Capítulo VII: "We are the presbyterians"

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Sam acordou pela manhã, com a sensação estranha porém muito comum de ter tido um sonho, mas sem conseguir lembrar-se do que havia sonhado. Rolou um pouco na cama e concentrou-se na tentativa de recordar seu sonho. Aos poucos, cenas curtas foram vindo a sua mente, Sam lembrava-se de que no sonho estava casada com Matt e que Ana Paula os perseguiu durante anos, a ponto de sequestrar seu filho. Quando lembrou-se disso, Sam saltou da cama com ímpeto, assustada. "-Teria toda a minha vida sido apenas um sonho?"- ela pensou.  Então levantou-se, preocupada, ainda um pouco tonta e com muita dor de cabeça, sem conseguir discernir bem sua realidade. Mas tamanha foi sua alegria ao chegar na cozinha e poder ver seu marido e filho sentados à mesa e tomando café.

Sam cruzou os braços e encostando-se na parede, ficou por alguns minutos admirando os homens de sua vida e silenciosamente orando grata pela vida que, apesar de tantas lutas e tantas dores, parecia sim um sonho. Mas, para sua alegria, era real.

-Tentei te acordar, mas não consegui. Você estava num sono profundo - disse Matt.

-Você não imagina a alegria que sinto em acordar e ver que vocês são reais, - Sam respondeu rindo - por um momento achei que tudo foi apenas um sonho.

-Foi o stress de ontem que te causou isso, ó minha amada.

-Sim, não estou suportando essa dor de cabeça. Quisera eu ser continuísta e crer que poderia ser curada sem precisar tomar um remédio.

-Se já está fazendo piada com o continuísmo é porque já está melhor, e isso me deixa muito feliz. Eu vou levar João Calvino para a aula e depois vou passar na delegacia prestar mais alguns depoimentos. Você não vai trabalhar hoje mesmo, ou vai?

-Não vou, avisei ontem que precisaria descansar pois passei o dia resgatando meu filho. Mas, acho que vou a delegacia com você. Quero conversar com a Ana Paula. Preciso colocar um ponto final nisso tudo.

Apesar de Matt tentar convencê-la a não ir, Sam estava decidida a concluir essa estação de sua vida, de uma vez por todas. Então foram, e enquanto Matt prestava seu depoimento, Sam pôde conversar com Ana Paula. Misericordiosa como era, Sam entristeceu-se em ver sua rival atrás das grades, ainda que merecendo. Mas como já disse o sábio: cada escolha, uma renúncia. Isso é a vida. Ana Paula escolheu caminhos que aos seus olhos pareciam bons, mas no fim eram caminhos de morte.

-O que você faz aqui Samantha? Veio desprezar e zombar de sua inimiga? Estou presa. É isso que você queria, não é mesmo? Você sempre quis me destruir!

-Ana Paula, não... Eu nunca te desejei o mal, pelo contrário. Sempre quis que você vivesse sua vida e vivesse bem. Eu não vim aqui pra zombar de você. Mas vim pra dizer que te perdoo, ainda que você não queira me pedir perdão. Eu quero te perdoar por todo o mal que você tentou causar a mim e a minha família. Desde a vez em que você empurrou Matt do ônibus, há muitos anos atrás, até agora quando você sequestrou o João Calvino. Eu quero liberar perdão sobre sua vida.

-Você quer me perdoar? Mostre-me isso com atitudes! Retire as acusações contra mim!

-Infelizmente não é assim que funciona. Você foi perdoada, mas precisa conviver com as consequências dos seus erros. Mas, por favor, aproveite esses trinta anos aqui pra rever sua vida, Ana Paula. E para o dia em que você sair, você não saia com o desejo de continuar tentando contra minha vida, mas finalmente a viver a sua. Eu vou colocar pra tocar a música Coração igual ao Teu da minha banda favorita pra você ouvir e eu quero que você fique em espírito de oração para meditar nessa letra.

-Ai, não. Não precisa, Sam. Não estou a fim de ouvir esse tipo de música agora. Agradeço você ter vindo e aparentemente não ter ressentimentos. Pelo visto, não consegui nem tirar sua paz, com tudo isso que fiz.

