As paredes escuras e rachadas se expandiam a cada passo, mostrando uma caverna cada vez maior. Hector pegara uma lanterna na mochila. Logo que a ligou, viu símbolos nas paredes. Todos eles pintados em vermelho. Silhuetas feitas com riscos bem arcaicos e rápidos, era difícil de encontrar alguma lógica neles. O caminho levou para uma espaço bem aberto com outras ramificações e alguns pilares escondidos nas paredes de areia. No teto, pequenos vãos traziam a luz do sol.
- Quatro caminhos, e agora? – Perguntou, Hector.
- Eu sempre chutei "C" nas provas. – Respondeu, Jhoana.
- Você não disse que reprovou duas vezes?
- Uma só, seu paspalhão. Confia em mim, tô sentindo a energia de tesouro vindo dali.
- Espera... É o único caminho com desenhos nas paredes. – Notou, ele.
- Demorou pra notar, hein?
Apressaram-se e entraram pela passagem, mais estreita que as de antes. Quanto mais a frente, mais pilares compunham as paredes. Os desenhos estavam mais apagados, a certo ponto só era possível ver riscos de unhas.
- Ei... Jhoana, se eu disser algo que está me aterrorizando, você vai me zoar? – Sussurrou, Hector.
- 101 por cento de certeza. A não ser que seja sobre esses riscos... – Disse Jhoana, sendo interrompida.
- Serem recentes... – Continuou ele. – Era isso mesmo. Será que mais alguém veio aqui... Ou ainda está aqui. – Hector estava mais branco que o normal e sentindo calafrios.
Começaram a ouvir som de areia caindo. Viram ao chegar no corredor, grandes ondas vindo do teto, grãos grossos e bem amarelos. A frente, um corrimão de pedra com uma placa quadrada com textos nela.
- Senhor tradutor! – Disse Jhoana, olhando para Hector.
- Ah... Sim... Vejamos. – Pegou seu caderno guia para traduzir.
Hector entendia a língua, mas não perfeitamente, ainda precisava de uma cola para algumas frases mais complexas.
Quando o primeiro homem morreu das nuvens e nasceu nas terras, experimentou todos os três elementos. Sua carne fora puída pela energia, sua mente alimentada pela natureza e seu coração dado corda pelo calor.
O que nenhum senhor dos céus poderá ver era que aquilo que o fincara, ele levou. A maça reluzente que se transformara em morte dourada continuava na palma de sua mão. A mulher, tentando salvar a vida dele, cortou o braço do homem. A maça caiu sobre a areia. Não satisfeita, a mulher cortou-a até que perdesse a cor dourada, voltando a ser vermelha. Quando terminou, os pedaços afundaram e assim foram perdidos para sempre.
- Eu não entendo direito. Estamos procurando esses pedaços? Eles são valiosos? – Questionou Hector, parando no meio da leitura.
Quando olhou para Jhoana, ela estava com os olhos lacrimejados, o que o assustou.
- Jhoana, o que foi?
Ela, sem responder, deu um chute na placa com os textos, quebrando-a. Os pedaços voaram a frente, caindo um andar abaixo de onde estavam. Então ela falou:
- Isso é inútil, nós estamos vendo o começo da história, sabe-se lá o que aconteceu desde então, precisamos saber o final!
Hector suspirou aliviado e pronto para fazer uma piada. Antes de falar, Jhoana antecedeu:
- É, usar um hack para chegarmos no final logo.
- E como vamos fazer isso? – Perguntou ele, decepcionado que sua piada havia sido roubada.
Ecoando na caverna, uma voz grossa os surpreendeu.
- Eu posso ajudar com isso.
Os dois se assustaram, olhando para cima, tentando identificar de onde vinha o som. A voz continuou:
- Vocês buscam as pedras da esperança, elas foram divididas em quatro partes e somente uma delas está por essas terras. O texto no final dessa caverna diz que ela foi escondida em uma pirâmide que só aparece aos que o sol não toca. Eu jamais pude desvendar isso, por tanto cabe a vocês agora. Boa sorte.
Hector, tremendo, logo perguntou:
- Jhoana, esse é o seu coronel que te falou do tesouro?
- Não. A voz dele é doce, essa voz é asquerosa. Não devemos confiar nesse homem. Conseguiu ver de onde veio? – Respondeu Jhoana.
Ao olhar em volta, viram bem no fundo da caverna, onde um pequeno feixe de luz do sol entrava, um movimento nas sombras. Desceram ao andar abaixo e correram, tentando alcançar o homem.
O caminho subia, algumas curvas e chegaram a um salão. Logo notaram ser o mesmo que já estavam antes, com os quatro caminhos, eles saíram pelo primeiro.
- Droga! Lá fora, vamos. – Disse Jhoana.
Voltaram pelo caminho que abriu antes e chegaram no lado de fora novamente.
Nada. Apenas os cavalos, aguardando-os. Nenhum sinal de alguém.
- Mas que @#$#@. – Disseram os dois juntos dessa vez.
Jhoana olhou a Hector, incrédula:
- @#$@#$, você tá me fazendo falar palavrão agora.
- E agora? Já estamos sem água e sem opções do que fazer. – Perguntou, Hector.
- Precisamos decifrar o que ele falou. – Disse, decidida, Jhoana.
- Eu preciso de um computador ou algo do tipo para isso. Aqui nem sinal existe. Devemos voltar?
- Não sei ainda... – Disse ela, mais baixo.
- Aliais, acho que já cansei disso, foi divertido, mas tudo isso tá parecendo bem mais perigoso do que eu esperava, não quero mais tesouro. – Hector se afastou.
Jhoana ficou preocupada e triste. Ela tentou explicar:
- Eu... Eu não posso parar... Preciso continuar.
- Por que? – Questionou ele.
Ela virou para o outro lado. Hector continuou:
- A gente se conhece desde a quinta série, você nunca foi assim. Por que não me conta as coisas agora?
- Eu preciso encontrar... O coronel me deu essa missão...
- Do que está falando? – Questionou ele, já preocupado.
- O nosso batalhão precisa de algo assim, encontrar algo valioso, se não for isso nem vão conseguir continuar existindo...
Hector ficou pasmo por alguns segundos. Então continuou:
- Mas... E daí? Se você não encontrar, vão fazer o quê, te expulsar?
- Eu... Eu quero encontrar. Vai... Vai ajudar todos os meus irmãos.
- Não se você morrer no meio do caminho! – Disse Hector, indignado. – Eu não acredito no que você diz, ainda tá me escondendo algo! Eu só... Quero saber, se você precisa tanto eu quero ajudar... Mas... – Ficou sem palavras para continuar.
- Vamos voltar. Desculpe ter te colocado nisso, eu vou continuar sozinha. – Concluiu ela, decidida.
Então subiu no cavalo e foi na direção dos postes no horizonte, para casa.
Hector seguiu depois, pensando sobre tudo aquilo.
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GOLDEN (OBYON-Livro3)
AcciónGOLDEN é uma história de ação de temática mais voltada ao humor, sobre dois jovens exploradores que buscam um suposto tesouro no deserto. Nisso, acabam dando de cara com mistérios da origem da própria vida e mitologias que os parece surreal. Até enc...