Capítulo 0 [ A Origem Da Vida ]

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Capítulo Zero
A Origem Da Vida

O carmesim do céu, abrupto e ainda não vivido, cortado pelas pontas retas e perfeitas da areia, clara e suave, sem pegadas. A vida mal começara nos solos de um paraíso quase inóspito. Sim, quase! Pois ali, de joelhos afundando nos macios grãos, sentava o primeiro homem. Quase no limite de sua visão, a casca da primeira serpente gigante a reinar por essas terras arrastava sua podridão no horizonte, cercando aquela pequena caixa de areia que residia o homem, mas não só ele. Esculpida pelas nuvens, caminhava uma silhueta rítmica, que parecia rimar com todo o ambiente. Ela vinha em sua direção.

O homem, sem feições ou mesmo uma forma a qual qualquer um conhece, sentira os passos daquela logo a sua frente, com longos cabelos aos primeiros ventos. A areia desviava de seu caminho, não da mulher, mas da maça que ela jogou, rolando até bater contra o joelho do homem. O reflexo do céu e das estrelas tomava a superfície da fruta, reluzente. Esticando-se, vê a si mesmo, o homem. As formas cilíndricas, como dedos, envolveram o reflexo, erguendo-a até a altura de sua perspectiva, de sua visão.

Macia
Sente ele, no tato, atento
Como a areia
Como o próprio vento.
Escorre pelas beiradas
O reflexo se torna dourado
Deixando suas mãos lavadas
Em líquido tinha se tornado
Em morte, tinha virado

Como a primeira lamina vista acima dos céus, feita da maça, agora líquida e dourada, impulsionada por sua própria mão, finca o peito do homem, onde logo haveria o coração.

Mata-o, do paraíso, da origem.
Cria-o, no mundo, dá a vida.

- É o que está escrito. – Diz o homem, magro e de óculos quadrados, lendo a parede de símbolos estranhos para sua parceira, ao seu lado.

- Os egípcios não eram bons em poesia, né? – Diz a garota, de cabelos longos e grossos.

- Aposto que uma múmia vai puxar teu pé por esse comentário. – Continua, o garoto.

- Foi você que leu a maldição aí. – Retruca ela, virando-se para outra parede.

O garoto vira de volta para as escritas, abruptamente, esbugalhando os olhos e soltando um palavrão:

- @#$%! Desculpa, senhor deus egípcio, eu tenho total respeito, puxa o pé dela e não o meu! – Suplica ele para o nada.

A garota, Jhoana, apenas solta um ar de deboche, achando tudo vergonhoso e engraçado.

Do lado de fora da espécie de sarcófago, os cavalos aguardam sobre a areia bem amarela e brilhante, que cobre todo o horizonte, com céu azul claro, tomado pelo sol escaldante, testemunha daqueles que fuçavam coisas desconhecidas.

- E assim continuam sua busca pelo tesouro perdido.

- Quê? – Pergunta o garoto, Hector, confuso com o quê sua companheira havia dito repentinamente.

- Ah... Desculpa, eu costumo criar narrações na minha cabeça. Muito tempo livre no quartel – Explica ela.

O menino arqueia as sobrancelhas e diz:

- É como meu pai dizia: Maluco por maluco, todo mundo é um pouco. – Ele tem um estalo, vira rápido e as palavras explodem de sua boca: – ESPERA... VOCÊ FALOU TESOURO?

GOLDEN (OBYON-Livro3)Onde histórias criam vida. Descubra agora