The Presbyterians - Volume II

Capítulo V: "The ship at the port"

C. S. Lewis disse certa vez: "Um navio é seguro no porto, mas não é para isso que os navios foram feitos." Quando Matt decidiu servir como médico em zonas de conflito, ele e Sam estavam como um navio no porto, totalmente seguros e confortáveis. Sam havia se formado em teologia, e o casal logo em seguida se mudou para Lavras para ajudar os pais de Matt na plantação de uma nova igreja. E a cidade mineira lhes trouxe muita prosperidade. Sam conseguia conciliar muito bem seus trabalhos de teóloga e professora, sem abandonar sua função de ajudadora no lar, enquanto Matt também estava sendo muito bem sucedido trabalhando como médico, tanto que um documentário inspirado nele foi produzido: "A anatomia de Matt", mas infelizmente não chegou a ser lançado pois todos os outros médicos que trabalhavam com Matt acabaram morrendo antes que as gravações fossem concluídas. Apesar da grande expectativa do público, a decisão foi tomada pois, segundo o produtor, de nada adianta ter um documentário em que no final apenas o protagonista continua vivo.

Um pouco depois disso veio o nascimento de João Calvino, uma gravidez que não havia sido planejada, mas com certeza havia sido predestinada. Uma gestação absolutamente tranquila, na qual o único problema foi a ausência de um chá-revelação. Sam cogitou fazer um chá-iluminação, mas Matt achou que ter que explicar o porquê da mudança aos convidados certamente seria cansativo.

-Mas é tão simples - disse Sam, tentando convencê-lo - a revelação já não existe mais, o que existe hoje é a iluminação. E nós vamos ter nossos corações iluminados com a verdade sobre o sexo do nosso bebê.

Sam manteve o costume de fazer não apenas festas, mas cultos. Porém João Calvino chegou um pouco antes do previsto, e não houve tempo para a realização do chá, que foi substituído por um culto de celebração após o batismo do menino. Apesar da tradição cessacionista da família, a criança recebeu algumas palavras proféticas de amigos pentecostais de Sam. Dentre tantas palavras, uma foi que quando adulto João Calvino seria um grande reformador da igreja. E pelo que se vê há alguns anos, a reforma será extremamente necessária quando João Calvino se tornar adulto.

Bons empregos. Casamento feliz. Uma criança saudável. Família presente. Estabilidade. Uma igreja que não faz balada pra atrair jovens. O navio de Matt está no porto.

Apesar de Matt estar se sentindo realizado com sua família típica de um comercial de margarina, seu coração queimava por fazer algo mais. Sua motivação quando escolheu através de sua livre agência cursar medicina não era se tornar um médico protagonista de um documentário, ou meramente trabalhar para acumular tesouros onde a ferrugem e a traça destroem e os ladrões arrombam e furtam. Sua motivação era poder fazer a diferença na vida das pessoas, e ele percebeu que existiam lugares onde ele poderia fazer mais.

Foi quando a guerra, que havia começado na sede da Nasa, se espalhou por quase todos os Estados Unidos. Uma guerra que havia começado com uma briga entre funcionários robôs e funcionários humanos estava tomando proporções cada vez maiores. Após muitas orações silenciosas, Sam aceitou que seu amado fosse ficar longe e lutar não apenas pelo país, mas pela vida humana.  Enquanto Matt e os outros médicos cuidavam dos seres humanos, técnicos em informática e engenheiros cuidavam dos robôs. Uma guerra que nunca havia sido imaginada, na qual Matt felizmente não foi atingido por nenhuma bomba ou tiro, mas foi atingido por diversos traumas emocionais, dentre eles a devastadora morte de seu melhor amigo, também médico, que foi brutalmente assassinado por um robô. A guerra, que terminou com uma trégua entre os inimigos, chegou ao fim depois de alguns meses. Mas a culpa por não ter conseguido salvar seu melhor amigo acompanhou Matt mesmo depois dali.

Vivenciar uma guerra, seja num campo de concentração ou sejam as batalhas que são travadas no dia a dia, deixa marcas profundas. Mas depois de passar um tempo com os pais, agora Matt esta de volta em seu lar, ele e Sam entenderam que uma guerra não se vence sozinho.

Com o tempo, Matt foi voltando a ser quem ele era antes de ir para a guerra. Ainda haviam dias em que ele ficava deprimido pelas lembranças vividas no campo, e noites em que era atormentado por pesadelos, mas com o tempo isso foi se tornando cada vez menos frequente. Com a terapia, orações silenciosas e o amor de sua esposa e filho, a cada dia que passava, Matt estava mais livre de seus traumas, e cada vez mais perto de voltar a ser o marido e pai que fora outrora.

O navio precisa voltar ao porto depois de velejar. Precisa ser consertado e ter algumas peças trocadas, para que se torne seguro outra vez. Mas então, é tempo de voltar ao mar.

Os dias passaram, Sam e Matt estavam felizes com sua rotina. Sam acordava pela manhã, fazia sua oração silenciosa, admirava o céu através de sua janela e tomava o café da manhã com Matt e João Calvino. Matt ia para o hospital, feliz por estar habilitado para trabalhar novamente, Sam deixava o filho na escola, ia para a escola na qual dava aula, saindo do trabalho, buscava o menino e iam para casa. A noite o pai chegava e a família terminava o dia unida e feliz. Foi assim por algumas semanas. Até o dia em que Sam foi buscar o pequeno João na escola, e alguém já havia o apanhado.

O coração de Sam disparou como nunca antes. Sam sabia que não era Matt que o havia buscado, pois a comunicação entre o casal era excelente, então ele não o faria sem antes avisá-la. Assim, ela ligou desesperada para todas as pessoas que imaginou que poderiam ter feito isso, já com o discurso de "você não poderia buscar meu filho sem me avisar" preparado. Mas para sua surpresa, nenhum familiar, amigo, ou irmão da igreja pôde ajudá-la. Quando de repente recebeu uma ligação.

-Só falta ser um número de São Paulo me ligando justo agora! - ela pensou, mas decidiu atender e antes mesmo que dissesse "alô", a voz do outro lado da linha começou a falar:

-Senhora Samantha, estou com algo do seu interesse comigo, e estou disposta a negociar pois você tem algo que me interessa. Eu te disse que iria viver minha vida, não disse?