Dalaran

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Thaynahra cruzou o grande salão circular violeta em passos decididos. A suavidade élfica de seus movimentos não produzia qualquer barulho do contato de suas botas com o piso lustroso. Seu manto azul esverdeado era de um veludo pesado e cobria todo o seu corpo, se arrastando à volta. Apenas o rosto era visível por baixo de um vasto capuz. Os olhos da elfa noturna brilhavam ferozmente. Seu semblante era indecifrável.

Diferente da angústia sentida em Auberdine, estar em Dalaran naquele momento a deixava irritada. Não pela cidade em si — adorava Dalaran, com seus telhados abobadados e suas muitas e elegantes torres violetas — mas por tudo o que representava, especialmente naquele amanhecer. Estar em Dalaran era respirar magia. E magia era o motivo de sua raiva.

O salão parecia não ter fim. As altas paredes de mármore branco conferiam um ar nobre à sede do Kirin Tor. Thaynahra e sua pequena comitiva seriam recebidos na Sala de Gelo, conforme informados assim que chegaram. Lá fora o dia amanhecia triste. A arquidruidesa, a única de Azeroth, estava ladeada por um casal de elfos noturnos, ambos misteriosamente cobertos por mantos. Poderia ter ido sozinha, ela sabia, mas tornar aquela visita em uma delegação tinha motivos políticos. E em se tratando de magos, sempre havia política. Tudo envolvia poder, seja ele qual fosse.

A Sala de Gelo, apesar do nome, era quase aconchegante. Parecia um pequeno pedaço de Invérnia recortado e transplantado para o Palácio Violeta. Era magia, claro. Os três elfos noturnos encontraram-se em uma clareira de neve assim que cruzaram a soleira para o que pensaram ser uma das muitas salas daquele edifício. Um sol tímido se escondia atrás de pesadas nuvens. A claridade pungente refletida em toda aquela imensidão branca não causou mais que quatro segundos de incômodo aos elfos.

Uma grande cadeira dourada de espaldar alto e estofado purpúreo se encontrava em meio a toda aquela neve. Discretamente, Thaynahra observou os flocos de neve caindo lentamente do céu. Não pareciam encostar na grande cadeira ou mesmo acumular sobre seu manto. Mágica. Como tudo ali. Por alguns instantes esquecera que estava apenas em uma sala no Palácio Violeta. Precisava manter sua concentração. Havia uma sensação de impotência angustiante. Sentia-se indefesa em um ambiente manipulado como aquele. Tencionou olhar para o vulto élfico em um manto verde água à sua direita em busca de segurança, mas jamais se permitiria. Afastou o capuz com determinação, deixando os cabelos azulados caírem em cascata sobre o manto e se confundindo com o mesmo.

— Sejam bem vindos, meus amigos — a voz masculina revelou a presença de um humano ruivo à frente da grande cadeira. Trajava uma túnica também purpúrea bordada em pura energia arcana com o olho do Kirin Tor.

Rhonin era um humano alto e robusto. Poderia ser confundido facilmente com um formidável guerreiro, caso não fosse conhecido em toda Azeroth. O cabelo, de um vermelho vivo, descia liso até os ombros e uma pequena barba ruiva parecia prolongar e afunilar seu rosto. Os olhos azuis eram astutos, perscrutava tudo e todos ininterruptamente. Era um homem belo, manifestando os primeiros traços de sua idade em vincos em volta dos olhos. Possuía um rosto feroz, mas seus gestos firmes e calculados atenuavam qualquer má impressão.

Era tal o nível de imersão dentro da câmara que os elfos noturnos não saberiam dizer se as cadeiras sempre estiveram atrás deles ou se materializaram há pouco. Cada uma delas era estofada com a exata cor do manto élfico que vestiam. "Até o lugar em que sentaremos é ordenado por eles", pensou Thaynahra. Apesar de belas, não se comparavam ao trono do líder do Kirin Tor, demarcando nitidamente a posição que a pequena delegação ocupava frente ao clã de magos mais poderoso de Azeroth.

— Por favor... vamos conversar.

A cordialidade no tom de Rhonin soou forçada à arquidruidesa e uma irritação ameaçou estremecê-la. Lembrava-se, contudo, que o mago era conhecido por ser direto e incisivo. Thaynahra puxou suavemente o manto e sentou-se em postura digna, o rosto ainda impassível. Sabia que era minuciosamente estudada pelo mago humano, não somente sua postura, mas também suas intenções. Feitiços poderosos estavam em efeito naquele lugar.

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