Sam assentiu com a cabeça, sorrindo e aproximou-se de Ana Paula para abraçá-la.

-Com esse abraço eu encerro nossa guerra aqui, assim como Esaú e Jacó.

-Ícone faz assim - disse Matt, observando com orgulho sua amada.

No fim das contas, Matt não teve problemas por ter ferido Ana Paula, visto que foi para salvar seu filho.

-Acho que finalmente podemos comemorar nossas bodas de aço, não achas, meu amado? - disse Sam segurando a mão de Matt enquanto saíam da delegacia.

E o casal começou então a preparar a celebração aos seus 11 anos casados.  Decididos a mais uma vez realizar não apenas uma festa, mas um culto, Sam e Matt decidiram celebrar essa data tão significativa na Catedral Presbiteriana do Rio de Janeiro, que é não apenas um templo, mas um ponto turístico. E naquela bela arquitetura e na presença de muitos amigos e familiares Sam e Matt aproveitaram também para renovar seus votos.

-Meu caro e estimado Matt, eu olho para trás e me lembro daquela menina rodopiando no culto, desejando encontrar solidez e profundidade. Aquela menina precisou reformar-se, não apenas eclesiásticamente, mas também reformar seu coração, que já havia sido tão ferido. Aquela menina jamais conseguiria reformar-se sozinha. Sozinha ela seria apenas uma bela bagunça. Mas ela encontrou alguém que ao seu lado a moldou, pois como ferro ao ferro se afia, assim o homem ao seu companheiro. Aquela menina passou por desertos que jamais imaginaria ser capaz de passar, mas no final, ela chegou a sua terra prometida. Aquela menina hoje é uma mulher, e arrisca dizer que é a mulher mais feliz desse mundo que jaz no maligno. Reafirmo aqui os votos que um dia fiz, onde fores irei, onde pousares ali pousarei. Seu povo será meu povo e seu Deus será meu Deus.

-Minha amada Sam, tu arrebataste meu coração com um só dos teus olhares, no momento em que entraste naquele templo na Tailândia. Não houve quedas, mentiras, guerras e nem mesmo um coma capaz de nos separar. Superamos todos os desafios até aqui e continuaremos superando até a chegarmos na Eternidade. Segurando em suas mãos e olhando para esses mesmos olhos que me arrebataram há muitos anos posso olhar confiante para o futuro, pois sei que tempestades certamente irão nos alcançar, mas também sei que estando ao seu lado a calmaria virá. Te amei até aqui e te amarei por todo o sempre.

Após os votos, Sam e Matt beijaram-se tão apaixonadamente que alguns pais preferiram cobrir os olhos das crianças, mas apenas por alguns segundos, pois não puderam conter-se sem aplaudir aquele memorável momento.

Sam e Matt passaram os meses seguintes vivendo dias tranquilos e desfrutando de uma paz que há muito tempo não tinham. Até que, mais uma vez, os dias de tranquilidade foram interrompidos, porém agora, por um bom motivo. Sam descobriu que estava carregando em seu ventre mais um filho. Mais alguns meses se passaram até que João Calvino ganhou seu irmão mais novo: Augustus Nicodemus.

Alguns dias depois, seus web amigos de tantos anos Jess, Rada e Jon foram visitar Sam pra conhecer o bebê.

-Sam, - Jon se aproximou - eu trouxe um presente para vocês. É o manuscrito de um livro que escrevi, e se vocês autorizarem, desejo publicar.

-E por que precisa da nossa autorização, amigo? - Sam perguntou.

-Porque esse livro é sobre vocês, quis honrar essa trajetória tão linda e épica de vocês registrando algumas coisas que vocês viveram, desde que se conheceram até aqui. Esse mundo precisa saber que o amor ainda existe.

-Amigo, estou deveras emocionada, - disse Sam abraçando Jon - é claro que você pode publicar.

-Só tem uma coisa, eu me esforcei muito, mas não consegui pensar num título capaz de carregar a essência e o valor da história de vocês. Alguma ideia?

Sam parou por um momento, segurou na mão de Matt e sorrindo respondeu:

-O livro deve se chamar "Os presbiterianos".

The Presbyterians - Volume IIOnde histórias criam vida. Descubra agora