Capítulo 2 [ Areias Infinitas ]

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As paredes escuras e rachadas se expandiam a cada passo, mostrando uma caverna cada vez maior. Hector pegara uma lanterna na mochila. Logo que a ligou, viu símbolos nas paredes. Todos eles pintados em vermelho. Silhuetas feitas com riscos bem arcaicos e rápidos, era difícil de encontrar alguma lógica neles. O caminho levou para uma espaço bem aberto com outras ramificações e alguns pilares escondidos nas paredes de areia. No teto, pequenos vãos traziam a luz do sol.

- Quatro caminhos, e agora? – Perguntou, Hector.

- Eu sempre chutei "C" nas provas. – Respondeu, Jhoana.

- Você não disse que reprovou duas vezes?

- Uma só, seu paspalhão. Confia em mim, tô sentindo a energia de tesouro vindo dali.

- Espera... É o único caminho com desenhos nas paredes. – Notou, ele.

- Demorou pra notar, hein?

Apressaram-se e entraram pela passagem, mais estreita que as de antes. Quanto mais a frente, mais pilares compunham as paredes. Os desenhos estavam mais apagados, a certo ponto só era possível ver riscos de unhas.

- Ei... Jhoana, se eu disser algo que está me aterrorizando, você vai me zoar? – Sussurrou, Hector.

- 101 por cento de certeza. A não ser que seja sobre esses riscos... – Disse Jhoana, sendo interrompida.

- Serem recentes... – Continuou ele. – Era isso mesmo. Será que mais alguém veio aqui... Ou ainda está aqui. – Hector estava mais branco que o normal e sentindo calafrios.

Começaram a ouvir som de areia caindo. Viram ao chegar no corredor, grandes ondas vindo do teto, grãos grossos e bem amarelos. A frente, um corrimão de pedra com uma placa quadrada com textos nela.

- Senhor tradutor! – Disse Jhoana, olhando para Hector.

- Ah... Sim... Vejamos. – Pegou seu caderno guia para traduzir.

Hector entendia a língua, mas não perfeitamente, ainda precisava de uma cola para algumas frases mais complexas.

Quando o primeiro homem morreu das nuvens e nasceu nas terras, experimentou todos os três elementos. Sua carne fora puída pela energia, sua mente alimentada pela natureza e seu coração dado corda pelo calor.

O que nenhum senhor dos céus poderá ver era que aquilo que o fincara, ele levou. A maça reluzente que se transformara em morte dourada continuava na palma de sua mão. A mulher, tentando salvar a vida dele, cortou o braço do homem. A maça caiu sobre a areia. Não satisfeita, a mulher cortou-a até que perdesse a cor dourada, voltando a ser vermelha. Quando terminou, os pedaços afundaram e assim foram perdidos para sempre.

- Eu não entendo direito. Estamos procurando esses pedaços? Eles são valiosos? – Questionou Hector, parando no meio da leitura.

Quando olhou para Jhoana, ela estava com os olhos lacrimejados, o que o assustou.

- Jhoana, o que foi?

Ela, sem responder, deu um chute na placa com os textos, quebrando-a. Os pedaços voaram a frente, caindo um andar abaixo de onde estavam. Então ela falou:

- Isso é inútil, nós estamos vendo o começo da história, sabe-se lá o que aconteceu desde então, precisamos saber o final!

Hector suspirou aliviado e pronto para fazer uma piada. Antes de falar, Jhoana antecedeu:

- É, usar um hack para chegarmos no final logo.

- E como vamos fazer isso? – Perguntou ele, decepcionado que sua piada havia sido roubada.

Ecoando na caverna, uma voz grossa os surpreendeu.

- Eu posso ajudar com isso.

Os dois se assustaram, olhando para cima, tentando identificar de onde vinha o som. A voz continuou:

- Vocês buscam as pedras da esperança, elas foram divididas em quatro partes e somente uma delas está por essas terras. O texto no final dessa caverna diz que ela foi escondida em uma pirâmide que só aparece aos que o sol não toca. Eu jamais pude desvendar isso, por tanto cabe a vocês agora. Boa sorte.

Hector, tremendo, logo perguntou:

- Jhoana, esse é o seu coronel que te falou do tesouro?

- Não. A voz dele é doce, essa voz é asquerosa. Não devemos confiar nesse homem. Conseguiu ver de onde veio? – Respondeu Jhoana.

Ao olhar em volta, viram bem no fundo da caverna, onde um pequeno feixe de luz do sol entrava, um movimento nas sombras. Desceram ao andar abaixo e correram, tentando alcançar o homem.

O caminho subia, algumas curvas e chegaram a um salão. Logo notaram ser o mesmo que já estavam antes, com os quatro caminhos, eles saíram pelo primeiro.

- Droga! Lá fora, vamos. – Disse Jhoana.

Voltaram pelo caminho que abriu antes e chegaram no lado de fora novamente.

Nada. Apenas os cavalos, aguardando-os. Nenhum sinal de alguém.

- Mas que @#$#@. – Disseram os dois juntos dessa vez.

Jhoana olhou a Hector, incrédula:

- @#$@#$, você tá me fazendo falar palavrão agora.

- E agora? Já estamos sem água e sem opções do que fazer. – Perguntou, Hector.

- Precisamos decifrar o que ele falou. – Disse, decidida, Jhoana.

- Eu preciso de um computador ou algo do tipo para isso. Aqui nem sinal existe. Devemos voltar?

- Não sei ainda... – Disse ela, mais baixo.

- Aliais, acho que já cansei disso, foi divertido, mas tudo isso tá parecendo bem mais perigoso do que eu esperava, não quero mais tesouro. – Hector se afastou.

Jhoana ficou preocupada e triste. Ela tentou explicar:

- Eu... Eu não posso parar... Preciso continuar.

- Por que? – Questionou ele.

Ela virou para o outro lado. Hector continuou:

- A gente se conhece desde a quinta série, você nunca foi assim. Por que não me conta as coisas agora?

- Eu preciso encontrar... O coronel me deu essa missão...

- Do que está falando? – Questionou ele, já preocupado.

- O nosso batalhão precisa de algo assim, encontrar algo valioso, se não for isso nem vão conseguir continuar existindo...

Hector ficou pasmo por alguns segundos. Então continuou:

- Mas... E daí? Se você não encontrar, vão fazer o quê, te expulsar?

- Eu... Eu quero encontrar. Vai... Vai ajudar todos os meus irmãos.

- Não se você morrer no meio do caminho! – Disse Hector, indignado. – Eu não acredito no que você diz, ainda tá me escondendo algo! Eu só... Quero saber, se você precisa tanto eu quero ajudar... Mas... – Ficou sem palavras para continuar.

- Vamos voltar. Desculpe ter te colocado nisso, eu vou continuar sozinha. – Concluiu ela, decidida.

Então subiu no cavalo e foi na direção dos postes no horizonte, para casa.

Hector seguiu depois, pensando sobre tudo aquilo.

GOLDEN (OBYON-Livro3)Onde histórias criam vida. Descubra agora