que uma amiga tinha pedido para chamá-lo, no mesmo dia da festa que ele não foi, a mesma tinha o visto com a perna quebrada, e não vou negar, depois de todas as mágoas (Aka: humilhação pública, pois novamente, todos do colégio descobriram que eu gostava dele) aquela notícia foi maravilhosa. Aos 15 anos novamente me vi apaixonada, e ao contrário do primeiro, Fábio era mais novo que eu, tinha 13, e ainda ao contrário do primeiro, nossas conversas eram longas e gostávamos um do outro, mas não era totalmente recíproco, percebi que ele ainda gostava da ex (sim, aquela altura do campeonato aparentemente até meninos mais novos já tinha estado em um relacionamento amoroso) e não pensava da mesma forma que eu, ele ainda era uma criança, eu tinha passado pelo mesmo, e agora me via no 1 ano do médio, amadurecendo. Como previsto, nosso rolo não deu certo, mas ainda guardo um grande carinho por ele.

Quando cheguei no segundo anodo médio mudei de colégio, e até então eu só havia beijado uma pessoa na minha vida inteira, e foi meio forçado porque me encheram o saco para o fazer (Resumidamente eu beijei um menino durante uma viagem para o interior do Rio, atrás da única igreja da cidade, que Deus me perdoe. Até ai tudo bem, nem foi ruim, o problema foi um senhor bêbado que depois de algumas cervejas resolveu mijar, bem ao nosso lado). Conheci um novo grupo de meninas que quando souberam ficaram chocadas. Uma delas até fazia comentários do tipo "Porque você não vai em resenhas, lá tem meninos que ficam com qualquer pessoa", eu era qualquer pessoa? Eu era realmente obrigada a estar em um lugar que eu não queria só para me sentir desejada? O quão errado isso era? Para falar a verdade se eu pudesse ter evitado muitos dos beijos que dei ao longo dos anos por pressão dos meus amigos e minha, eu o fazia. Passado o tempo, todas as minhas amigas já tiveram seu primeiro namorado, ficavam sério com outras pessoas, saíram do armário e até pensavam em casar. Sim, casar, caro leitor você não leu errado, as meninas faziam vaquinhas para juntar dinheiro. E eu, bom, eu nunca pensei em namorar. Okay, para não exagerar, já pensei em namorar famosos, os meninos da One Direction eram um grande caso, se eu pudesse apenas abraçá-los e conversar com eles, pra mim já era um namoro perfeito, mas infelizmente a vida ainda não me ofereceu algo tão empolgante. E por falar nisso, minhas queridas amigas sempre acharam isso estranho:

-Você é lésbica?

-Não.

-Então você é assexuada?

-Também não, eu só não gosto de ninguém.

-Impossível Torres, você deve gostar de alguém, todo mundo gosta de alguém.

Aí que está o Q da questão, eu não era todo mundo, não gostava de ninguém, minha ideia de namoro era totalmente avessa a das pessoas que conhecia. Um dos únicos meninos de quem "gostei" nem me cogitava a palavra namoro, eu só gostava de conversar, sempre gostei. E como dito antes, namoros pra mim nunca foram uma hipótese, não que eu não seja romântica, apenas colocava outros sonhos na frente, e não tem nada errado em colocar seus objetivos em primeiro lugar. Acredito que se for para estar junto com alguém e fazer durar, as duas pessoas devem estar bem consigo mesmo antes de tudo e realmente amar uma a outra, não quero nada forçado só por que aconteceu um mísero beijo ou uma cantada barata. Se tem algo que eu levo comigo depois de todas as conversas com esses meninos é um novo hobby que descobri em mim, e o primeiro está bem aqui, escrever, depois que comecei a mandar cartas para Fábio vi que eu tinha potencial em ao menos alguma coisa, assim como aprendi a cozinhar depois de fazer cupcakes para Roberto, e por aí vai... os garotos sempre vem e vão, mas suas habilidades permanecem. Um resumo, você não precisa de ninguém para se identificar, você se identifica com você mesma, e isso é incrível.

30 Maneiras de desejar Feliz AniversárioOnde histórias criam vida. Descubra agora