Capítulo IV: "There's no place like home"

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Sam não conseguia acreditar no que estava acontecendo. Depois de tantos anos sua antiga rival estava de volta para provocá-la. Tudo o que Sam conseguiu fazer naquele foi finalizar a chamada, colocar para tocar sua música favorita Deus de amor, e chorar copiosamente.

Após chorar por alguns minutos, Sam foi atingida por um raio de esperança e pensou:

-Por que estou chorando se nem ao menos esperei Ana Paula me dizer quem havia saído da casa dela? Talvez não fosse o Matt... Talvez fosse alguma outra pessoa e ela queria que eu soubesse - e após enxugar as lágrimas, a ingênua e esperançosa Sam respirou fundo e preparou-se para retornar a ligação. Foi quando percebeu que não havia finalizado a chamada e Ana Paula ainda estava a ouvindo durante todos aqueles minutos em que Sam chorava.

-Samantha? Sam?? - Ana Paula a chamava.

-Ana Paula... Que surpresa... Eu pensei que a ligação havia caído - Sam estava se sentindo humilhada, mas esforçou-se para dizer as próximas palavras com toda a firmeza que fosse capaz - me diga então quem estava na sua casa.

-Na verdade nem era necessário que eu ligasse, afinal uma boa esposa saberia onde o marido está, não é mesmo?

Naquele momento, Sam cingiu-se de força e respondeu com toda intrepidez: -Olha, Ana Paula, assim eu vos digo, eu não sei porque você insiste em se levantar contra a minha família em vez de viver a sua própria vida. Já passou uma década e você ainda não desistiu de tentar contra minha felicidade. Teve coragem de vir aqui em Lavras só pra tirar minha paz. Amada, vá viver a sua vida. - Sam disse essas palavras com a mesma autoridade que declarava palavras proféticas quando era pentecostal, o que causou tamanho furor em Ana Paula.

-Pode ter certeza que vou viver a minha vida, você vai ver! - Ana Paula respondeu enfurecida e desligou.

Depois de conferir se de fato a chamada havia sido finalizada, Sam, que estava até com o corpo tremendo, baixou a guarda e derramou-se em lágrimas mais uma vez. Quando de repente seu robô doméstico entrou em seu quarto para avisá-la que tinha visita. Ao vê-la chorando perguntou:
-Por que estás abatida, ó minha dona e te perturbas perto de mim?
-Ó, meu amigo robô, bem aventurado és tu por ser apenas uma máquina. Quem me dera ter um coração de lata como o seu, para que eu não sofresse por amor.
-Ó, minha senhora. Se soubesses que ser incapaz de amar é o maior dos sofrimentos não dirias isso. 

Independente de aquelas palavras terem sido pré programadas em fábrica, no fundo Sam sabia que o robô estava certo e aquilo lhe trouxe certo ânimo. Sam então respirou fundo e forçando um sorriso no rosto, foi atender a porta, imaginando quem poderia ir até sua casa naquela altura da noite.

-Só pode ser algum aluno pedindo um prazo maior pra entregar um trabalho - ela pensou. Mas tamanha foi sua surpresa, quando abriu a porta e viu que quem estava lá era seu amado Matt. Com toda certeza, naquele momento, as câmeras do governo deram zoom no rosto de Sam para focar em seu olhar apaixonado, ainda que triste.

-Matt, Ana Paula me ligou... Eu não acredito que você teve coragem de ir à casa dela, Matt, você me disse que estava numa reunião de oração silenciosa. Como você pode mentir sabendo quem é o pai da mentira?

-Sam... Deixe-me explicar... - Matt entrou em casa e segurou carinhosamente nas mãos de Sam - Era, de fato, uma reunião de oração silenciosa. Meus pais me convenceram a ir e sim, foi na casa dos pais da Ana Paula, mas eu nem sabia que ela tinha voltado para o Brasil, e muito menos que estaria lá.

-E vocês conversaram?

-Sim, ela me contou que voltou para o Brasil e que vai ficar com os pais um tempo, eu contei que assim como os pais dela, nós também nos mudamos pra cá pra ajudar meu pai com a igreja nova e acabamos ficando por aqui, nada demais.

-Hum, continue.

-E de repente chegou uma notificação no tablet do meu pulso, que alguém estava assistindo memórias nas quais eu aparecia, e eu poderia assisti-las também.

Sam olhou com seu olhar de reprovação, imaginando que esse alguém era Ana Paula.

- Era você Sam - continuou Matt. - Eram as nossas memórias, o nosso casamento, a nossa lua de mel. E ao assisti-las eu percebi que meu lugar é com você. Que todas as vezes que vencemos as lutas que se levantaram contra nós, vencemos porque estávamos juntos. Eu ainda não sou o mesmo de antes, mas a terapia tem me ajudado e tenho certeza que estar com você e com o João Calvino vai me ajudar ainda mais. Ficar na casa dos meus pais não foi a melhor a ideia que tivemos, rs. - Matt ajoelhou-se e segurando uma tulipa em uma das mãos continuou: - Você me aceita mais uma vez em nosso lar?

-Ó meu Boaz, mas é claro. Os santos perseveram até o fim. - Sam respondeu, e Matt levantou-se beijando sua amada e erguendo-a do chão girou-a no ar.

-Égua, - Sam continuou - verdadeiramente quem sai andando e chorando enquanto semeia volta com alegria trazendo seus feixes.

As lágrimas, outrora de tristeza, agora eram de alegria. O pequeno João Calvino ouviu de seu quarto a voz do pai, e levantando-se foi até a sala dizendo: -Pai, estou aqui. Olha para mim!
Ao que Matt respondeu: -Vem filho amado, vem em meus braços descansar!

O menino correu para o colo de seu pai, e os três ficaram juntos ali, como uma família sem qualquer falsidade, vivendo a verdade, até que pegaram no sono ali mesmo, na sala.

Os agentes do governo, que em seus escritórios observam 24 horas por dia a filmagem de todos os habitantes do país, assistiram emocionados  aquele momento de reconciliação.
-Momentos como esse fazem nosso trabalho valer a pena - diziam uns aos outros.

Finalmente, as coisas pareciam estar melhorando para Sam. Pareciam.

The Presbyterians - Volume IIOnde histórias criam vida. Descubra agora